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Banco Central: Lula tira um banqueiro e bota outro, que promete aumentar os juros

Diego Cruz

5 de setembro de 2024
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Atual presidente do BC, Roberto Campos Neto Foto Paulo Pinto /Agência Brasil

No decorrer de todo seu terceiro mandato, Lula e a direção do PT elegeram o atual presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, como “inimigo número 1” de seu governo.

As críticas tinham sua razão de ser. À frente do banco, Campos Neto manteve uma das maiores taxas de juros do mundo, enchendo os bolsos de grandes rentistas (gente que vive de rendas acumuladas em investimentos financeiros, ações da Bolsa, especulação etc.) estrangeiros, sobretudo megamonopólios financeiros, à custa de bilhões do orçamento.

Veja só a malandragem que essa turma de bilionários fazia: tomavam dinheiro emprestado em países cujas taxas de juros eram baixas, como o Japão, e investia em títulos da dívida pública, aqui no Brasil. Quem pagava a diferença era a gente. Quem embolsava o lucro eram eles. Não foi por menos que a BlackRock, maior fundo financeiro do planeta, elegeu o Brasil, dentre outros países da América Latina, como prioridade. Grana fácil, simples e sem risco.

Bilionários continuam dando as cartas

Mas não se engane. Se por um lado, Lula e o PT travavam uma guerra de microfone contra Campos Neto, por outro impunham o Arcabouço Fiscal, cujo objetivo é justamente garantir o pagamento dessa dívida a essa gente para o qual Campos Neto trabalha na prática.

Ficou confuso? O problema é que Lula e Haddad governam para os bilionários, os banqueiros e as grandes multinacionais. Nisso, tem que garantir que todos se deem bem. Ao manter os juros na estratosfera, os banqueiros e os investidores internacionais riem à toa, mas outros setores, como o industrial e o varejo, torcem o nariz, porque o crédito fica mais caro.

Por que fica mais caro? Para os bancos é mais lucrativo botar o dinheiro na dívida, que, além de render mais, é seguro, do que emprestar, certo?

Sai o Santander, entra o Banco Fator

E ainda tem um problema a mais. Sem crédito, não tem investimento, e a economia sente. Logo, tem uma lógica eleitoral por trás desse embate todo. Não foi por menos que a presidente do PT, Gleysi Hoffmann, disse que Campos Neto era um bolsonarista sabotador. “Eu não posso fazer nada, tenho que esperar ele terminar o mandato e indicar alguém”, disse Lula.

Ao contrário do que Lula disse, haveria, sim, muita coisa a se fazer. A autonomia do Banco Central foi aprovada durante o governo Bolsonaro como forma de entregar a instituição diretamente ao mercado financeiro.

Mas a função do BC, por lei, é cumprir a meta de inflação. Quem determina a meta de inflação é o Conselho Monetário Nacional (CMN), cuja maioria é do próprio governo. Ora, bastava aumentar a meta e esvaziar o argumento para que os juros continuassem altos. Mas nem isso Lula e Haddad fizeram, para não magoar a turma da Faria Lima; ou seja, do centro financeiro de São Paulo.

Pois bem, terminando o mandato de Campos Neto, Lula anunciou o nome de Gabriel Galípolo, ex-diretor do Banco Fator. Sai Campos Neto, o homem do Santander, entra outro banqueiro.

Gabriel Galípolo:  Especialista em privatização e louco para aumentar ainda mais os juros

Quem é Gabriel Galípolo? Apesar de jovem, sua ficha corrida de ataques é razoável. Fez parte do governo de José Serra, em São Paulo, onde, dentre outras coisas, coordenou o setor de concessões e privatizações do governo paulista.

Seus serviços à burguesia lhe proporcionaram o convite para integrar o Banco Fator. E o que fez lá? Ajudou a privatizar, junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), a Cedae, a companhia de saneamento do Rio de Janeiro, famosa por oferecer água preta à população.

Alguém poderia dizer: “Ok, o cara gosta de privatizar, mas pelo menos, lá no Banco Central, vai baixar os juros”. As recentes declarações dele, porém, vão no sentido contrário. Num evento para investidores, Galípolo defendeu a alta dos juros. “A alta está na mesa, e a gente quer ver como isso vai se desdobrar”, disse.

Trocando seis por meia dúzia

E Lula, que passou os últimos dois anos reclamando de Campos Neto, disse que tudo bem. “Se o Galípolo chegar um dia para mim e disser que tem que aumentar a taxa de juros, ótimo, aumente”, afirmou.

Essa repentina mudança de posição mostrou que a questão, de fundo, nunca foi Campos Neto. O atual presidente do BC nunca escondeu ser um bolsonarista e já até disse que comporia um eventual governo Tarcísio. Mas a política econômica do governo Lula tampouco se difere de qualidade disso.

Se Campos Neto sabota o Brasil, em prol do mercado e dos bilionários, a política neoliberal de Lula e Haddad também.

Fim da autonomia do Banco Central e suspensão do pagamento da dívida

O governo Lula não moveu uma palha para reverter a independência do Banco Central. Verdade seja dita, antes disso ser aprovado, tanto o BC quanto o próprio governo sempre foram comandados por banqueiros e rentistas. Mas a tal autonomia é a entrega direta da política monetária aos bancos. É, sobretudo, antidemocrática, porque ninguém elege esses caras.

A cada ponto percentual que decidem subir na taxa de juros, são R$ 38 bilhões a mais de gastos. Segundo a Auditoria Cidadã da Dívida, no ano passado foram repassados R$ 1,8 trilhão aos banqueiros. É uma quantidade até difícil de mensurar, mas basta dizer que são 10 vezes todo o orçamento da Educação em 2024.

É preciso acabar com essa autonomia do BC, suspender o pagamento da dívida, revogar o Arcabouço Fiscal e investir esses recursos em saúde, educação, emprego, saneamento e moradia. Nessas eleições municipais, quem disser que vai melhorar a situação da cidade sem defender isso, está mentindo.