Mundo Árabe

Palestina Livre: “Resistimos, existimos, não seremos apagados do mapa”

Soraya Misleh

11 de outubro de 2024
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Um ano de genocídio em Gaza. Mais um ano de resistência do povo palestino. A partir de sua falsa propaganda, Israel se sentiu avalizado, como base militar do imperialismo na região do Oriente Médio e Norte da África, a buscar sua “solução final” na contínua Nakba (a catástrofe palestina cuja pedra fundamental é a formação desse estado racista em 15 de maio de 1948). Conforme estudo de pesquisadora da Universidade de Edimburgo, se o genocídio seguir, até o final do ano de 2024, serão algo como 335.500 palestinos mortos em Gaza – 14% da população da estreita faixa. E há experimentos de reprodução de genocídio na Cisjordânia e no Líbano. Mas dizemos em alto e bom som: resistimos, existimos, não seremos apagados do mapa.

O povo palestino enfrenta essa ameaça há mais de 76 anos, na contínua Nakba. Em 1948, sobre seus corpos e escombros de suas aldeias, Israel se criou em 78% da Palestina histórica. A sociedade palestina se vê, desde então, inteiramente fragmentada – sendo que metade dos 13 milhões encontra-se no refúgio/diáspora e metade sob violenta colonização, apartheid, limpeza étnica, genocídio.

Em 1948, dois terços foram expulsos violentamente na limpeza étnica que contou com genocídios em dezenas de aldeias em que estupros foram instrumentais para aterrorizar a população e forçar sua saída de terras que sempre foram suas. Cerca de 800 mil palestinos passaram a ser refugiados da noite para o dia e cerca de 530 aldeias foram destruídas para dar lugar a kibutzim (assentamentos que proliferam a cada dia, construídos sobre terras palestinas, portanto). Kibutzim como os que se situam no entorno da faixa de Gaza – a qual foi ocupada militarmente, junto com Cisjordânia e Cidade Velha de Jerusalém, em 1967.

Gaza e Cisjordânia

Gaza já enfrentava situação dramática, após 17 anos de cerco sionista criminoso e uma coletânea de massacres. A Organização das Nações Unidas (ONU), em 2015, chegou a afirmar que a estreita faixa se tornaria inabitável em cinco anos. Não começou agora, quando tudo está destruído e a carnificina continua, além da imposição israelense dos agora mais de 2 milhões de palestinos (fora os que foram assassinados) à fome, à sede, à falta de condições sanitárias e tratamento médico.

Na Cisjordânia e Cidade Velha de Jerusalém, apartheid, expansão colonial agressiva e limpeza étnica são a regra a que a ocupação sionista submete algo como 3,2 milhões de palestinos. Já são, nesta nova fase da Nakba, mais de 700 mortos e milhares de feridos, com dezenas de cidades sitiadas e de aldeias despovoadas em meio a ataques das forças de ocupação e pogroms por parte de colonos racistas e violentos. Nove mil novos assentamentos foram autorizados por Israel em meio ao genocídio atual. O roubo de terras palestinas se acelera. Ainda, o número de presos políticos mais que dobrou, os quais estão submetidos a torturas inomináveis, inclusive estupros.

Responsabilidade do Brasil

O governo Lula precisa romper relações com Israel imediatamente

Diferentemente do que o oligopólio midiático nas mãos dos grandes capitalistas apresenta, o que se vê hoje não é uma guerra entre iguais, mas, vale reafirmar, genocídio – conforme descrito inclusive na Convenção para a Prevenção e Repressão do Crime de Genocídio, ratificada pelo Brasil em 15 de abril de 1952.

Segundo esta Convenção, que ironicamente data de 9 de dezembro de 1948 – quando os palestinos se enfrentavam com a pedra fundamental da Nakba –, “entende-se por genocídio qualquer dos seguintes atos, cometidos com a intenção de destruir, no todo ou em parte, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso, tal como: assassinato de membros do grupo; dano grave à integridade física ou mental de membros do grupo; submissão intencional do grupo a condições de existência que lhe ocasionem a destruição física total ou parcial; medidas destinadas a impedir os nascimentos no seio do grupo; transferência forçada de menores do grupo para outro”.

Ou seja, tudo o que Israel faz contra o povo palestino e está amplamente documentado, sendo transmitido ao vivo. Os signatários dessa Convenção têm obrigação em não permitir o genocídio, podendo ser responsabilizados pela inação ou omissão. Entre elas, “estabelecer sanções penais eficazes” aos que cometem esse crime contra a humanidade.

Governo fala em genocídio, mas não rompe relações

Lula reconheceu, ainda em fevereiro, durante sua participação na 37ª Cúpula da União Africana, na Etiópia, o genocídio cometido por Israel contra o povo palestino em Gaza e reiterou isso em outras ocasiões.

No entanto, um ano depois – e com o genocídio batendo às portas do Líbano e com mais intensidade na Cisjordânia –, o Brasil não só mantém acordos e relações com Israel, como, por meio de seu Ministério das Relações Exteriores, soltou uma nota à imprensa digna de repúdio no dia 7 de outubro de 2024.

No comunicado, o governo Lula insiste em classificar erroneamente a resistência palestina como “ataques terroristas” – o que ignora o reconhecimento do direito de os povos sob colonização resistirem sob todos os meios e faz coro à propaganda de guerra contra todo o povo palestino. A nota é tal lamentável que os palestinos não existem nela. O genocídio que Lula reconheceu está ausente.

Por ocasião do aniversário de um ano do genocídio e da resistência heroica e histórica palestina, que não se dobra, nas ruas e em todos os cantos, as vozes se levantam e exigem a ruptura imediata de relações econômicas, acadêmicas e diplomáticas com o Estado genocida de Israel. Esta é a solidariedade que precisamos e queremos. Seguiremos em marcha até a Palestina livre do rio ao mar.

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Um ano de genocídio e resistência