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Boulos candidato troca a luta do ativismo pelas propostas do sistema

Por uma alternativa socialista e revolucionária nessas eleições

Joana Salay, de São Paulo

22 de agosto de 2024
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Ricardo Stuckert/PR – 29.jun.2024.

Neste ano, as eleições municipais de São Paulo assumem muita importância perante o cenário nacional. É onde vemos o enfrentamento mais polarizado entre a extrema-direita, representada oficialmente por Nunes, mas programaticamente também por Marçal, e a chamada frente ampla, que representa o Governo Lula/PT na cidade, mas é encabeçada por Guilherme Boulos do PSOL. O PSTU optou por apresentar as suas propostas nestas eleições com a candidatura de Altino, porque não vê na Frente Ampla uma alternativa nem à extrema-direita, nem aos problemas da cidade.

Boulos prometeu desde o início construir uma frente o “mais ampla possível em torno de valores democráticos e de combate às desigualdades sociais”. Para se tornar aceitável para e burguesia e construir uma campanha com viabilidade eleitoral, vem fazendo acenos à burguesia paulistana, aceitando setores do bolsonarismo e tentando tirar a camiseta de ativista.

A escolha de Marta Suplicy como vice na chapa, mesmo tendo sido parte da gestão de Nunes, mostra o tipo de frente que Boulos está disposto a construir. O apoio do Senador Alexandre Giordano (MDB) também é sintomático. O empresário foi filiado ao antigo PSL que elegeu Bolsonaro e assumiu um mandato tampão, porque ocupava o posto de suplente do ex-senador Major Olímpio que faleceu em 2021 e era um dos principais representantes da chamada “bancada da bala” no estado de São Paulo. Longe de ser uma frente com valores democráticos, é a expressão da construção de uma candidatura para ganhar as eleições a qualquer custo. Até mesmo abandonar importantes reivindicações dos movimentos sociais.

Com o argumento de que não é candidato em Tel Aviv, Boulos tem se recusado a se posicionar sobre o genocídio do povo palestino. O silêncio não é apenas perante o ataque de Israel, mas também sobre o genocídio da população jovem, negra e periférica em São Paulo. Não seria Boulos candidato à prefeito da cidade? Acontece que, enquanto se cala sobre a violência policial, Boulos abraça um programa de legitimação da mesma. Isso se demonstra quando coloca um ex-comandante da Rota para construir o seu programa sobre segurança. E quando passa a não defender a legalização das drogas, que é uma das principais reivindicações do movimento como forma de acabar com a chamada “guerra às drogas”.

No programa que Boulos apresenta para as eleições, registrado no TRE, não existe nenhuma menção à privatização. Isso logo depois de ter sido construída uma frente com vários setores do movimento contra as privatizações, composta inclusive por organizações e militantes do PSOL, e do próprio Boulos ter se colocado contra a privatização. O programa também não fala sobre o problema da restrição ao aborto legal nos hospitais em São Paulo, muito menos sobre a possibilidade de ampliação. As militantes do PSOL foram parte ativa da luta contra a PL do estupro e pelo restabelecimento do atendimento para as mulheres que precisam realizar o aborto no Hospital de Vila Nova Cachoeirinha, que Nunes interrompeu. Será que isso não é assunto para o prefeito de SP?

Até a luta por moradia digna Boulos já começou a relativizar. Em resposta ao jornal O Globo sobre a possibilidade de a prefeitura entrar na justiça para reaver imóveis e terrenos “invadidos”, Boulos responde que depende. Ou seja, assume que a sua gestão poderá atuar através da justiça para retirar moradores das ocupações.

É nítido então que longe de criar uma frente ampla por valores democráticos e para acabar com a desigualdade, Boulos e a direção do PSOL, estão construindo uma frente com setores burgueses para ganhar as eleições. Se a candidatura de Boulos estivesse ao serviço da defesa de valores democráticos, se colocaria em defesa do povo Palestino, da garantia do direito ao aborto legal e do combate à violência policial. Se quisesse efetivamente combater a desigualdade, defenderia a reversão das privatizações, o fortalecimento dos serviços públicos, a regularização de todas as ocupações e do despejo zero. Acontece que para dialogar com a Faria Lima e conquistar o apoio de um setor da elite paulistana, tem de abrir mãos dessas pautas. Pois para que estas se concretizem é preciso enfrentar os interesses de grandes empresas bilionárias e especuladoras. É a mesma opção que fez Lula em 2002 e que mantém o PT como parte dos partidos que governam para a burguesia brasileira.

A transformação política não é apenas do Boulos, mas é do próprio PSOL. Um exemplo disso é a sua relação com o Governo Federal, onde é base de apoio. Lula, com Haddad, está cumprindo o Arcabouço Fiscal. Qual a posição do partido e de Boulos sobre isso? Vai usar a prefeitura como um ponto de apoio para lutar contra esse teto que impede investimentos em áreas sociais? Como se relaciona o partido com as greves dos servidores federais que se enfrentam diretamente com as políticas de cortes do governo do PT? Boulos até agora não declarou apoio a nenhuma delas. Isso por que tem privilegiado os acordos com o governo e os que começa a firmar com os setores dominantes, para garantir a sua viabilidade eleitoral e governativa, ainda que seja nos marcos da administração da desigualdade e da miséria.

É fato que Boulos tem potencial eleitoral. Mas será mesmo que com esse programa pode ser consequente em ser uma alternativa à extrema-direita, defendendo e governando para classe trabalhadora? Nós, do PSTU, acreditamos que não. A extrema-direita não será derrotada com conciliação de classes. Ainda que seja possível derrotá-la nessas eleições, o que é muito importante, ela segue viva como fenômeno político com peso de massas. Porque o seu projeto cresce ideologicamente num amplo setor e também porque ela está apoiada em importantes elementos estruturais da nossa sociedade que não podem ser enfrentados com conciliação. Assim, todas as candidaturas que se dispõe a administrar o capitalismo, abrem mão da construção de um programa de transformação estrutural da sociedade e acabam por contribuir com a desorganização do povo trabalhador e com a desmoralização de ativistas, ajudando a extrema-direita.

Por isso apresentamos a candidatura à prefeito de Altino, metroviário que foi parte ativa da luta contra privatização da Sabesp e de várias outras, tendo como vice Silvana, uma mulher negra do movimento pela moradia. Altino e Silvana são uma forte dupla que vai apresentar uma alternativa à miséria capitalista, que enriquece cada vez mais os bilionários capitalistas e deixa a população pobre trabalhadora em condições de vida cada vez mais precárias.

Vem com a gente contribuir com a construção de uma candidatura socialista e revolucionária, que junto do movimento sindical, popular, social e estudantil, vai lutar em defesa das nossas pautas e reivindicações, sem conciliação com os nossos inimigos.

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