Opinião Socialista

“Dá-lhe peão! Tem um partido pra fazer revolução”

Redação

6 de junho de 2024
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Manifestação exigindo fora Bush do Iraque e as tropas brasileiras do Haiti

Os gritos que encerraram o congresso de fundação do PSTU, de 3 a 5 de junho de 1994 na capital paulista, expressavam a cara e os objetivos da nova organização que nascia. Foi o desfecho que se iniciou dois anos antes, quando várias organizações revolucionárias se juntaram para construir um partido revolucionário no Brasil, diante da falência do PT enquanto instrumento de organização e mobilização da classe.

A principal corrente dessa frente, a Convergência Socialista, havia sido expulsa do PT em 1992, por defender o “Fora Collor”, num momento em que a direção majoritária deste partido era contrária a essa palavra de ordem. Ou seja, fruto de sua adaptação à institucionalidade, e ao jogo eleitoral, assim como os acordos com setores cada vez mais amplos da própria burguesia, a direção do PT defendia a política de desgastar Collor para capitalizar eleitoralmente.

O então secretário-geral do PT, José Dirceu, explicou essa posição no próprio jornal da CS: “Uma das duas: ou se trata de uma bandeira para agitação ou propaganda, ou na verdade encobre a tática da CS de propor ao PT derrubar o governo Collor, expressa na palavra-de-ordem ‘Fora Collor’. Estou contra que o PT assuma essa tática e se misture a setores da direita contra o governo, e pior, que o PT se isole na sociedade e no Congresso Nacional“.

Qualquer semelhança com argumentos parecidos em conjunturas recentes não se tratam de mera coincidência. Fato é que a Convergência Socialista não poderia, e não se submeteu, a uma política que, na prática, significava uma traição à classe trabalhadora, massacrada por um governo corrupto que confiscou a poupança da população, avançou nas privatizações e iniciou uma abertura econômica indiscriminada, prenunciando um processo de subordinação recolonizadora que daria um salto nos anos, e governos seguintes.

Convergência Socialista não se submete à direção do PT e vai às ruas pelo Fora Collor

Falência do PT

A CS foi parte da formação do PT. A proposta da formação do PT foi apresentada pela primeira vez em uma resolução defendida por Zé Maria, então delegado pelo Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André, no congresso metalúrgico de Lins, em 1979. Naquele momento, o PT cumpria um papel muito progressivo, impulsionando a organização política independente da classe trabalhadora, assim como a CUT fazia em nível sindical, contra as propostas do PCdoB, PCB e outros setores advindos do stalinismo, que defendiam que os trabalhadores estivessem na “frente democrática” junto com o MDB e com os pelegos no movimento sindical.

Esse papel, no entanto, se inverteu com o processo de adaptação, burocratização e a consolidação de uma política de aliança de classes. Agora, o PT não promovia mais lutas, mas as limitava para canalizá-las para a via das eleições burguesas. Essa guinada entrou em rota de colisão com as correntes e grupos revolucionários que atuavam dentro do partido. Alguns aceitaram se adaptar. Outros, não.

Junto a outras correntes, a Convergência Socialista havia constituído uma Frente Revolucionária a fim de concretizar uma alternativa socialista e revolucionária à classe trabalhadora brasileira, o que viria a desembocar na formação do PSTU.

Já de cara, o PSTU esteve na vanguarda junto às lutas da classe, da juventude, dos povos da floresta, como na heróica greve dos petroleiros de 95, ou na marcha junto com os povos indígenas e sem terras nos 500 anos de colonização, nas lutas e enfrentamentos contra as privatizações do governo FHC, na campanha contra a Alca, no plebiscito da Dívida Externa e nas diversas lutas que atravessaram o governo Itamar e FHC.

 

Governos de conciliação

A dura travessia dos governos do PT, mantendo um projeto socialista

Se a ruptura com o PT havia sido uma dura prova, a longa travessia pelos 13 anos de governos petistas, passando pelos dois mandatos de Lula, e o duplo mandato inacabado de Dilma, constituiu uma verdadeira prova de fogo para uma então jovem organização revolucionária.

Logo de início, o PSTU se colocou como oposição de esquerda ao governo que acabara de receber a chancela do então presidente norte-americano George W. Bush e, com a Carta aos Brasileiros, já havia sinalizado que manteria uma política econômica neoliberal. E foi ao lado dos trabalhadores que o PSTU enfrentou os primeiros ataques do governo de conciliação, como a reforma da Previdência no setor público em 2003, assim como a política de ajuste fiscal comandada pelo então ministro da Fazenda, Antonio Palocci.

Agora, porém, se as direções sindicais se limitavam a controlar as lutas, passaram, com a CUT à frente, a ser ponto de apoio aos ataques e toda a política neoliberal imposta pelo governo. E foi justamente no bojo desse processo, especialmente no enfrentamento contra a reforma neoliberal da Previdência de Lula, em meio a grandes greves dos servidores federais, que o PSTU se lança na construção de uma alternativa sindical e popular de organização e mobilização que viria a constituir a Conlutas, posteriormente CSP-Conlutas. Uma organização com a proposta inédita no país de reunir entidades sindicais, mas também movimentos e organizações do movimento popular e de luta contra as opressões.

Embora minoritária, a CSP-Conlutas foi uma voz dissonante e sobretudo um ponto de apoio para as lutas e sua unificação diante da capitulação da totalidade do movimento aos governos do PT e seus ataques. Um exemplo emblemático foi a CSP Conlutas e os operários da construção civil de Belém do Pará junto com os movimentos indígenas do Xingu, contra as barbaridades na construção da usina de Belo Monte. Ou já em 2013, a resistência histórica e o enfrentamento do Pinheirinho contra as tropas da PM de Alckmin.

Congresso de Fundação da CSP-Conlutas Foto Sérgio Koei

O PSTU foi ainda uma das poucas organizações de esquerda a denunciar o nefasto papel cumprido pelo governo Lula na ocupação militar do Haiti, a mando de Washington.

Coerência que se manteve nos governos Dilma, no de seu vice, Michel Temer, e no duro enfrentamento ao governo Bolsonaro. As bandeiras vermelhas do PSTU continuaram tremulando no lado certo da história, nadando contra a corrente e resistindo à capitulação aos governos e ao aparato do Estado que tomou a quase totalidade da então esquerda socialista.

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‘Crise e queda dos governos de colaboração de classe e o ascenso da ultradireita’

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Pela construção de uma oposição de esquerda, socialista e revolucionária

Trinta anos se passaram, enquanto a quase totalidade da esquerda passou para o outro lado, o PSTU manteve sua coerência, expressão de seu programa socialista e revolucionário, nossa maior herança. Mudaram-se governos, conjunturas políticas e econômicas, e a própria configuração do capitalismo e da organização dos Estados. Emergiram novas potências imperialistas, enquanto o capitalismo afunda cada vez mais o planeta na fome, miséria, e agora numa crise ambiental e climática que põe em risco a própria existência da humanidade.

O PSTU é hoje, mais uma vez, voz solitária, mas resistente a um governo burguês de conciliação. Mas numa conjuntura muito mais complexa, em que a ultradireita se fortalece alimentando-se dos ataques e políticas neoliberais e entreguistas, e do rebaixamento e decadência cada vez mais profunda do país. Por isso, defende a construção, junto aos trabalhadores e ao povo pobre, de uma oposição de esquerda, socialista e revolucionária, que possa ser um verdadeiro contraponto, realmente antissistema, para mudar de fato a vida da maioria do povo, e derrotar de vez a extrema direita.

Fazemos um convite especial a você que chegou até aqui: conheça mais sobre o PSTU, venha conversar conosco e faça parte dessa luta!