Crise ecológica pede ruptura com o capitalismo
Se você pegar uma boa imagem de satélite, num mapa ou no “Google Earth”, e passar os olhos sobre a região amazônica, vai perceber, imediatamente, que a floresta tem sido devorada pelas bordas das estradas. A maioria delas foi construída pela ditadura militar, sob o lema de “integrar para não entregar”, tal como a Transamazônica ou a BR 163.
Mas, as estradas trouxeram fazendeiros, madeireiros, grileiros e, também, muitos capitalistas estrangeiros, além de grandes projetos minerários e hidroelétricas para alimentá-las. Ou seja, na verdade, a Amazônia foi entregue a essa gente pela ditadura, e tudo isso ainda resultou, ao longo dos anos 1970-80, no massacre de 38 etnias indígenas, que viviam em paz, isolados na floresta.
De lá pra cá, a Amazônia brasileira perdeu mais de 20% de sua cobertura florestal. Cientistas alertam que, se seguirmos nessa toada, em breve, o bioma vai atingir um ponto de não-retorno, no qual a floresta não poderá mais se recuperar. Em vez de retirar dióxido de carbono (CO2) da atmosfera, a Amazônia vai lançar toneladas desse gás, agravando imensamente o aquecimento global. Em bom português: a destruição da Amazônia é a destruição da civilização.
Passando a boiada
O projeto de barbárie ambiental de Bolsonaro
O antigo projeto da ditadura ganhou uma roupagem ainda mais perversa com Bolsonaro. Entre 2019 a 2021, o total da área desmatada na Amazônia foi de 34 mil km², um aumento de 73%, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Este ano, é bem provável que o desmatamento ultrapasse mais de 13 mil km².
Ou seja, em quatro anos de Bolsonaro, a Amazônia perdeu uma área maior do que o estado do Rio de Janeiro. Se não bastasse, o crime organizado tomou conta da Amazônia e está ligado ao roubo e à especulação de terras, ao desmatamento, à venda de madeira e das terras públicas, e ao garimpo ilegal. O governo facilitou a vida da bandidagem ao desmontar todo o sistema de fiscalização e de combate aos desmatamentos e queimadas. Também incentivou a invasão e o roubo de terras públicas pelo latifúndio. Por isso, garimpeiros e madeireiros tomaram de assalto as Terras Indígenas e as Unidades de Conservação.
Mas a boiada passou por todos os biomas brasileiros. Todos foram duramente castigados. Em 2020, o Pantanal teve o maior incêndio de sua história, enquanto o Cerrado encontra-se, hoje, a beira da extinção, por conta do avanço do agronegócio. Com Bolsonaro, os biomas brasileiros caminhavam rapidamente para o colapso e o país se tornou o quinto maior emissor mundial de gases do efeito estufa (que aceleram o aquecimento global). Cabe lembrar, ainda, que 70% dessas emissões estão relacionadas ao desmatamento e ao modelo de agricultura do agronegócio.
Sem ilusões
O agro é inimigo do meio ambiente
Por tudo isso, é totalmente válido comemorar a derrota eleitoral de Bolsonaro e seu projeto de catástrofe sócio-ambiental. Sua política criminosa para o setor foi muito bem sintetizada pelo seu ex-ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, na famosa reunião ministerial de abril de 2020: “Vamos aproveitar a pandemia pra passar a boiada”.
No entanto, é preciso muito cautela com falsas expectativas em relação ao novo governo de Lula. Afinal, como esquecer Belo Monte, um projeto criado pela ditadura militar, barrado por mobilizações indígenas nos anos 1980, e ressuscitado, com entusiasmo, por Lula e Dilma? A construção da hidroelétrica foi um dos maiores crimes socioambientais da história e resultou na expulsão de milhares de ribeirinhos, camponeses, quilombolas e indígenas de seus territórios.
Como esquecer que foi Lula quem liberou o cultivo dos transgênicos, apesar de uma intensa e forte mobilização de ativistas ambientais? Afinal, esta medida foi uma das bases da expansão do agronegócio e, também, resultou na explosão do uso de agrotóxicos, o que faz com que, hoje, o Brasil consuma 20% de todo veneno comercializado no mundo.
E, ainda, é preciso lembrar que Lula editou, em junho de 2009, a Lei 11.952, autorizando a emissão de títulos de propriedade para áreas públicas de até 1.500 hectares na Amazônia, ocupadas e desmatadas ilegalmente até dezembro de 2004. Assim, mais de 67 milhões de hectares de terras públicas na Amazônia foram transferidas para os grileiros. Não por acaso, a medida ficou conhecida como “Lei da Grilagem”.
Sem ruptura com a lógica capitalista, não haverá mudanças
Há muitos ativistas que, sinceramente, esperam que o futuro governo Lula detenha as queimadas na Amazônia, impeça o roubo dos territórios das comunidades indígenas e quilombolas, e coloque um fim ao avanço da grilagem e da destruição ambiental promovidas pelo agronegócio e a mineração.
Contudo, dificilmente isso irá ocorrer, porque significaria um enfrentamento com o agronegócio, com as mineradoras e transnacionais que saqueiam os recursos naturais do país. E novo governo, por sua vez, já disse, inúmeras vezes, que vai apoiar esse setor. Algo evidente, inclusive, pelas fortes alianças da Frente Ampla com alguns de seus principais representantes.
Mas, não há outro caminho. Sem a ruptura com atual modelo de agricultura que enriquece um punhado de fazendeiros, nada vai mudar. Sem nacionalizar os recursos energéticos, não será possível fazer a necessária a substituição da matriz energética baseada em petróleo e combustíveis fósseis. E, sem que isto aconteça, o Brasil não só continuará degradando o meio ambiente e, consequentemente, as condições de vida da população como todo, como também contribuindo para colocar a humanidade em risco.