Editorial

Diante de uma esquerda “da ordem”, e contra a ultradireita, construir uma oposição de esquerda revolucionária e socialista

Redação

31 de outubro de 2024
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Foto Sergio Koei

Passadas as eleições, o governo Lula prepara um verdadeiro pacote de maldades contra a classe trabalhadora e a população mais pobre. É um aprofundamento da política neoliberal que o governo vem implementando, a fim de viabilizar seu Arcabouço Fiscal e continuar beneficiando os bilionários capitalistas.

Essa política econômica é uma consequência do projeto do PT de se colocar como um gerente do caos, em meio à crise e à decadência capitalista, governando junto com a direita e, inclusive, setores da ultradireita. Algo que foi determinante para que o partido sofresse uma fragorosa derrota eleitoral e política nas cidades.

O que vimos nestas eleições deveria reforçar, ainda mais, a necessidade de se organizar uma oposição de esquerda e socialista ao governo Lula e a todos os demais governos. Única forma de organizar a classe trabalhadora e os setores mais empobrecidos para lutar contra, e derrotar, o Arcabouço Fiscal, os cortes e, também, impedir que a ultradireita continue capitalizando o desgaste do governo. Mas, desgraçadamente, não é assim que pensam os setores majoritários da esquerda.

O espantalho dos defensores do governo contra a oposição de esquerda

Diante das eleições, muitos dizem que o problema da esquerda foi que ela “não ousou dizer seu nome”, como afirmou Roberto Robaina, da corrente Movimento Esquerda Socialista (MES), do PSOL. Ou, ainda, que “Boulos não foi Boulos”, como disse o professor Vladimir Safatle.

Estas são respostas simplórias e curiosas. O MES, de Robaina, foi artífice da candidatura da Maria do Rosário (PT), em Porto Alegre (RS). Safatle dá entrevistas em defesa da oposição de esquerda ao governo Lula, mas não apoiou (e nem sequer diz que existiu) uma candidatura de oposição de esquerda nesta eleição, ainda que minoritária, como a do PSTU.

O problema é justamente o contrário. Boulos tem sido Boulos, assim como Lula tem sido Lula. Ambos nunca tiveram compromisso em derrotar o capitalismo. Exigir isso deles é exigir que sejam o que nunca foram.

Adaptação à ordem capitalista levou à derrota política

Outros setores ainda criticam o PSTU por afirmarmos que o problema é a adaptação do PT à ordem capitalista. Afirmam que não haveria como ganhar a eleição sem ir ao “centro” e aos eleitores moderados. Ou, ainda, sem buscar apoio de uma Frente Ampla. Na verdade, setores do PT defendem um giro à direita ainda maior, aprofundando sua adaptação e desserviço para a esquerda e os trabalhadores.

O que não conseguem ver é que o debate não se limita à correlação de forças eleitoral. Às vezes, pode haver uma derrota eleitoral e uma vitória política. Por exemplo, quando Lula perdeu em 1989, o PT saiu com moral alta e uma vitória política. Aquela eleição serviu para acumular forças. Esta eleição atual serviu para que? Esta nova derrota do PT vai muito além do resultado eleitoral. É uma derrota política. Isto é central.

Partido da ordem e do sistema

Do que adianta fazer governos com a burguesia, acordos com a direita, para governar como a direita, para, supostamente, evitar que a direita assuma?

O PT é cada vez mais visto como um partido do sistema. Ao longo das últimas décadas, foram os principais expoentes do individualismo, da meritocracia e de expectativas de melhoria de vida no capitalismo; perspectivas que, hoje, são aprofundadas pela ultradireita e dão base para que parte dos trabalhadores vote na direita.

Bastaria trabalhar, estudar e votar no PT e, governando para todos, Lula resolveria os problemas do país. Mas, a realidade é teimosa. E, ao escolher ser um mero administrador dos negócios capitalistas, o que o PT entrega é diferente do que promete. E, assim, leva à desmoralização dos trabalhadores organizados e à perda de popularidade, abrindo espaço para a direita.

Ao adotar, cada vez mais, o discurso da direita ao longo das décadas e fazer governos que agradam os bilionários capitalistas, o PT não tem nada a oferecer aos trabalhadores e o povo pobre. E, por isso, estão em uma espiral decadente permanente. A cada nova derrota eleitoral, o partido vai mais à direita, se torna mais de centro e perde ainda mais apoio.

Por isso, é preciso ser oposição de esquerda, revolucionária e socialista. Junto com isso, é necessário elaborar e apresentar um programa socialista e revolucionário, que ganhe os trabalhadores para que a saída dos problemas que enfrentamos não se dará por dentro do capitalismo; mas, sim, lutando e derrotando os interesses dos bilionários capitalistas.

Não se trata de simplificar a realidade, ou dizer que bastaria ir à esquerda nesta eleição para ganhar nas urnas. Há que se pensar para além deste jogo eleitoral da democracia burguesa, que, sabemos, é onde o poder econômico e os capitalistas controlam tudo.

É preciso usar a eleição para ajudar a construir um projeto revolucionário para mudar o sistema capitalista e essa democracia dos ricos. Mudança que não virá através de eleições.

Alternativa revolucionária e socialista

As eleições são sempre uma expressão distorcida da realidade. E as divisões reais existentes na sociedade são entre classes sociais e frações de classe (uma mesma classe pode e, invariavelmente, tem diversas posições políticas).

Os termos “esquerda” ou “direita” nunca são muito precisos. Quando a imprensa fala de esquerda, centro esquerda, centro, direita etc., está, em geral, falando de posições políticas no interior da própria burguesia. Isso fica ainda mais confuso porque partidos que nasceram da classe trabalhadora, como PT e PSOL, hoje atuam, representam e jogam em times da burguesia, como ala esquerda, entendida como o setor preocupado com o “social” e com a salvaguarda da democracia burguesa.

Sem construir uma alternativa socialista e revolucionária, em oposição de esquerda aos governos do PT, superando Lula e a seu projeto de aliança com a burguesia, não sairemos desse engodo de vermos diversas facetas da direita surgindo e se fortalecendo e os trabalhadores e trabalhadoras sem uma alternativa política à altura desta batalha, enquanto que o governo Lula segue docilmente aplicando a política dos bilionários capitalistas.

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