Em defesa dos auxílios e da permanência estudantil na UERJ
Nessa última semana, sofremos, mais uma vez, com os atrasos do pagamento dos auxílios na UERJ. Centenas de estudantes se viram sem conseguir ir à UERJ, sem conseguir pagar contas ou se alimentar. Infelizmente, não é a primeira vez que atrasos assim acontecem, no último semestre houve atraso do auxílio material didático, deixando vários estudantes novamente sem perspectivas. O atraso nos auxílios afeta diretamente os estudantes pobres, filhos de trabalhadores, que são aqueles que terão mais dificuldade em permanecer na nossa universidade.
É importante sempre ressaltar que os auxílios são direitos conquistados com muita luta e que é inaceitável que passemos por essas situações constantemente, deixando os estudantes sem saber como passarão o mês seguinte. Todos esse atraso e os diversos ataques que a UERJ segue sofrendo são parte da política do governo Cláudio Castro (PL), que segue a cartilha bolsonarista de ataques aos direitos, repressão e privatização. É extremamente contraditório ver que nossa universidade está nadando em casos de suspeitas desvio de verbas, que infelizmente são denunciados cotidianamente, em que projetos laranjas e concursos laranjas repassam R$ 30 mil a pessoas que não tem nenhuma relação com a universidade, e que estudantes fiquem com suas bolsas atrasadas. Chegou ao absurdo de recebermos denúncias que, inclusive, um dos policiais acusados de matar o pedreiro Amarildo (morador da Rocinha, assassinado e torturado pela PM em 2013) recebe dinheiro da UERJ.
Dessa forma, nós precisamos lutar pelo pagamento das bolsas da UERJ sem qualquer atraso. Mas, não apenas isso, é preciso que pautemos a permanência estudantil. Nossa luta é também pela ampliação das bolsas, pelo investimento público na UERJ, pela criação de creches, pelas cotas trans e, além disso, defendemos também a ampliação do bandejão para todos os campis, defendemos que caia o preço absurdo de R$ 14,25 no bandejão para estudantes com auxílio alimentação.
Tudo isso é parte de uma política de permanência, para que de fato os estudantes, especialmente mulheres, negros, LGBTQIA+s consigam se formar. Isso tudo, e tudo que já conquistamos, veio e virá com muita organização e luta. É importante que, nós, enquanto estudantes, saibamos disso, que tudo que conquistamos até agora foi parte de lutas importantíssimas travadas pelo movimento estudantil e pelos trabalhadores da UERJ. Devemos, inclusive, defender a UERJ contra qualquer forma de privatização e ingerência da extrema direita, que sempre ataca nossa universidade.
Sobre a política do DCE e a democracia no movimento estudantil
Frente aos atrasos das bolsas, o DCE (Diretório Central Estudantil), composto pelo Levante Popular da Juventude, JPT, Coletivo Mariguella e UJS, divulgou uma nota no Instagram exigindo o pagamento das bolsas. O DCE não organizou a luta dos estudantes para exigirmos o pagamento imediato de nossas bolsas. E por que fizeram isso (ou melhor, não fizeram)? Justamente porque o DCE possui relações políticas com a reitoria. Ou seja, o DCE, ao invés de ser uma ferramenta de impulsionar espaços democráticos estudantis, de impulsionar a luta pelos nossos direitos dentro da UERJ, é parte de uma correia de transmissão da reitoria. Isso não é de agora, toda política do DCE é de fazer notas no Instagram, e não de promover o debate entre os estudantes sobre suas demandas, fomentar a luta e o debate.
Para além disso, e o mais grave de tudo, é que estudantes localizaram no Portal da Transparência da UERJ, estudantes ligados ao DCE que recebem de R$ 4 a R$ 5 mil reais por mês da UERJ. Frente a isso, a política do DCE foi de fazer uma nota denunciando as pichações na sede do DCE (falaremos mais sobre esse episódio a frente), colocando que: “Com esse cenário de bárbarie imposta pela oposição de esquerda, construiu-se um linchamento público sem fundamentos legais, aproveitando a justa indignação dos estudantes devido aos atrasos, para atacar individualmente alguns que trabalham em projetos de extensão da própria UERJ”. Além disso, utilizam, na nota, de maneira extremamente oportunista, o suicídio do reitor da UFSC. Essa é a resposta de um DCE que está ao lado dos estudantes? O mínimo que deveria ter nessa nota é uma explicação com transparência aos estudantes sobre o que está acontecendo, tendo em vista que centenas ficaram sem as bolsas permanência. É evidente, e muito justa, a revolta do pessoal frente a isso. Além disso, é evidente que os estudantes possam relacionar a falta de mobilização e ação do DCE frente a todo esse dinheiro que ganham por mês. É aquele velho ditado: quem paga a banda escolhe a música. É preciso ser consequente com tudo, por isso, é necessária transparência imediata de tudo que envolve o DCE, seus membros e relações com a UERJ.
Para além disso, queremos fazer uma pergunta aos estudantes: frente a todo atraso nas bolsas, frente a todas as denúncias que vem recebendo a UERJ, as ameaças inúmeras de privatização, qual é o DCE e o Movimento Estudantil que precisamos? É um movimento que abarque mais estudantes na luta, ou menos? Que fomente mais nossa organização ou menos? Na nossa opinião, precisamos do movimento estudantil com mais gente participando, mais opiniões e mais espaços democráticos, que não tenha rabo preso com a reitoria, e dessa forma, possa levar a fundo e de maneira consequente a nossa luta dentro da universidade.
Hoje, é o oposto do que acontece na UERJ e o resultado disso são os constantes ataques aos nossos direitos, por isso, precisamos batalhar para que consigamos fortalecer um movimento estudantil democrático, independente da reitoria e de qualquer governo, combativo e que tenha espaço em que os estudantes possam colocar suas demandas e organizar suas lutas, como assembleias, fóruns, comitês.
Quais são os métodos do Movimento Estudantil?
Na terça-feira (12/09), frente ao atraso de bolsas, foi organizado um ato no Hall do Queijo, composto por forças de oposição e estudantes de diversos cursos. Foi um ato muito importante de ter sido realizado, que mobilizou muitos estudantes. Neste ato foi votado se haveria ou não ocupação à sede da reitoria e do DCE, e pela decisão da maioria, a ocupação não ganhou, mas sim a extensão do ato fechando a rua da UERJ (foi quando houve gás lacrimogêneo e demais repressões policiais). No ato, o encaminhamento tirado foi uma assembleia para o dia seguinte. Isso foi uma vitória importante, porque não temos uma assembleia estudantil na UERJ desde 2018, e as assembleias são os principais espaços de deliberação do movimento estudantil, onde todos estudantes podem falar e todas as propostas serão votadas. É por isso que reivindicamos a assembleia, e achamos que esse é o tipo de espaço que precisamos na UERJ com mais constância, para que organizemos nossas lutas e que mais estudantes participem.
Na quarta-feira (13/09), ao final da assembleia, um grupo de estudantes propôs novamente a ocupação da reitoria e, logo após a ocupação do DCE, essa proposta novamente perdeu a votação. Nesse momento, passando por cima da decisão da assembleia, houveram vaias, desrespeito à decisão feita democraticamente e abandono da assembleia. Um grupo de estudantes se dirigiu ao DCE e realizou as pichações. Nós achamos que essa ação não foi correta, justamente porque a assembleia havia acabado de votar outra proposta. Dessa forma, essa ação desrespeitou a decisão da base estudantil presente na assembleia. Achamos que esse método também não ajuda a construir o movimento, queremos ter mais estudantes conosco, e ações de grupos que passam por cima das decisões coletivas não ajudam a chegarmos a esse objetivo. Isso não significa ser contrário aos métodos radicalizados no movimento estudantil, que em muitos momentos são extremamente importantes, como ocupações, trancamentos de ruas etc, mas isso não pode ser feito de maneira isolada e antidemocrática, pois acaba mais afastando as pessoas do que atraindo para a lutar.
E agora? O que fazer?
Estamos frente a muitos desafios na UERJ. Nosso maior desafio agora é garantir o pagamento das bolsas todo mês. Mas, precisamos aprofundar a nossa luta pela permanência estudantil dentro da UERJ. Não podemos aceitar que todo mês passemos por essa ansiedade e desespero. Por isso, essa luta pelos auxílios é combinada com uma luta mais ampla pela permanência estudantil, contra qualquer forma de ataque e privatização da UERJ, contra qualquer ingerência ideológica da direita e do governo.
É preciso também lutarmos pela transparência sobre os casos de desvios de verbas da UERJ e que os corruptos e corruptores sejam punidos, bem como a abertura do livro de contas da uerj, em relação à contratação de professores e estudantes. Em relação ao DCE, é preciso imediata elucidação e explicação sobre os casos que envolvem membros da gestão. Para tudo isso, precisamos transformar o M.E da UERJ. É necessário construir um movimento estudantil uerjiano onde de fato seja possível a participação estudantil (que não se resume apenas em votar nas eleições), por isso lutemos por espaços democráticos dentro da UERJ, em que todos possam falar e que seja respeitada a democracia de base, lutemos pela total separação do movimento estudantil, ou seja, do interesse dos estudantes, com a reitoria. Só assim conseguiremos avançar dentro da UERJ. O Rebeldia, enquanto coletivo, se coloca junto a disposição para que construamos isso juntos.