Lutas

Barão de Cocais (MG): População luta contra o fechamento da usina pela Gerdau

PSTU-MG

24 de junho de 2024
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Só em Barão de Cocais, 487 trabalhadores diretos e mais centenas de indiretos foram demitidos

Aldiério Florêncio, da Federação Sindical e Democrática dos Metalúrgicos de Minas Gerais e da executiva nacional da CSP-Conlutas

A direção do Sindicato dos Metalúrgicos de Barão de Cocais (MG), filiado à Federação Sindical e Democrática dos Metalúrgicos de Minas Gerais (FSDM-MG) e à CSP-Conlutas, realizou uma reunião com representantes da Gerdau no dia 27 de maio. Na ocasião foi comunicado a “hibernação”, ou seja, encerramento da planta de Barão de Cocais, assim como as plantas de Sete Lagoas  (MG) e Maracanaú (CE). Os motivos apresentados foram: os custos elevados da matéria prima, a insuficiência da produção de minério próprio em Minas Gerais e a estruturação com menor nível de atualização tecnológico da usina, mais o excesso de aço no mundo.

A reunião seria para iniciar as negociações da Campanha Salarial 2024. Mas os representantes da empresa já chegaram pressionando a direção do Sindicato para fazer uma proposta de Acordo Coletivo de Trabalho (ACT) com o Programa de Desligamento Incentivado (PDI). A direção do Sindicato se negou a fazer qualquer acordo, até porque a reunião não seria para tratar desse tema, mas sim da campanha salarial. Uma outra reunião ficou agendada para o dia seguinte.

Ainda no dia 27 de maio, os representantes da Gerdau, em reunião com os seus funcionários, os aterrorizou com o comunicado da “hibernação” da usina. Na parte da tarde, dispensou todos os trabalhadores diretos e indiretos, passando a vigia-los, restringindo seus acessos as dependências da empresa.

Trabalhadoras e trabalhadores da Gerdau de Barão de Cocais em assembleia para organizar a luta contra o fechamento da usina

Início das mobilizações

Na nova reunião com os representantes da empresa, a direção do Sindicato, acompanhada de sua assessoria jurídica e política, cobrou os reais motivos para a “hibernação”, já que declarações do próprio CEO da Gerdau, Gustavo Werneck [uma das 500 pessoas mais influentes da América Latina, e que, este ano, venceu pela 5ª vez consecutiva o prêmio “Executivo de Valor”, na categoria de Mineração, Metalurgia e siderurgia], informa que:

– “É o melhor momento que a gente já viveu ao longo de 100 anos”;
– Irá investir R$ 7,5 bilhões no Brasil, sendo R$ 3,2 bilhões em Ouro Preto (MG), na mina de Miguel Burnier, pelo período de 40 anos, que fica ao lado de Barão de Cocais;
– Irá investir R$ 1,5 bilhão na Usina de Ouro Branco (MG);
– Irá investir R$ 100 milhões na Usina de Divinópolis (MG);
– Foram investidos R$ 100 milhões na reforma dos dois altos-fornos e aciaria na Usina de Barão de Cocais em 2023.

A usina foi fundada em 1923. Está na mão da Gerdau há 36 anos. Ela faz parte da história, da cultura e da vida de três gerações do povo cocaiense. E se não tem uma estrutura com maior nível de atualização tecnológica é porque a Gerdau não investiu o necessário e só explorou a usina e os trabalhadores.

Na parte da tarde do dia 28 de maio, o prefeito de Barão de Cocais convocou uma reunião ampla com a presença dos vereadores, integrantes da associação comercial, sindicalistas, trabalhadores e população para discutir e tirar encaminhamentos para defender a manutenção do funcionamento da siderúrgica na cidade e dos postos de trabalho. Todos foram pegos de surpresa e traídos pela Gerdau por essa decisão intransigente e unilateral.

Enquanto essa reunião acontecia, a Gerdau já estava convocando os trabalhadores para realizarem os exames “periódicos” demissionais. Apresentou uma minuta de proposta de Acordo Coletivo de Trabalho à direção do Sindicato, que é conjunto de ataques aos direitos dos trabalhadores. A proposta da Gerdau é reajuste de 0% (zero) e Programa de Desligamento Incentivado. A empresa propõe pagar, além dos valores rescisórios de direito, uma indenização a título de PDI (um salário nominal); plano de assistência médica por 30 dias; um vale alimentação de R$ 1 mil; com assinatura do termo de quitação. Para os trabalhadores detentores de estabilidade provisória, como cipeiros e dirigentes sindicais, terão que optar por renunciar aos seus mandatos.

No dia 31 de maio, a direção do Sindicato foi convidada pelo diácono para participar da procissão de Corpus Christi, que terminou na frente da Gerdau. A população levou faixas contra a “hibernação” da usina e em defesa dos postos de trabalho. À noite, a direção do sindicato, da FSDTM-MG e CSP-Conlutas participaram de um culto ecumênico pela não “hibernação” da usina.

Essas atividades foram muito importantes. Pois a luta da classe trabalhadora tem que ser unificada, independente de sexo, raça, trabalho e credo religioso. Priorizando apenas a independência de classe. Afinal, só assim poderemos libertar a classe trabalhadora deste sistema capitalista, opressor, explorador e escravagista.

Manifestação pelo não fechamento da usina e pela manutenção dos empregos

Contraproposta dos trabalhadores

O Sindicato realizou uma assembleia geral no dia 3 de junho. Debateu-se a aprovação a luta pela continuidade do funcionamento da unidade da Gerdau em Barão de Cocais e pela manutenção de todos os postos de trabalho, diretos e indiretos. Também foi aprovada a exigência da estabilidade nos empregos, enquanto o governo federal manter as reduções dos impostos, o aumento das taxas de importações do aço e os investimentos públicos.

A categoria exige negociação da campanha salarial 2024/2025; a discussão de um sério e real PDI para os trabalhadores e trabalhadoras que não tem mais interesse em permanecer na Gerdau; mais investimento na unidade de Barão de Cocais, para que possa continuar sendo produtiva e mais segura e sustentável, protegendo o meio ambiente.

Além dessas pautas, foi aprovado o estado de greve, pela ampla maioria dos 291 trabalhadores presentes, que levantaram os braços gritando: “Peão unido jamais será vencido!”

A Gerdau, de forma unilateral, deu continuidade ao projeto arrogante de “hibernação” da usina, sem realmente negociar com a direção do Sindicato. A empresa convocou os trabalhadores no dia 3 junho, quando entregou o comunicado de desligamento, assinado por 2 testemunhas.

O Sindicato fez uma assembleia na porta da Gerdau orientou os trabalhadores a não entrarem na empresa. Convocou todos para uma assembleia à tarde no Metalusina Esporte Clube.

Continuidade das ações de luta

No dia 6 de junho, a direção do Sindicato e os representantes da Gerdau participaram de uma reunião no Ministério Público do Trabalho (MPT). Os representantes do Sindicato reafirmaram a intransigência da empresa e defenderam as reivindicações aprovadas a assembleia geral pela continuidade do funcionamento da usina e manutenção dos postos de trabalhos com direitos.

No dia 10 de junho, os sindicatos da base da Gerdau de Barão de Cocais, Sete Lagoas, Divinópolis, Ouro Branco e Metabase Inconfidentes, e o prefeito de Barão de Cocais, se reuniram com o superintendente regional do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). No dia 12 de junho, a direção do Sindicato participou de outra reunião com superintendente do TEM, com a presença de representantes da Gerdau, o prefeito de Barão de Cocais e um deputado estadual. O Sindicato voltou a denunciar a ganancia, intransigência e arrogância da Gerdau de passar por cima de tudo, demitindo trabalhadores, sem realmente negociar uma alternativa que atenda às reivindicações dos trabalhadores.

Seguir a luta contra o fechamento da usina

O caso da Gerdau mostra que os capitalistas quanto mais se têm mais se quer. A Gerdau, entre 2017 até hoje, vem passando pelo melhor momento da sua história no aumento dos lucros e quitação das dívidas. Isso às custas da exploração e opressão dos trabalhadores. Foram anos de retiradas de direitos, arrochos salariais, isenção de imposto e aumento das tarifas de importação do aço.

Sem contar que, para pressionar o governo para manter a redução dos impostos e aumentar as tarifas de importação do aço, colocou vários trabalhadores em layoff ano passado, retornando ao trabalho assim que o governo garantiu os caprichos da Gerdau. Isso é usar os trabalhadores como bucha-de-canhão, aterrorizando os mesmos para pressionar o governo com o fantasma das demissões. Agora vem fazendo o mesmo com as “hibernações”, demitir trabalhadores para aumentar ainda mais seus lucros.

Parte do patrimônio da Gerdau pode ter vindo de “especulação financeira” quando se beneficiou de boatos de que as ações da Açominas perderiam valor no processo de privatização, fazendo com que os trabalhadores que tinham comprado ações da Açominas vendessem a preço de banana, as quais a Gerdau acabou comprando e sendo beneficiada.

A hipocrisia da Gerdau é tanto, que ao fazer doação de R$ 30 milhões para reconstrução do estado do Rio Grande do Sul, o CEO da empresa, Gustavo Werneck, que ação era um ato de amor e uma homenagem ao Estado que estava sendo destruído por um desastre ambiental. Só não disse que a Gerdau é uma das responsáveis por essa catástrofe com a destruição do meio ambiente, desmatamento da natureza, poluição do ar, da terra e das águas para manter e aumentar seus lucros já exorbitantes. Um desses casos de crimes ambientais praticados pela Gerdau foi denunciado pelo Ministério Público de São Paulo, devido a contaminação do solo e do lençol freático por metais, hidrocarbonetos de petróleo e fluoreto de uma área no município de Sorocaba.

Em Minas Gerais, o Ministério Público firmou Termo de Compromisso (TAC) com a Gerdau Açominas para a regularização e recuperação ambiental de áreas impactadas pelo lançamento de efluentes em empreendimento localizado no município de Ouro Branco. O acordo foi assinado pela Promotoria de Justiça de Ouro Branco, do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça de Defesa do Meio Ambiente (Caoma) e da Coordenadoria Estadual de Meio Ambiente e Mineração (Cema), em virtude de desconformidades quanto aos limites de lançamentos de efluentes pela empresa, conforme histórico de monitoramento registrado em auto de fiscalização.

O CEO da empresa deveria lembrar do desastre social que a empresa está criando nas cidades onde as usinas estão encerrando a produção. Só em Barão de Cocais foram demitidos 487 trabalhadores diretos e mais centenas de indiretos, atingindo cerca de 4 mil trabalhadores e vários municípios da região metropolitana de Belo Horizonte.

Essa é a real cara dos capitalistas, do mercado, dos acionistas patrões das grandes empresas gananciosas sem limites. Por isso, continuaremos lutando contra o encerramento das atividades das usinas e pela manutenção dos postos de trabalho. Exigimos que os governos estadual e federal expropriem as usinas “hibernadas” e as coloquem em funcionamento, sob o controle dos trabalhadores.

Junto à essa luta, chamamos os trabalhadores a refletir sobre a necessidade de uma outra sociedade, baseadas em outras relações sociais, sem exploradores e explorados, opressores e oprimidos. Pois esse sistema social, o capitalismo, o principal problema, o causador do desemprego, da miséria e da destruição do meio ambiente. Tudo isso para manter os privilégios dos ricos, que representam apenas 1% da população mundial. Só com a destruição desse sistema e com a construção uma outra sociedade (socialista) conseguiremos salvar o meio ambiente, o planeta e libertar a classe trabalhadora.