A 83 anos de seu assassinato pelo stalinismo, Trotsky vive na luta pela revolução mundial
No dia 21 de agosto de 1940, há 83 anos atrás, Leon Trotsky foi assassinado por Ramon Mercader, um espião soviético, por ordem de Josef Stálin. Terminava, assim, a mais encarniçada e duradoura perseguição promovida pelo stalinismo, na época; movida com insistência e ódio proporcionais ao temor que Stálin tinha de seu principal opositor.
Trotsky, sua vida, obra e suas iniciativas políticas estarão ligados, para sempre, à história da Revolução Russa. Na Revolução de 1905, já havia desempenhando um importante papel, ao presidir o primeiro “soviet” (conselho) de deputados operários de Petrogrado. Em 1917, uniu-se ao Partido Bolchevique e novamente foi eleito presidente do “soviet” da então capital da Rússia. Na Revolução de Outubro, dirigiu o Comitê Militar Revolucionário, que organizou a tomada do poder pelos bolcheviques.
Fundador do Exército Vermelho
Na Guerra Civil (1918-1921), contra o Exército Branco (ou Guarda Branca, formado por forças nacionalistas e contrarrevolucionárias, agrupando organizações anti-comunistas, conservadoras e czaristas) e pelas tropas invasoras dos países imperialistas, Trotsky organizou e dirigiu o Exército Vermelho. A recém formada União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) saiu vitoriosa da Guerra Civil, garantindo a existência do primeiro Estado Operário do mundo.
Durante a guerra, Trotsky também participou, de forma ativa, da fundação da III Internacional, foi um dos seus principais dirigentes e autor de várias resoluções aprovadas em seus primeiros quatro congressos.
Contrarrevolução burocrática
A luta contra o stalinismo
Depois da vitória na Guerra Civil, o Estado soviético viveu um terrível isolamento internacional. A onda revolucionária que varreu a Europa depois do final da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) retrocedeu. A revolução foi derrotada em vários países, principalmente, na Alemanha.
A URSS que emergiu da Guerra Civil era um país com a infraestrutura destruída, fome generalizada e um milhão de operários que foram mortos em defesa da revolução. Nessa situação, o governo soviético teve de utilizar muitos dos funcionários e técnicos do antigo regime reacionário.
A combinação destes fatores produziu uma nova camada social privilegiada de burocratas (funcionários diretamente ligados às estruturas do governo). Stálin, um dirigente sem expressão, tornou-se a cabeça dessa nova burocracia.
Com a doença e posterior morte de Lênin (o principal líder da Revolução), em janeiro de 1924, uma contrarrevolução burocrática foi iniciada, sob a direção de Stálin. Neste momento, Trotsky organizou a Oposição de Esquerda, que lutou contra a burocratização da URSS, do Partido Comunista e da III Internacional.
O isolamento da União Soviética, porém, acabou derrotando a Oposição. Em 1927, Trotsky e milhares de oposicionistas foram expulsos do Partido Comunista, presos e exilados na Sibéria. Em 1929, Trotsky foi finalmente expulso da URSS e enviado para um exílio forçado, na Turquia.
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Expurgos
Stálin exterminou comunistas que fizeram a revolução
A burocratização da URSS levou a III Internacional, os Partidos Comunistas e a própria revolução internacional a se subordinarem aos interesses da casta dirigente do Estado soviético. Esta criou a teoria-justificativa do “socialismo num só país”, segundo a qual a URSS já seria uma economia socialista nacional. Assim, os partidos comunistas mundo afora, seguindo a orientação de Stalin, frearam a Revolução Chinesa (1927) e a Revolução Espanhola (1936-1939), para promover alianças com setores da burguesia.
Trotsky insistiu sempre no caráter internacional de todos os fenômenos da nossa época. Por isso, o elemento central da sua Teoria da Revolução Permanente é a necessidade de uma perspectiva internacionalista na luta pela revolução socialista. O capitalismo em sua etapa imperialista, com sua decadência, arrasta a humanidade às guerras, às crises permanentes e, finalmente, à barbárie. A revolução socialista é uma necessidade, pois o próprio capitalismo só pode ser derrotado internacionalmente.
No entanto, para justificar a violação de todos os princípios do marxismo e do socialismo internacional, o stalinismo precisava destruir toda a velha-guarda do Partido Bolchevique. Esse objetivo foi alcançado com o chamado “Grande Expurgo”, que começou em 1934 e significou a execução ou morte nos campos de concentração de centenas de milhares de comunistas opositores.
Os Processos de Moscou
Stálin promoveu a farsa dos Processos de Moscou (1936-1938), nos quais dezenas de dirigentes da Revolução de Outubro, como Zinoviev, Kamenev, Preobrazhensky e Bukharin foram acusados de traição e sabotagem, julgados e fuzilados. Trotsky, mesmo no exílio, foi o principal acusado, inclusive de ser um agente do nazismo.
A obsessão assassina de Stálin se deveu ao fato de que Trotsky era o último dirigente vivo da Revolução de Outubro e o único que continuava enfrentando a burocracia de forma consequente. O ditador temia que o fim da Segunda Guerra (1939-1945) desencadeasse um novo processo revolucionário mundial e que Trotsky pudesse representar, para o proletariado, a tradição desta revolução.
Sabendo disso, Stálin planejava sua morte. Trotsky dedicou os últimos anos de sua vida para a construição uma nova organização revolucionária internacional. E, felizmente, conseguiu realizar a tarefa que ele mesmo considerava sua grande obra: em 1938, foi fundada a IV Internacional. O elo de continuidade do marxismo revolucionário não foi rompido.
Cultura e opressão
A personalidade questionadora e rebelde de Trotsky, ao lado de sua concepção internacionalista e global da revolução, fizeram, ainda, que ele dedicasse parte de seu tempo para discutir e elaborar sobre os aspectos mais diversos no que tocam à plena libertação da humanidade, com destaque para a Arte, a Cultura – que o inspirou a fundar, em 1938, ao lado do artista surrealista André Breton, a Fundação Internacional por uma Arte Revolucionária e Independente (FIARI) – e o tema das opressões, particularmente o combate ao racismo, como ficou registrado em seus escritos sobre a África do Sul e nos debates realizados dirigentes socialistas como Arne Swabeck, Albert Weisbord, C.L.R. James e James Cannon.