Internacional

Eleições nos Estados Unidos: Não há opções para os trabalhadores

Workers’ Voice

11 de julho de 2024
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John Leslie, do “Workers’ Voice/La Voz de los Trabajadores” (EUA)

As eleições de 2024 nos Estados Unidos (EUA) não oferecem opções reais para a classe trabalhadora. Temos o genocida Joe Biden contra o mentiroso, racista e reacionário Donald Trump. Mesmo antes do seu fraco desempenho no debate presidencial, em 27 de junho, Biden parecia preparado para perder. No debate, Biden teve dificuldades com suas respostas, reforçando as preocupações sobre se ele poderá assumir o cargo.

Na verdade, após o debate, o pânico se espalhou nos círculos da classe dominante e na liderança do Partido Democrata. O editorial do jornal “The New York Times”, publicado no dia seguinte, dizia que o presidente deveria renunciar e abrir caminho para alguém mais capaz de ocupar o cargo. A “CNN”, rede que organizou o debate, sintetizou a situação desta forma: “Se Joe Biden perder as eleições, a História registrará que dez minutos foram suficientes para destruir uma Presidência”.

Mas alguns dos apoiadores de Biden, com a vice-presidente Kamala Harris, passaram a defender o desempenho de Biden. Harris afirmou que, apesar de um “início lento”, Biden apresentou um “contraste muito evidente com Donald Trump em todas as questões que são importantes para o povo norte-americano”. Enganar assim o eleitorado, lembra uma piada do ator e comediante Richard Pryor: “Em quem você vai acreditar? Em mim ou nos seus olhos mentirosos?”

Biden não é alternativa

Biden passou sua carreira a serviço de Wall Street [o coração do mercado financeiro norte-americano] e não é amigo dos trabalhadores. Ele deu continuidade às reacionárias políticas de imigração do Partido Republicano, apesar deste o acusar de manter a fronteira “aberta”. Isto ao ponto de um funcionário do governo Biden chegar até a se vangloriar de ter deportado “mais indivíduos do que em qualquer ano, desde 2015”.

Biden provou ser incapaz de responder às preocupações da classe trabalhadora com a inflação e ele e seu partido redobraram o apoio ao Estado de apartheid de Israel. No dia do debate, um grupo de 62 Democratas no Congresso votou, juntamente com o Partido Republicano, para ocultar o número de mortos em Gaza, impedindo o Departamento de Estado de citar estatísticas do Ministério da Saúde de Gaza.

Os democratas, liderados por Biden, enganaram e traíram os interesses dos trabalhadores ferroviários em negociações sindicais sobre contrato de trabalho. Depois de se manifestarem a favor do direito dos ferroviários, que defendiam um contrato decente, os supostos “Democratas de esquerda” votaram para impor um acordo apresentado pela liderança do Partido Democrata. Assim, deixaram evidente a contradição entre as suas palavras de apoio e as suas ações.

Ultradireita

Biden merece perder. Mas Trump merece vencer?

A retórica da campanha de Trump é violenta, especialmente quando ataca os imigrantes por “envenenar o sangue do nosso país”. Para Trump, os trabalhadores imigrantes são criminosos, estupradores e assassinos, que roubam os empregos dos “verdadeiros” norte-americanos.

Durante o debate, Trump repetiu o tema da “grande teoria da substituição”, típica da supremacia branca, que afirma que as “elites” (muitas vezes judaicas) estão substituindo trabalhadores norte-americanos por imigrantes da América Latina.

As ideias nacionalistas brancas, que anteriormente apenas inspiravam milícias violentas e grupos neonazistas, passaram a se integrar na principal corrente política do Partido Republicano. O próprio Trump fez apelos à extrema direita nas suas campanhas.

Trump também prometeu “erradicar os comunistas, marxistas, fascistas e bandidos da esquerda radical, que vivem como vermes dentro dos limites do nosso país”. Ele também prometeu um “banho de sangue” se não vencer as eleições de 2024.

Decisão da Suprema Corte ajuda Trump

Durante o governo Trump, as nomeações para a Suprema Corte e para os tribunais federais provocaram uma forte guinada à direita no judiciário. No poder, Trump significou um ataque aos direitos reprodutivos e das LGBTQIs, ao meio ambiente e ao direito de voto. 

E, em 1° de julho, a Suprema Corte protegeu parcialmente Trump contra o processo e a prisão, pelo seu papel em 6 de janeiro de 2022 [quando os manifestantes destruíram a área de proteção e saquearam o Capitólio dos EUA, com o objetivo de impedir a certificação da eleição de Joe Biden]. Tal decisão torna os presidentes dos EUA imunes a processos por atos potencialmente ilegais realizados no exercício das suas funções “oficiais”.

Projeto de Trump para 2025

Em nível institucional, uma nova administração Trump seria mais eficaz nos seus ataques contra a classe trabalhadora e os setores oprimidos. O “Projeto 2025”, um plano de governo detalhado em 900 páginas, estabelece um programa que colocaria praticamente toda a burocracia federal sob controle presidencial. Caso implementado, eliminaria departamentos inteiros e focaria nos funcionários federais, que atualmente estão protegidos pelas regras do serviço público. Os cargos federais seriam preenchidos por nomeações políticas, concedidas aos apoiadores leais de Trump.

O projeto também prevê “acabar com a guerra ao petróleo e ao gás natural”, cortando o financiamento para projetos de energias renováveis. O programa também reforçaria medidas anti-imigração, com a construção de um muro na fronteira com o México.

Mais de 100 organizações de direita participam do “Projeto 2025”, que representa uma abordagem muito mais ampla. Como foi explicado por Kevin D. Roberts, diretor da “The Heritage Foundation” [organização da direita conservadora que auxiliou na formulação dos planos neoliberais de Ronald Reagan], as quatro “grandes frentes que decidirão o futuro dos Estados Unidos” seriam as seguintes:

“1) Restaurar a família como centro da vida norte-americana e proteger nossos filhos; 2) Desmantelar o Estado administrativo e devolver o autogoverno ao povo norte-americano; 3) Defender a soberania, as fronteiras e a generosidade da nossa nação, face às ameaças globais; 4) Garantir os direitos individuais, que Deus nos concedeu, de viver livremente, o que a nossa Constituição chama de ‘as Bênçãos da Liberdade’”.

Roberts afirma, ainda, que “a inflação está provocando estragos nos orçamentos familiares, as mortes por overdose de drogas continuam aumentando e as crianças sofrem com a normalização tóxica do transgenerismo, com drag queens e pornografia invadindo as bibliotecas escolares”.

‘Mal menor’ não nos salvará

Capitalismo é incapaz de solucionar suas crises

Proud Boys, organização fascista que apoia Trump

O crescimento da extrema direita é um sintoma da crise do capitalismo, da incapacidade da burguesia e da subordinação da esquerda reformista. Nenhum dos partidos capitalistas tem soluções para as múltiplas crises do capitalismo. Por isso, inventam guerras culturais e fabricam a indignação.

Uma parte da classe dominante está impaciente com a democracia burguesa, que, na verdade, é um disfarce para a ditadura da classe capitalista. Entretanto, os chamados defensores da democracia burguesa, ao mesmo tempo que denunciam Trump como uma ameaça às suas normas “democráticas”, dirigiram ataques contra aqueles que apoiam a libertação Palestina. 

Longe de defender os direitos e as liberdades democráticas, como o direito de protestar ou a liberdade de expressão, os Democratas, incluindo Biden, juntaram-se ao coro que difama os palestinos e seus apoiadores como “antissemitas” e “apoiadores do Hamas”.

As eleições não são o melhor caminho para derrotar o avanço da direita. A direita está realizando um duplo ataque, dentro e fora do Partido Republicano. Grupos de extrema direita, como os “Proud Boys” [“Garotos Orgulhosos”] ou o “Patriot Front” [“Frente Patriota”] dizem ser pró-trabalhadores e disputam sua consciência. Mas, na realidade, representam uma agenda política que procura derrotar decisivamente a classe trabalhadora e os oprimidos. 

Para derrotar a direita, é preciso a mobilização massiva de todos os oprimidos e explorados, independentemente dos partidos e dos patrões. As alianças eleitorais com os capitalistas e a opção pelo “mal menor” não nos salvarão da extrema direita.

Os reformistas tentarão canalizar a energia dos movimentos populares para o Partido Democrata. As campanhas de Bernie Sanders, em 2016 e 2020, foram exemplos deste tipo de política e da desorientação da esquerda. Os reformistas usaram as campanhas de Bernie para desviar a revolta contra o regime para as águas calmas do Partido Democrata. Em vez de romper com os Democratas e construir um novo partido da classe trabalhadora, a burocracia sindical, as ONGs e os reformistas se subordinaram às promessas defendidas por um dos dois maiores partidos de Wall Street.

‘Entre a cólera e a peste, não há escolha’

Por um partido da classe trabalhadora

Rejeitamos totalmente Biden e Trump. Ambos são inimigos da classe trabalhadora e dos oprimidos. “Entre a cólera e a peste, não há escolha”, já dizia Jules Guesde, um socialista francês do século 19.

As soluções residem na nossa capacidade de construir movimentos democráticos de massas contra os patrões e independentes de ambos os partidos burgueses. O nosso futuro depende da ação da classe trabalhadora e dos oprimidos, não dos políticos ou dos tribunais.

Nestas eleições, é possível registar um voto de protesto nos candidatos socialistas independentes, romper com os Democratas e iniciar o árduo trabalho de construção de uma alternativa da classe trabalhadora digna desse nome.

Os trabalhadores e os oprimidos precisam do seu próprio partido. Este partido deve se basear numa concreta ruptura com os Democratas, sem se adaptar ao mal menor. Tal partido lutaria pelos interesses dos oprimidos e explorados, nas urnas e nas ruas. Em última análise, a verdadeira transformação social não passará pelas eleições, mas por meio da mobilização e organização independentes da classe trabalhadora e dos seus aliados.