Contra-ataque iraniano cria mais incertezas no Oriente Médio
No último dia 13, em resposta ao criminoso ataque israelense à sua embaixada em Damasco, capital da Síria, no dia 1° de abril, as forças iranianas lançaram 350 artefatos (drones e mísseis) contra o Estado de Israel, com um aviso prévio de 72 horas.
As Forças Armadas estadunidenses assumiram diretamente a defesa do Estado sionista, com o apoio direto do Reino Unido e da Jordânia, e indireto de outros países, como a Arábia Saudita. Seu sistema de defesa abateu 99% dos drones e mísseis ainda quando estavam no ar.
O legítimo contra-ataque iraniano causou pânico entre os israelenses. A sensação de segurança que existia na população sionista já havia evaporado após a ofensiva da resistência palestina, liderada pelo Hamas, em 7 de outubro, e os bombardeios do Hezbollah, na fronteira Norte. Agora, a situação deu um salto, com o contra-ataque iraniano. A percepção generalizada é de que a segurança de Israel está mais frágil que nunca, o que tem ampliado o êxodo de milhares de israelenses rumo à Europa e aos Estados Unidos.
A população palestina, por sua vez, em um primeiro momento, vibrou com o contra-ataque iraniano; mas, depois, ficou decepcionada, após o anúncio iraniano do fim dos ataques. Há seis meses, a população palestina espera que o Irã abra uma nova frente militar contra Israel. O alerta prévio de 72 horas também decepcionou, pois facilitou a interceptação dos drones e mísseis, pelo sistema de defesa imperialista.
Escalada
Contra-ataque “teatral” tem efeitos contraditórios e aprofunda instabilidade
O regime iraniano se beneficiou da fraqueza do Estado sionista para fazer seu primeiro ataque direto a Israel em toda a História. Isso lhe deu prestígio em relação aos regimes árabes que, por temerem retaliações israelenses, evitam qualquer tipo de ação contra os sionistas.
Por outro lado, o aviso prévio de 72 horas despertou críticas diante do que teria sido uma “ação teatral”. E, pior ainda, a declaração de que a ação não teria continuidade, deixou a certeza de que o regime iraniano não atacará Israel para defender os palestinos, mas apenas para se defender.
O primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu conseguiu dar um passo adiante em seu objetivo de generalizar a guerra no Oriente Médio e, também, conseguiu se reaproximar de seus patrocinadores imperialistas. Outro objetivo atingido pelo sionismo foi colocar em segundo plano o genocídio em Gaza, e, em terceiro plano, os “pogroms” (ações de perseguição e linchamento) de colonos sionistas contra a população palestina na Cisjordânia.
Por outro lado, o contra-ataque expôs a frágil segurança do Estado sionista e colocou Netanyahu sob intensa pressão por parte da extrema direita e da população israelense, que exige que o líder sionista ataque o Irã e a cidade de Rafah, em Gaza, o que o distanciaria novamente de seus patrocinadores imperialistas.
Potencial de escalada
Os imperialismos estadunidense e europeu conseguiram garantir a defesa aérea de Israel frente a um ataque anunciado. O episódio, contudo, também expôs a incapacidade do imperialismo em impedir Israel de expandir a guerra para todo o Oriente Médio, o que pode ter forte impacto nos preços do petróleo e pode arrastar a economia mundial para uma recessão. Além disso, tiveram sua hipocrisia exposta, mais uma vez, ao denunciarem o contra-ataque iraniano, mas se silenciarem frente ao ataque israelense à embaixada iraniana em Damasco.
Já os imperialismos russo e chinês pressionaram para que o contra-ataque iraniano fosse apenas “simbólico”, para evitar uma guerra com Israel, que afetaria seus negócios no mercado mundial. Contudo, a ação iraniana, em si, aponta para uma potencial escalada na região.
Covardes e colaboracionistas
Os regimes árabes, incluindo a Autoridade Nacional Palestina, só aprofundaram seu desprestígio. Vistos como covardes ou colaboracionistas, os regimes árabes, particularmente o jordaniano, podem enfrentar uma nova onda de revoluções operárias e populares, a exemplo da iniciada em 2010, na Tunísia.
Como podemos ver, o contra-ataque iraniano, mesmo que simbólico, trouxe mais instabilidade e incertezas para a ordem imperialista, tanto regional quanto mundial.
Derrotar Israel
Libertação de toda a Palestina, do rio ao mar!
A questão central é que o genocídio em Gaza continua e, nos últimos dias, aumentaram drasticamente os “pogroms” (destruição de bens, violência física e linchamentos) feitos por colonos israelenses contra os palestinos na Cisjordânia, o que já provocou, no mínimo, seis mortes.
A resistência palestina em Gaza já está fazendo o que é possível, apesar da enorme desigualdade militar. E a Cisjordânia pode estar caminhando, a passos largos, para uma Intifada (levante) generalizada, em todo o território.
A abertura de uma frente militar na região Norte da Palestina e a leste do Rio Jordão dividiria as forças sionistas, aliviando o genocídio em Gaza. No entanto, os regimes iraniano, sírio e jordaniano, além do Hezbollah, não querem entrar em guerra contra Israel. Também, o ditador sírio Bashar al-Assad, o regime jordaniano e o Hezbollah tampouco permitem que os palestinos na diáspora se armem e ataquem os sionistas.
A única força árabe que está construindo uma solidariedade efetiva com os palestinos são os iemenitas “houthis” (movimento que se organiza no Noroeste do Iêmen). O regime iraniano já deixou evidente que somente atacará Israel em caso de um novo ataque israelense contra o Irã. Ou seja, não atacará Israel para apoiar os palestinos.
As mobilizações nos países vizinhos têm que pressionar seus governos para abrir novas frentes militares contra os sionistas. Mas, não podemos ter ilusões. São necessários levantes e revoluções que coloquem, no centro de seus objetivos, a derrota de Israel e dos regimes árabes que colaboram com o Estado sionista ou se omitam diante dele e seus crimes.
Só protestos e solidariedade podem pôr fim ao genocídio
As ações de solidariedade nos Estados Unidos, através do bloqueio de rodovias em grandes cidades como Nova Iorque, São Francisco, Chicago e Seattle, apontam para uma nova forma de solidariedade efetiva. A elas se somam as passeatas, a campanha pelo embargo de armas contra Israel e outras ações no que já se constitui na maior onda de solidariedade com os palestinos, em vários países, para pôr fim ao genocídio.
Diante de tudo isso, se torna ainda mais importante a exigência aos governos – a começar pelo governo brasileiro de Lula – para que se rompam relações econômicas, diplomáticas e militares com o Estado sionista. Sem essa ação efetiva, os governos apenas fazem jogo de cena e na prática acobertam os crimes do Estado sionista.
Por isso mesmo, é preciso intensificar a solidariedade ao povo palestino nas ruas, com a expectativa de que esta combinação de que uma Intifada Palestina com novas revoluções nos países árabes e a mobilização multitudinária em todo o mundo possa derrotar Israel e conquistar não apenas o cessar-fogo e o ingresso de ajuda humanitária em Gaza, mas caminhar para a libertação de toda a Palestina, do rio ao mar!