Capitalismo criou uma catástrofe climática
A situação climática da Terra é alarmante. O ano de 2023 foi o mais quente já registrado na História. E o pior é que existe a possibilidade de 2024 ser ainda mais quente. Um estudo do Copernicus, o observatório climático europeu, aponta que janeiro passado foi o mês mais quente já registrado globalmente. A temperatura média do ar alcançou 13,14°C; ou seja, 0,70°C acima da média entre 1991 e 2020 para o mês e 0,12°C a mais, em comparação com janeiro de 2020, recordista anterior.
Parece pouco, não é? Só que não… Em comparação com a era pré-industrial (1850-1900), os primeiros 31 dias do ano foram 1,66°C mais quentes. Isto é, já ultrapassamos o limite de 1,5°C estipulado pelo Acordo de Paris.
Nas últimas semanas, um estudo publicado pela “Nature Climate Change” (especial sobre mudanças climáticas da revista científica “Nature”) sugere que a Terra já estaria, hoje, 1,7 °C mais quente do que no período pré-industrial e, nos próximos anos, poderia ultrapassar os 2°C. Isso indica a falência completa dos acordos climáticos e a total incapacidade de que o capitalismo consiga parar a crise que o próprio sistema criou.
Os cientistas alertam que cruzar esse limite poderá resultar em um aquecimento global incontrolável, com um aquecimento superior a 2°C. Assim, muitos pontos de ruptura da Terra poderão ser acionados, tal como o degelo do “permafrost” (camada do subsolo da crosta terrestre que está permanentemente congelada); o derretimento das geleiras da Antártida e do Ártico; a acidificação e a elevação dos oceanos e a transformação da Amazônia em uma savana degradada, dentre outros fenômenos.
2024 começou com enchentes, surtos de doenças e incêndios
Na última semana de janeiro, uma intensa onda de calor castigou a região central do Chile, com temperaturas entre 3 a 6 ºC acima da média para esta época. Na primeira semana de fevereiro, mais de 15 mil casas foram destruídas, mais de 130 pessoas morreram e outras 200 estão desaparecidas.
Existe a suspeita de que o incêndio foi criminoso, mas a tragédia só atingiu tamanha magnitude devido às atuais condições climáticas e sociais. A especulação imobiliária, que joga o povo em moradias precárias, e a existência de enormes monoculturas de pinus e eucaliptos funcionaram com combustíveis para a multiplicação dos incêndios.
No Brasil, uma epidemia de dengue assola o país, associado a outros arbovírus (transmitidos por insetos) como a Zika e Chikungunya, transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti. O calor intenso faz o mosquito da Dengue se reproduzir mais rápido, em apenas quatro dias, dobrando, assim, o número de mosquitos em relação ao ciclo normal. Mas, as precárias condições de moradia e a falta de saneamento fazem com que a doença prolifere nos bairros mais pobres (ver páginas 6 e 7).
Ainda em janeiro, depois que fortes chuvas atingiram o Rio Grande do Sul, incluindo a capital Porto Alegre (RS), com ventos de até 107 km/h, mais de 1,3 milhão de pessoas ficaram, por dias, sem luz, sem água e sem internet. As fortes tempestades que castigaram o estado durante 2023 são consequências do fenômeno El Niño, potencializado pelo aquecimento global.
Mas, a tragédia social que se seguiu é efeito direto das privatizações e da ausência de políticas públicas de prevenção e de infraestrutura. A Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE) foi privatizada em 2021 e, desde então, os serviços se tornaram mais precários, para que a empresa possa lucrar mais. Repete-se, assim, o que aconteceu em São Paulo, em novembro, quando mais de 2,5 milhões de pessoas ficaram sem luz por uma semana.
Sistema
Capitalismo é a doença do planeta
O aquecimento global é consequência da grande indústria e da agricultura capitalista que superexploraram os combustíveis fósseis (petróleo, gás e carvão) por quase dois séculos. As consequências são os fenômenos climáticos extremos, como grandes ondas de calor e frio, secas e tempestades furiosas.
Mas, se o aquecimento é o elemento deflagrador dos eventos climáticos extremos, a tragédia é social e escancara a imensa desigualdade socioeconômica produzida pelo capitalismo e agravada por décadas de planos neoliberais. Nesse cenário, a adoção de medidas para mitigar (minimizar ou suavizar) os efeitos do aquecimento são irrealizáveis nessas condições de aumento da vulnerabilidade social, principalmente porque os governos respondem às tragédias com mais neoliberalismo: mais privatizações, mais cortes em investimentos nas áreas sociais e na infraestrutura necessária para enfrentar as mudanças climáticas.
No capitalismo, as tragédias continuarão com maior frequência e magnitude. Esse sistema é uma máquina de destruição social e ambiental e está a serviço da acumulação de riqueza nas mãos de uma pequena minoria da sociedade.
Amazônia está próxima do ponto de não-retorno
Metade da floresta amazônica pode estar exposta a uma degradação que, até 2050, levaria a Amazônia a um ponto de não retorno. Essa foi a conclusão de um estudo liderado por pesquisadores brasileiros e publicado na revista “Nature”. O ponto de não-retorno é um estágio de transformação irreversível.
Segundo o estudo, entre 10% a 47% da floresta amazônica podem virar uma savana degradada, com solo arenoso. Isso dependente de vários fatores que se interrelacionam, tais como aquecimento global, os desmatamentos, chuvas e a intensidade das secas.
O aquecimento aumenta a temperatura e provoca secas extrema; enquanto o desmatamento diminui as chuvas na região. “Até 2050, os modelos projetam um aumento significativo no número de dias secos consecutivos, em 10-30 dias, e nas temperaturas máximas anuais, em 2-4 °C, dependendo do cenário de emissões de gases com efeito de estufa (…). Estas condições climáticas poderiam expor a floresta a níveis sem precedentes de estresse hídrico”, explica ao artigo.
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