Internacional

Contra a fraude eleitoral de Maduro, todo apoio à luta dos trabalhadores

É preciso se colocar contra qualquer tipo de intervenção dos Estados Unidos e não depositar nenhuma confiança ou apoio político à oposição burguesa de Maria Corína e Edmundo González

Redação

9 de agosto de 2024
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A proclamação do resultado das eleições na Venezuela, sem uma apuração democrática, transparente e verificável, desatou uma série de protestos espontâneos na capital Caracas e em todo o país contra a ditadura comandada por Maduro. Uma dura repressão se abateu contra os manifestantes, tachados de “terroristas”. Entre 29 de julho e 6 de agosto, segundo o próprio governo, mais de 2 mil pessoas foram presas, e 24 foram mortas, segundo a ONG venezuelana Provea.

A suposta vitória de Maduro foi anunciada pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE). No entanto, o órgão nunca apresentou as atas eleitorais, que têm a totalização dos votos de cada urna, semelhantes aos boletins de urna, no Brasil.

Pelo contrário, no dia da votação, o Conselho denunciou um “ataque cibernético” que teria inviabilizado a contagem dos votos até o fim, mas correu para anunciar o resultado, cuja tendência seria “irreversível”. O CNE, as Forças Armadas e todas as instituições do Estado são controlados e acatam as ordens do governo Maduro.

Fraude a serviço de uma ditadura

O que ocorreu no dia 28 de julho na Venezuela foi uma fraude escancarada. Fosse legítimo o resultado anunciado pelo regime, o governo teria divulgado as atas ainda no próprio dia das eleições. Isso é corroborado pelo expresso sentimento da maioria da população venezuelana, que rechaça esse regime e o governo de plantão.

Os protestos que tomaram conta do país, inclusive em antigos bastiões chavistas, expressam a verdadeira vontade popular: dar um basta à ditadura e à política de fome, ainda que isso se reflita distorcidamente numa candidatura burguesa (Edmundo González, indicado por Maria Corína, da Plataforma Democrática Unitária, o PDU).

Uma candidatura pró-imperialista que, caso governe, vai continuar jogando a crise nas costas da população. Isso também acontece porque o governo Maduro persegue, cassa e processa dirigentes e partidos de esquerda, impedindo a organização de uma alternativa da classe trabalhadora.

A repressão e a perseguição implacáveis do governo, sobretudo sobre os setores mais pobres, por sua vez, reafirmam que o que há, hoje, na Venezuela, é uma ditadura. Para continuar gerenciando o capitalismo, o governo Maduro persegue e reprime todo o tipo de oposição, principalmente os ativistas e lideranças sociais. Há, hoje, centenas de dirigentes classistas e populares presos ou processados, além das 2 mil pessoas presas em uma semana, por protestarem contra a fraude.

Cartas marcadas

Um processo eleitoral viciado desde o início

Desde o início, as eleições foram uma fraude. A principal opositora, representante de um setor da burguesia pró-imperialista contrária ao regime, María Corina, foi declarada inelegível. Sua sucessora, Corina Yoris, também teve sua candidatura impedida pelo CNE.

Depois, o regime de Maduro aceitou a indicação de Edmundo González, por achar que não seria ameaçado por um desconhecido. Porém, o desgaste e a raiva do povo contra o governo são tão grandes que mesmo um candidato pouco conhecido e aliado dos grandes grupos capitalistas dos EUA conseguiu catalisar esse rechaço.

Mais do que a oposição burguesa, porém, a esquerda também foi perseguida e proscrita pela ditadura, como denuncia a Unidade Socialista dos Trabalhadores (UST), seção da Liga Internacional dos Trabalhadores-Quarta Internacional (LIT-QI) e partido-irmão o PSTU na Venezuela.

Mesmo partidos aliados de primeira hora do chavismo, como o Partido Comunista da Venezuela (PCV) e o Marea Socialista (“Maré Socialista”), se viram obrigados a se colocarem como oposição a Maduro. O PCV, inclusive, teve sua legenda roubada pelo chavismo, ao não querer se submeter ao partido do presidente, o Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV).

A oposição de esquerda, diante da perseguição, inabilitação e proscrição de dirigentes e partidos pelo regime, foi impedida de apresentar uma candidatura que representasse os direitos da classe trabalhadora. “Com esta fraude pretende, agora, perpetuar-se ilegitimamente no poder, desferindo um novo golpe nos direitos democráticos dos trabalhadores”, afirma nota da UST, sobre o 28 de julho.

Todo apoio às manifestações contra a fraude e a ditadura capitalista

Ao contrário do que afirma a ditadura de Maduro e, também, grande parte da esquerda, os protestos na Venezuela não são um movimento orquestrado pelo imperialismo para dar um golpe no país. São mobilizações espontâneas, justamente contra o autogolpe do governo chavista, que exigem um direito democrático básico que é o reconhecimento do resultado das urnas.

Como reconhece a UST, os mesmos trabalhadores e setores populares que estiveram nas ruas e derrotaram o golpe contra Chávez, em 2002, agora estão a favor da derrubada da ditadura de Maduro. A diferença é que, naquele momento, a esquerda, em peso, se unificou contra o golpe e ao lado dos trabalhadores. Agora, a maioria cerra fileiras com uma ditadura que persegue e reprime a população.

É preciso apoiar as mobilizações dos trabalhadores e do povo no país por liberdades democráticas e impulsionar a construção de uma alternativa independente da classe trabalhadora, como também aponta a UST:  “É necessário unificar, aprofundar e fortalecer, de forma independente, as mobilizações, até a derrota da ditadura. Consideramos pertinente discutir democraticamente, nos setores populares e nos locais de trabalho, as ações a serem tomadas para continuar o processo de enfrentamento, manter as mobilizações de rua e construir uma greve geral para derrubar a ditadura”.

Forças Armadas e boliburguesia

Governo Maduro não tem nada de socialista: é uma ditadura capitalista

Ao jogar o peso da crise nas costas dos trabalhadores e do povo pobre, o governo Maduro provocou uma crise social sem precedentes. Um quarto da população, ou quase 8 milhões de venezuelanos, foram obrigados a deixar o país para sobreviver. As sanções dos imperialismos norte-americano e europeu, que devem ser denunciadas e combatidas, aprofundaram o caos que recai, principalmente, sobre a classe trabalhadora e os setores mais pobres. Tudo para manter um regime de exploração em prol das empresas privadas, das multinacionais e do rentismo.

Maduro, além de impor uma brutal ditadura, ancorada nas Forças Armadas e na “boliburguesia”, não é anti-imperialista, nem cumpre qualquer papel progressivo. Ao contrário, também quer aprofundar a semicolonização da Venezuela e entregar, ainda mais, as reservas do país aos imperialismos chinês e russo, que apoiam seu regime autocrático; mantendo, inclusive, o pagamento da dívida externa aos banqueiros estrangeiros, incluindo os norte-americanos, a atuação de multinacionais, como a petroleira Chevron, e avançando no desmantelamento e privatização das estatais.

Maria Corína e Edmundo González

Uma oposição burguesa, entreguista e subordinada aos EUA

Foto Divulgação

Não se deve dar nenhum apoio ou ter qualquer confiança na oposição burguesa de María Corina e Edmundo González. O programa da PUD tem o objetivo de aprofundar a entrega do país ao imperialismo norte-americano e o processo de semicolonização da Venezuela.

Também é necessário rechaçar todo apelo a qualquer tipo de interferência imperialista, sob a suposta intenção de “resolver” a crise no país. E, mais ainda, é preciso denunciar a hipocrisia do governo Biden. Os EUA não querem democracia e não estão preocupados com o povo venezuelano; mas, sim, querem colocar as mãos nas reservas minerais do país.

Esquerda

Apoio a Maduro fortalece a ultradireita

O governo Lula, apesar da posição dúbia em relação a Maduro, exigindo transparência nas eleições, na prática, vem legitimando esse regime. A presença do assessor internacional Celso Amorim no país ajudou a conferir uma cara de legalidade a um processo completamente fraudulento.

Já a esquerda que apoia o regime chavista o faz com o argumento de que é necessário lutar contra a extrema direita. O problema é que apoiar Maduro é o que ajuda a fortalecer a extrema direita e a impulsionar seu discurso hipócrita, como estamos vendo no Brasil, onde o bolsonarismo tenta surfar de forma cínica a defesa das liberdades democráticas do povo venezuelano.

Quem é quem

Nicolás Maduro
Oriundo da burocracia sindical, Maduro foi aliado de primeira hora de Chávez. Fez parte da Constituinte chavista, em 1999, e foi eleito deputado da Assembleia Nacional, no ano seguinte, tendo presidido a Casa entre 2005 e 2007. Esteve à frente do Ministério das Relações Exteriores do governo e assumiu a vice-presidência, em 2012.

Maria Corína
Principal líder da oposição burguesa, é herdeira de um grande empresário do aço. Foi deputada entre 2011 e 2014, ano em que ganhou projeção nacional nos protestos contra o governo. Apoiou o golpe de 2002, contra Chávez, e integra o partido de direita Vamos Venezuela (VV), integrante da Plataforma Democrática Unitária (PUD). Impedida de participar das eleições em julho, indicou Edmundo González como seu representante.

Diosdado Cabello
Apontado como o 2º nome do chavismo, depois de Maduro, sua trajetória expressa a “boliburguesia”. Ex-militar, ocupou ministérios e presidiu a Assembleia Nacional, entre 2012 e 2016. Nesse período, adquiriu o controle de três bancos e várias empresas, principalmente as que mantém negócios com estatais como a PDVSA (principal petrolífera do país).

PSUV 
O Partido Socialista Unido da Venezuela foi fundado em março de 2007, para reunir e tutelar o conjunto da esquerda, sob mando de Chávez. As organizações que não aderiram foram proscritas e seus dirigentes cassados, perseguidos e impedidos de disputar eleições.

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