Editorial

Editorial: Cortar o mal pela raiz

Redação

27 de abril de 2022
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Foto Alan Santos/PR

 Assistimos nos últimos dias a um aumento das ameaças autoritárias do governo Bolsonaro. O perdão concedido ao deputado de ultradireita Daniel Silveira, condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), foi mais que uma sinalização à sua base. Bolsonaro mostrou que não vai se enquadrar e aceitar qualquer decisão que o afronte. E isso pode ser, inclusive, o resultado das eleições, caso perca.

A relativa recuperação nas últimas pesquisas o leva a esticar mais a corda e continuar defendendo abertamente a ditadura. Durante um evento de comemoração do Dia do Exército, afirmou que “as Forças Armadas não dão recados, elas estão presentes e sabem como proceder”, indicando que os militares poderiam muito bem dar um novo golpe, se assim acharem necessário.

O general e ex-ministro da Defesa, indicado para ser candidato a vice, Braga Netto, também fez questão de exaltar o golpe e a ditadura. Bolsonaro, cada vez mais, reafirma que seu projeto de genocídio, desemprego, precarização, fome, devastação ambiental e entrega do país está embrulhado num arranjo autoritário de supressão das liberdades democráticas.

Longe de ser um raio em céu azul, Bolsonaro é expressão de um país em franco processo de decadência, desindustrialização e recolonização imperialista. Totalmente integrado, de forma subordinada, aos interesses imperialistas, o projeto de Bolsonaro e Guedes é o de relocalizar o Brasil nessa nova configuração da divisão internacional, num degrau abaixo e ainda mais submisso. Dentro disso, um novo grau de superexploração e rapina, com a generalização do trabalho precário, a extinção de direitos, a destruição dos serviços públicos, a privatização e a entrega de tudo.

A maioria da burguesia, se não compartilha de seu projeto político de ditadura, concorda com seu projeto econômico. Evidente que um setor mais atrasado e degenerado está mais fechado com ele. Mas, no frigir dos ovos, não será exatamente um problema para essa gente um novo mandato dele, tirando o fator de instabilidade que Bolsonaro atiça. A declaração de voto de Temer em Bolsonaro mostra isso.

Não se faz isso meramente com o voto

É urgente derrotar Bolsonaro e seu projeto de fome e ditadura. Mas não se faz isso meramente com voto, nem confiando nas instituições atuais, como STF ou Congresso Nacional, que inclusive já deram várias mostras de que podem capitular. Afinal, quem vai desarmar os milicianos bolsonaristas e segurar militares golpistas?

É preciso ter os trabalhadores organizados e mobilizados contra aventuras golpistas, inclusive com autodefesa, por um lado. E por outro, a enorme crise econômica e social, a decadência de longos e longos anos em que o país está metido, e o avanço da barbárie, formam um caldo de cultura que garante a proliferação da ultradireita.

Para acabar de vez com Bolsonaro e impedir outros bolsonaros ou danieis silveiras, os trabalhadores devem se organizar com independência da burguesia, justamente para também acabar com esse sistema capitalista, chefiado por super-ricos, de onde brota essa ultradireita. Por isso, não adianta também apontar como solução uma aliança para governar com a burguesia. Nada derrota mais a direita do que o fortalecimento de uma alternativa revolucionária e socialista para resolver essa crise econômica e social atual.

Lula/Alckmin não é solução

O PSTU sempre defendeu, e continua defendendo, que na mobilização e na ação direta é preciso unificar todos aqueles que são contra o governo, defendem o “Fora Bolsonaro” e as liberdades democráticas.

Mas, dentro disso, a classe trabalhadora precisa fortalecer suas organização e mobilização de forma independente, até porque não se pode confiar nas instituições dessa democracia burguesa para defender nossas liberdades.

Outra coisa é que, para governar o país, não é possível fazer alianças com a direita e com a burguesia. Lula e o PT, ao defenderem um governo de unidade nacional com setores do capital financeiro, das multinacionais e do agronegócio, com o representante da ala mais conservadora do PSDB, Geraldo Alckmin, pretendem não ser um projeto de ruptura com a política econômica do atual governo, mas sim governar o capitalismo em crise.

Depois de eleitos, vão inevitavelmente governar para a burguesia e para o imperialismo. Não vão resolver os problemas do povo porque não vão enfrentar os interesses dos bilionários e das grandes empresas que sugam as riquezas do país. Já falam em não revogar a reforma trabalhista, mas sim “aperfeiçoá-la”, o que, no final das contas, significa mais ataques aos direitos dos trabalhadores.

Isso nem prepara a classe trabalhadora para enfrentar qualquer tentativa golpista, como ainda mantém o terreno fértil que pode fortalecer a própria ultradireita ali adiante.

Alternativa socialista

A pré-candidatura de Vera, apresentada pelo PSTU e pelo Polo Socialista e Revolucionário, cumpre o papel de ser uma alternativa em defesa de uma ruptura não apenas com o governo, mas com o sistema capitalista de exploração e opressão. Porque se o Brasil está doente de Bolsonaro, é por causa do capitalismo que o criou e o alimenta. Por isso, além de derrotar o atual governo, é preciso cortar o mal pela raiz. Fazer isso hoje é avançar na consciência e organização dos trabalhadores, construindo uma alternativa socialista, já que a disjuntiva “socialismo ou barbárie” nunca esteve tão presente quanto na realidade atual.