Editorial: Banqueiros ganham juros e “arcabouço fiscal” às custas de desemprego e pilhagem do país
Bolsonaro estava prestes a voltar ao Brasil quando fechávamos esta edição. Não por acaso, a data escolhida foi a véspera do aniversário do golpe militar, da ditadura. Ele retorna ainda em meio aos escândalos das joias recebidas de “presente” pelo governo da Arábia Saudita.
Já por aqui, o governo Lula reclama dos juros altos do Banco Central, enquanto prepara um “arcabouço fiscal” para ser aprovado no Congresso Nacional, garantindo a banqueiros e capitalistas que o governo, antes de mais nada, vai priorizar os seus lucros e juros, em detrimento da soberania do país, do emprego, do salário, do social.
Enquanto isso, assistimos a cada dia novas denúncias de trabalho escravo país afora. Ao mesmo tempo, milhões de trabalhadores de aplicativos sobrevivem diariamente no fio da navalha, sem qualquer direito.
Já quem tem carteira assinada, sofre com os baixos salários, a insegurança dos próprios empregos, perante a ameaça de uma recessão mundial e de uma economia estagnada e em crise no país. As grandes empresas distribuem dividendos bilionários e remetem lucros para o exterior.
Já as privatizações continuam, como no metrô de Belo Horizonte, sem que o governo Lula faça nada para impedi-las. E o país segue cada dia mais subalterno. A Avibrás, empresa do setor de Defesa que tem sua venda negociada a estrangeiros, o que ameaça não só os 1,4 mil postos de trabalho, mas um dos poucos setores de ponta que resta num país cada vez mais submisso às multinacionais e aos países ricos.
É preciso enfrentar os capitalistas, mas também essa política econômica
O governo Lula-Alckmin, por sua vez, não mostra disposição de ir a fundo no enfrentamento de questões como o emprego, a renda, os direitos, a terra, etc. A reclamação sobre os altos juros é justa, mas não basta, é preciso mais, enfrentar os banqueiros.
A chamada independência do Banco Central é a forma de torná-lo dependente dos banqueiros de forma absoluta. Por isso, o governo deveria realmente acabar com essa farsa. Mas a dependência dos banqueiros, ainda que mais relativa, continua existindo, mesmo sem isso. Pois toda política econômica é dependente deles. Infelizmente, o governo Lula não rompe com isso.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, deve apresentar nos próximos dias o chamado novo “arcabouço fiscal”, que nada mais é que um dispositivo para substituir o teto de gastos. Resumindo, é manter a prioridade do pagamento dos juros da dívida aos banqueiros, ao invés de se investir nos serviços públicos, na geração de empregos e renda à maioria do povo. Já a reforma tributária, da mesma forma, apenas simplifica um sistema tributário que onera os mais pobres, enquanto garante isenção aos superricos.
Se os banqueiros têm a garantia de continuar enchendo os bolsos às custas dos trabalhadores e da pilhagem do país, esses, a depender do governo, vão continuar sofrendo com o desemprego e o trabalho cada vez mais precarizado. A reforma trabalhista, e também da Previdência, que causaram ainda mais desemprego e um verdadeiro extermínio de postos de trabalho e direitos, permanecem sob o beneplácito do governo e dos patrões.
Os trabalhadores tem que lutar com independência do governo
A classe trabalhadora precisa se organizar e lutar, não só pela redução dos juros, mas por emprego a todos, com carteira assinada e plenos direitos. Para isso, é necessário reduzir a jornada para 30h, para que todos que precisam possam trabalhar. E se ainda houver desemprego, que se reduza mais. E enquanto isso, garantir um salário mínimo a todos os desempregos ou subempregados.
Não vai ser possível lutar pelas reivindicações dos trabalhadores se as suas organizações estiverem atreladas ao governo e à burguesia. Por isso, a classe precisa exigir que as suas entidades, sindicatos, movimentos, sejam independentes dos governos e dos patrões. A classe trabalhadora não pode ter nenhuma confiança no governo Lula-Alckmin, que governa com e para as grandes empresas, os banqueiros, grandes ruralistas e multinacionais.
Um programa dos trabalhadores
Ao invés de um salário mínimo que mal compra duas cestas básicas, defendemos a duplicação do salário mínimo, rumo ao salário mínimo do Dieese, que em fevereiro era de R$ 6.547,58. Neste mesmo sentido, precisamos lutar também pela revogação integral das reformas trabalhista e previdenciária. Para fazer isso, vai ser preciso enfrentar os bilionários, as multinacionais, os banqueiros, o grande agronegócio e o imperialismo. É necessário acabar com a autonomia do BC, e suspender a dívida aos banqueiros e grandes especuladores. Taxar progressivamente o lucro das grandes empresas e as grandes fortunas. E estatizar os bancos, conformando um banco público que possa, entre outras coisas, garantir crédito aos trabalhadores e às pequenas empresas.
Para mudar de fato esse país, é necessário romper com a dominação imperialista, parar as privatizações e retomar, sob controle dos trabalhadores, todas as empresas privatizadas.
É necessário lutar por um programa dos trabalhadores e avançar numa alternativa revolucionária e socialista, que defenda um governo socialista dos trabalhadores, apoiado nos conselhos populares.