Ato marca os 5 anos do massacre de Paraisópolis
Movimento lança site reunindo relatórios sobre violência policial e canal de denúncias
Uma manifestação realizada neste domingo, 1º de dezembro, em frente ao Palácio dos Bandeirantes, relembrou e exigiu justiça aos 9 jovens assassinados pela Polícia Militar em 2019, no que ficou conhecido como o massacre de Paraisópolis.
Nove jovens entre 14 e 23 anos foram mortos durante uma ação policial no Baile da Dz7. Até hoje o crime permanece impune. Treze policiais denunciados pelo massacre respondem em liberdade, e a sexta audiência para ouvir as testemunhas deve ocorrer só em janeiro.
A manifestação contou com a presença de familiares, amigos dos jovens assassinados, além de movimentos, organizações e ativistas contra a violência policial e o genocídio da juventude negra. Camisetas e estandartes com os rostos dos jovens foram erguidos, mostrando que o movimento não os deixará cair no esquecimento.
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Maria Cristina Quirino, uma das lideranças do Movimento de Familiares das Vítimas de Paraisópolis, que perdeu seu filho Denys Henrique, de apenas 16 anos, cobrou punição não só aos policiais que executaram os jovens, mas a seus mandantes. “O governador João Dória não foi punido pelo massacre de Paraisópolis, terminou o mandato dele e saiu sem punição“, denunciou durante o protesto.
Cristina Quirino denunciou também a política repressiva e assassina, que, governo após governo, só se aprofunda e produz cada vez mais chacinas e massacres, a exemplo do que vem fazendo o governador Tarcísio e seu secretário de Segurança Pública, Derrite. “Assassino não é só quem aperta o gatilho, quem manda também precisa ser punido“, defendeu.
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“O Estado mata a gente quando mata um filho nosso”
“Depois de cinco anos continuamos exigindo justiça para os 9 de Paraisópolis, mas também estamos na luta para que essa injustiça não ocorra mais”, afirmou Flavia Bischain, coordenadora da subsede da Apeoesp-Lapa e militante do PSTU.
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Flavia relatou que, naquele exato dia, houve uma repressão policial contra o baile do Iraque, na região da Brasilândia. Lembrou ainda do garoto Matheus Menezes, assassinado pela PM com um fuzil perfurando seu pescoço.
“Temos que lutar para pôr fim à essa violência que serve a uma Justiça que não é nossa, e também a um Estado que também não é nosso. A única maneira de exigir justiça e reparação aos 9 de Paraisópolis e a todos os outros que perdemos é nos organizando, e tomar o Estado em nossas mãos“, discursou, chamando uma palavra-de-ordem cantada nos atos que sucederam o assassinato de George Floyd nos EUA: “Sem Justiça! Sem Paz!”.
Israel Luz, do Comitê Brasilândia Nossas Vidas Importam e militante do PSTU, defendeu a continuidade da luta e da mobilização, exigindo a punição pelo massacre de Paraisópolis e o combate à política assassina do atual governo Tarcísio. “Essas tragédias são expressão de uma política deliberada do Estado, de ampliar ainda mais o genocídio, como vimos recentemente com a Operação Verão, aprofundam a violência para nos impor o medo e um controle social ainda maior“, denuncia.
Site abre canal de denúncias e relatório
Um dia após a data em que o massacre completou 5 anos, foi lançado, nesta segunda, 2, um site coordenado pela antropóloga e pesquisadora da Unifesp (Universidade Federal do Estado de São Paulo) e do CAAF (Centro de Antropologia e Arqueologia Forense), Desirée Azevedo, junto ao movimento de familiares das vítimas do massacre, cujo objetivo é o de relatar a violência policial nas periferias, inclusive contra os “pancadões”, e a mobilização por justiça.
“A gente não encontra em lugares como Pinheiros ou Vila Madalena operações policiais para resolver determinados problemas, as operações são exclusivamente utilizadas nas periferias da cidade, em que temos uma população preta, periférica, e a polícia age exclusivamente nesses espaços onde essa população está exercendo seu direito ao lazer e à diversão“, explicou a pesquisadora.
Entre as informações levantadas pelo projeto, que também tem a colaboração do Núcleo Especializado de Cidadania e Direitos Humanos (NECDH) da Defensoria Pública do Estado de São Paulo, está o das vítimas da Operação Pancadão na capital e região metropolitana. Entre 2012 e 2024, 16 pessoas morreram, dentre elas 7 menores de idade, e 6 crianças e adolescentes perderam a visão.
Cristina Quirino, mãe de Denys Henrique, clamou para que “não criminalizem nossos filhos por estar no baile funk”. E completou: “o funk merece respeito, a juventude merece respeito e, principalmente, o direito à vida”.
Fernanda Garcia, irmã de Dennys Guilherme, mostrou o memorial no site que conta a história dos nove: Gustavo, Denys Henrique, Marcos Paulo, Dennys Guilherme, Luara Victória, Bruno Gabriel, Gabriel Rogério, Eduardo e Mateus. Como ela disse, se seu irmão estivesse vivo, falaria que o site está chave, gíria usada por muitos jovens da periferia de São Paulo.
Foi exibido ainda o canal de denúncias presente no site para que a população possa dar visibilidade à crescente repressão policial nesses espaços. É o momento de “fazer muito barulho contra a violência policial”, afirmou Danylo Amilcar, do movimento de familiares.