Editorial

A hipocrisia do governo Lula e a ingratidão dos bilionários capitalistas

Redação

20 de dezembro de 2024
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Presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad e o ministro Alexandre Padilha, após reunião de líderes do Senado Federal quando Haddad apresentou medidas econômicas discutidas pelo governo federal. Foto Lula Marques/ Agência Brasil

Se tem algo que marca o governo Lula neste ano é a sua peculiar característica de dizer uma coisa e fazer outra.

Fala que defende os direitos das mulheres, mas se omite vergonhosamente diante da aprovação da PEC dos estupradores. Não faz nada, nem sequer tece uma crítica ao governo de São Paulo, em meio à onda de violência policial no estado dirigido por um bolsonarista de carteirinha, que vem transformando a Polícia Militar, ainda mais, numa máquina de matar trabalhadores, pobres e negros. Na verdade, o PT não pode falar muito, porque a PM do seu governo, na Bahia, reproduz o mesmo modus operandi de uma violência racista e elitista contra os mais pobres.

Diz que é contra a ultradireita bolsonarista, mas segue adotando uma postura conciliatória, mantendo José Múcio, passador de pano de golpista e próximo do bolsonarismo, à frente do Ministério da Defesa.

A prisão de Braga Netto deveria ser apenas o começo. Para romper definitivamente com a tradição golpista, deveria começar demitindo toda a cúpula militar. Como também seria necessário extinguir o famigerado Artigo 142 da Constituição e reformar profundamente as academias militares.

Mas, ao invés disso, o governo Lula vem fazendo o contrário. Faz parcerias em privatizações e com governadores de ultradireita, como Romeu Zema, em Minas Gerais, e o próprio Tarcísio de Freitas, avançando contra o patrimônio público e fortalecendo esse setor da extrema direita. Isto demonstra que o governo do PT é incapaz até mesmo de enfrentar os bolsonaristas golpistas e a ultradireita.

Por fim, fala que defende os trabalhadores e que vai taxar os ricos. Mas, na prática, o governo construiu um ajuste fiscal aos moldes do que os bilionários capitalistas queriam.

E, se não bastasse, tem entregado todas as emendas parlamentares que o Centrão exige para garantir a aprovação de um pacote de ajuste fiscal que, na realidade, nada mais é do que uma série de ataques contra os trabalhadores, retrocedendo no reajuste do salário mínimo e cortando o Benefício de Prestação Continuada (BPC) pago aos idosos e às pessoas com deficiência, além do abono salarial.

Medidas que também limitam os investimentos públicos em áreas sociais, como Saúde e Educação, enquanto garantem recursos para os bilionários capitalistas, através do mecanismo da dívida pública.

Bilionários querem mais

As medidas do governo foram elogiadas por setores do mercado. Os banqueiros defendem e agradecem a Haddad, como noticiado, após reunião na Federação Brasileira dos Bancos (Febraban).

Mas, tanto a grande imprensa quanto vários outros setores dos bilionários capitalistas exigem ainda mais ataques do governo. Por isso, o dólar foi parar em R$6, mostrando que, apesar de toda dedicação do governo em agradar o “deus mercado”, este mostra a sua ingratidão, aumentando as críticas à gestão do PT.

Política econômica deve ser o único caso onde o velho ditado que nos lembra que “quando um não quer, dois não brigam” não seja aplicável. Parte do mercado está brigando com o governo, mas o governo não briga com o mercado. Pelo contrário, cada reclamação do mercado contra o governo, faz este ceder mais, sem brigas ou lamúrias.

Assim, Haddad demonstra toda a subserviência do governo ao mercado, já anunciando, para que os bilionários fiquem tranquilos, que novos cortes serão realizados se necessários e, também, já prometendo rever o piso constitucional da Saúde e da Educação.

O governo apresenta todos os ataques que têm sido aprovados como grandes conquistas de seu projeto. Isto faz cair por terra todo o discurso daqueles que dizem que o governo vem fazendo o possível, mas o Congresso Nacional e a “correlação de forças” não deixam eles fazerem mais.
Afinal, se é o próprio governo que constrói e apresenta as medidas de ataques e, ainda, comemora sua aprovação, isso quer dizer que foi seu projeto que passou, e não que seu projeto tenha sido supostamente deturpado pelo Congresso.

Hipocrisia da extrema direita

Há uma oposição de direita no Congresso Nacional que quer piorar ainda mais o ataque do governo. Concordam com o sentido da proposta, que é fazer com que os trabalhadores e trabalhadoras paguem a conta da crise fiscal. Mas, querem que o ataque seja ainda maior.

Este setor critica a isenção de imposto de renda para quem ganha até R$5 mil e a taxação de quem ganha mais de R$50 mil. São pilantras, que escondem que quem realmente vive de benesses do Estado no Brasil são os bilionários e as grandes empresas, que têm toda sorte de benefícios e isenções fiscais.

Esta medida prometida pelo governo é insuficiente diante da brutal desigualdade social brasileira. Justamente por não atacar a raiz do problema, que é o papel dos bilionários capitalistas, das grandes empresas e multinacionais, que exploram os trabalhadores, levam as riquezas do país e pagam bem menos impostos que os trabalhadores e os pequenos proprietários.

O fato do mercado e parte da oposição de direita ao governo estarem reclamando e exigindo mais cortes não quer dizer que o pacote de ataques do governo seja positivo para os trabalhadores. Quer dizer apenas que, a partir de uma mesma estratégia de ataque contra os trabalhadores, os setores capitalistas divergem sobre a forma exata em como fazer isso nesse momento.

Enquanto isso, o governo tenta fazer propaganda dos índices econômicos que supostamente têm uma melhora, com o país crescendo e o desemprego diminuindo.

Mas o capitalismo é uma máquina de transferir a riqueza produzida pelos trabalhadores para os capitalistas. Assim, mesmo com crescimento econômico, hoje, o povo pobre e trabalhador não vê grandes melhorias no seu nível de vida. Vê salários arrochados e os preços subindo, com as coisas se complicando a cada fim de mês.

Lutar com independência de classe

É preciso fazer um grande movimento de luta contra estes ataques do governo. Os trabalhadores devem enfrentar tanto os ataques do governo Lula quanto as propostas da oposição de direita, que pioram ainda mais as já péssimas medidas do governo.

Ninguém aguenta mais tanta exploração. Não é à toa que a pauta pelo fim da jornada 6×1, como uma forma de reduzir a jornada de trabalho, tenha ganhado tanto peso. Os capitalistas, em nome dos seus lucros, querem que os trabalhadores e trabalhadoras não tenham vida além do trabalho.

Diante do crescimento da mobilização, a patronal já está tentando silenciar as manifestações, como a rede Zaffari, que processou o PSTU para tentar impedir novas manifestações. A luta não recuará!

O governo não faz nada pela aprovação desta reivindicação no Congresso; mas dedica todas suas energias, na verdade, para aprovar ataques contra os trabalhadores. Ao mesmo tempo, tenta neutralizar e esterilizar as manifestações, para que se mantenham sob seu controle, de modo que não gerem insatisfações nos bilionários capitalistas ou não gestem um processo de mobilização muito grande no país, pois isto poderia levar a questionamentos sobre o que seu governo vem fazendo.

O PT considera que a tarefa dos ativistas deveria ser apoiar o seu governo, com a desculpa de “derrotar a ultradireita”, enquanto fazem parcerias com este mesmo setor. Este projeto do PT, de Frente Ampla com a direita e os bilionários capitalistas, tem levado o país a tragédias.

O atual governo do PT tem encontrado um cenário muito mais desafiador. E isto é assim porque o mundo não é o mesmo de 20 anos atrás. Nos dias de hoje, o capitalismo mundial é marcado por um crescimento da instabilidade, do desequilíbrio da ordem mundial. Há cada vez mais guerras e, com maior e crescente intensidade, mais crises, mais tragédias ambientais; mas, também, mais lutas e revoluções.

Oposição de esquerda e socialista

Não existe isso de apoiar o PT e a aliança com a burguesia até que a ultradireita saia de cena para, só a partir daí, podermos lutar pelo programa dos trabalhadores, pelo socialismo e pela revolução. É justamente o contrário.

A disjuntiva socialismo ou barbárie está cada vez mais presente na vida imediata das pessoas. A ultradireita veio pra ficar e combatê-la também significa enfrentar um governo encabeçado pelo PT, que faz alianças com a burguesia, faz parcerias com governadores da ultradireita e aprofunda os ataques contra os trabalhadores, beneficiando o capitalismo no Brasil, que é o solo de onde brota a própria ultradireita.

Por isso, aqui no Brasil, é necessário nos localizarmos na oposição de esquerda ao governo Lula e, também, contra a oposição de direita. Reafirmamos que é preciso fortalecer uma organização revolucionária e socialista no Brasil, que apresente uma alternativa dos trabalhadores diante da crise e da polarização atuais.