Caminhoneiros de cervejarias na Filadélfia fecham acordo após greve
John Leslie
Após uma dura greve que durou quase uma semana, caminhoneiros da Regional 830 da Teamster (sindicato nacional de caminhoneiros de uma distribuidora – as seções nas regiões são indicadas por números) na Filadélfia aprovaram um novo contrato de trabalho de quatro anos, no último 25 de junho.
Mais de 400 motoristas, vendedores e funcionários de depósitos de grandes distribuidoras de regionais de cerveja – Penn Beer, Origlio Beverage e Muller Inc. – haviam rejeitado a proposta anterior da administração e, em 18 de junho, começaram a montar piquetes. Foi a primeira greve da história nesta região que concentra 3100 trabalhadores. Bares, lojas de embalagens de cerveja e locais esportivos enfrentaram grande escassez de cerveja no período que antecedeu o fim de semana de 4 de julho (feriado nacional nos EUA).
No começo da greve, o secretário-tesoureiro da regional 830, Daniel H. Grace, declarou que “a compensação é sempre um problema, mas o que é particularmente problemático são as horas de trabalho propostas pelas empresas de bebidas para nossos membros – turnos de 12 horas para cinco ou seis dias consecutivos. Isso é excessivo. As empresas de bebidas sabem que nossos trabalhadores são a força motriz por trás de suas operações e sucesso, mas pensam que podem nos tratar como cidadãos de segunda classe. Não vamos tolerar isso!“.
De acordo com o sindicato, “é um acordo justo e abrangente que inclui aumentos significativos de salários e benefícios e maior flexibilidade“. O contrato inclui reajuste salarial de 10,5% no primeiro ano, e os trabalhadores só podem ser chamados a trabalhar em turnos de 10 horas a cada cinco dias seguidos, ou turnos de 11 horas em até dois dias consecutivos. A empresa queria impor turnos consecutivos de 12 horas por até cinco ou seis dias seguidos. O acordo inclui aumento das contribuições previdenciárias no 2º, 3º e 4º anos, contribuições adicionais, e um adicional de férias pagas.
Quando este repórter visitou o piquete na Muller, Inc. no dia 23 de junho, motoristas e outros trabalhadores falaram sobre o estresse físico do trabalho, que inclui longos dias levantando pesados barris e caixas de cerveja. Os trabalhadores falaram também sobre as longas horas que trabalharam durante a pandemia.
Sindicalistas brasileiros visitam piquete
No dia 23 de junho, ativistas da central sindical brasileira CSP-Conlutas, estiveram nos EUA para participar da conferência Labor Notes no final de semana anterior, e aproveitaram para se juntar ao piquete, em plena tempestade que caía na cidade, para expressar solidariedade internacional aos trabalhadores em luta. O dirigente da CSP-Conlutas, Herbert Claros, falou sobre as lutas dos trabalhadores brasileiros aos sindicalistas norte-americanos, que receberam calorosamente os visitantes. Seis integrantes da CSP-Conlutas entraram na fila e ajudaram a desviar um caminhão que tentava atravessar o piquete.
Mais tarde, naquele mesmo dia, Herbert e Luiz Carlos Prates falaram na Igreja do Calvário no Oeste da Filadélfia num fórum patrocinado pela Voz dos Trabalhadores (seção da LIT-QI). Eles falaram sobre as lutas dos trabalhadores no Brasil por justiça e contra o regime reacionário de Bolsonaro. Os palestrantes enfatizaram a necessidade de sindicatos militantes de luta e organização revolucionária da classe trabalhadora no Brasil e internacionalmente. Herbert, que acompanhou um comboio de ajuda ao Leste da Ucrânia, que entregou ajuda humanitária ao sindicato independente de mineiros de lá, relatou suas experiências no país e a necessidade de solidariedade internacionalista da classe trabalhadora.
Um camarada local da Voz dos Trabalhadores falou no início da reunião para expressar solidariedade aos grevistas. Essa visita à Filadélfia foi parte de uma turnê pós-Labor Notes na Costa Leste patrocinada pela Voz dos Trabalhadores. Em Connecticut, os camaradas da CSP-Conlutas conversaram com ativistas sindicais e comunitários e visitaram uma exposição do artista político Mike Alewitz. Em seu último dia nos EUA, os sindicalistas brasileiros se juntaram a um protesto na cidade de Nova Iorque contra a derrubada de Roe vs Wade (decisão dos anos 70 que legalizou o aborto) pela Suprema Corte dos EUA.
Ao contrário do modelo sindicalista da maioria dos EUA, extremamente verticalizado, a CSP-Conlutas tem uma orientação democrática de luta de classes. Sua organização inclui não apenas militantes do chão de fábrica, mas organizações de luta popular que normalmente estão fora do movimento sindical tradicional. Ambientalistas, sem-terras, organizações indígenas e lutas contra a opressão se reúnem no interior da CSP-Conlutas.
Os membros da Voz dos Trabalhadores saúdam a vitória dos caminhoneiros da regional 830, mas pensamos que eles merecem muito mais. Esses trabalhadores trabalham longas horas e correm sérios riscos à sua saúde. Além do aumento salarial, a redução da semana de trabalho sem redução dos salários seria um avanço real. Por que esses trabalhadores, muito deles com famílias, têm que trabalhar seis dias por semana quando o trabalho pode ser distribuído? Uma lição que ficará para esses trabalhadores é que, quando fazemos greve, vencemos!
Publicado originalmente no Portal da Voz dos Trabalhadores