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O maior Plano Safra da história: o governo Lula e as queimadas

PSTU-SC

10 de outubro de 2024
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A agropecuária na Amazônia cresceu 417% em 39 anos, afirma pesquisa do Observatório do Clima | Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Henrique Cruz – comerciante, de Santa Catarina

O processo de desindustrialização do Brasil, iniciado no final da década de 1980, faz o país ficar cada vez mais dependente de tecnologia externa. Isso acontece por conta da reestruturação capitalista, onde cada país do mundo passa a cumprir determinados papéis na divisão mundial do trabalho. Trata-se de uma espécie de acordo entre as burguesias nacionais e o imperialismo. Onde um pequeno número de países ricos detém o monopólio da produção de produtos de alto valor agregado e países que vão se tornando semi colônias sobra a produção de commodities (mercadorias primárias produzidas em larga escala que fornecem matéria-prima para diferentes setores da indústria. No Brasil, voltado para exportação e cotado na bolsa de valores).

Nessa dinâmica, os bilionários capitalistas nacionais dos países semi-coloniais tornam-se capachos do imperialismo, seus sócios minoritários, e asseguram que os governos sigam aplicando políticas econômicas que favoreçam as multinacionais e o sistema financeiro internacional, levando a classe trabalhadora a uma situação de miséria cada vez maior e precarizando cada vez mais os serviços públicos básicos.

Os bilionários capitalistas nacionais, embora enriquecidos ao serem rebaixados na divisão mundial do mercado, se apoiam cada vez mais na monocultura agrícola, em sociedade com multinacionais que operam no campo, que para sobreviver na concorrência do mercado internacional, depende que seu preço seja cada vez mais baixo e, para a balança comercial de um país que se desindustrializa-se a cada dia fechar no positivo, necessita produzir cada vez mais.

Basicamente temos a receita de uma “bomba” que fica mais agressiva a cada ano, fruto dessa dinâmica econômica irracional do mercado capitalista.

Essa necessidade de produzir mais, de forma predatória, atacando da forma mais violenta possível comunidades indígenas, utilizando mão de obra análoga à escravidão e praticando queimadas para expansão agrícola cada vez maiores vem sendo a saída para o Brasil sobreviver no capitalismo mundial.

Cada país da periferia capitalista vai tendo a sua dinâmica econômica nesse modelo refém do imperialismo e se apoiando em um ramo primário da economia, de baixo valor agregado, com baixo dinamismo econômico, trazendo consequências econômicas e sociais enormes para os trabalhadores de cada país.

Queimadas

Por isso, temos que entender a relação direta do governo Lula com as atuais queimadas. Primeiro, porque o governo Lula 3 só está reafirmando o que fez anteriormente todos os governos do PT: elegendo as multinacionais do agronegócio como “orgulho nacionais”. Com isso, temos infinitas isenções fiscais, regalias, incentivos e um plano safra histórico para o agronegócio. O plano safra de Lula, que o governo tanto se orgulha, é quase 30% maior do que o de Bolsonaro, que era aliado declarado do agronegócio.

Ao conceder quase R$ 400 bilhões para o agronegócio, o mesmo, obviamente, terá que expandir suas terras produtivas para aplicar tanto recurso a fim de aumentar a produção de commodities. Não é difícil entender, portanto, a relação disso com a proporção das atuais queimadas Brasil afora.

O governo Lula (PT), ao dar o incentivo financeiro para o agronegócio expandir a produção de commodities para exportação a custo baixo, seguiu patrocinando a catástrofe climática aplicada pelos bilionários capitalistas brasileiros e seus sócios imperialistas. Uma devastação que hoje é impossível de esconder de toda população já que acarreta problemas de saúde de norte a sul do país, com consequências futuras incalculáveis.

BR-319

E, na lógica capitalista, esse modelo não tem freio. Como se não bastasse isso, o governo ainda discute a retomada das obras da BR-319, no Amazonas, que trará ainda mais destruição para a região e agravará a crise climática em todo o país.

E aqui é importante esclarecer que ao falarmos da agricultura dos bilionários capitalistas, precisamos diferenciar o agronegócio da agricultura familiar e das pequenas e médias propriedades.

Os representantes do agronegócio são empresas multinacionais e grandes latifundiários que produzem commodities para exportação numa escala de bilhões de dólares, com incentivo dos governos, isenções fiscais, modelos de financiamento especiais, cheios de regalias. Além disso, recebem vista grossa para crimes ambientais e trabalhistas, possuem poderosas bancadas nas diferentes esferas do poder legislativo, mandam e desmandam em vários políticos dos diferentes níveis do poder executivo também.

Plano Safra

A burguesia ligada ao agronegócio não vive só da terra, as teias de seus capitais rodam o mundo, num emaranhado que vai do sistema financeiro às sociedades anônimas com empresas multinacionais de diferentes setores e também de segmentos ligados à produção agrícola, como máquinas, equipamentos e agrotóxicos. Aliás, muitos desses agrotóxicos são proibidos em seus países de origem.

Para termos uma noção do valor do alardeado “maior plano safra da história” promovido pelo governo Lula (PT), enquanto destinou quase 400 bilhões ao agronegócio, foram destinados apenas R$ 70 bilhões para a agricultura familiar, ou seja, 80% a menos. Se os bilionários do agronegócio fossem sinônimos de agricultura, não teríamos dois modelos de financiamento: um voltado para a produção de commodities e outro para a agriculta familiar e pequenas e médias propriedades.

Lembrando que, enquanto o agronegócio produz commodities para exportação, a agricultura familiar é responsável por mais de 70% do alimento consumido pelos brasileiros.

Mas é preciso ressaltar que a agricultura familiar e mesmo pequenas e médias propriedades também são vítimas da lógica capitalista. Isso porque não seguem um plano de produção socialmente elaborado visando à segurança e qualidade alimentar de toda população e produzem, muitas vezes, o que vale a pena financeiramente. Ademais, são reféns da tecnologia cuja propriedade está nas mãos de meia dúzia de multinacionais produtoras de veículos, máquinas, sementes, equipamentos e dos próprios produtos utilizados para a produção. São reféns dos preços de mercado. São reféns inclusive da barbárie climática que se acentua com o agronegócio, pois muitos têm grandes perdas no campo com as chuvas desproporcionais que vem atingindo a produção a cada ano.

Outro modelo de sociedade

É necessário defender a agroecologia, a agrobiodiversidade, a agrofloresta! É necessário levantar a bandeira pelo fim dos agrotóxicos! É necessário lutar por uma grande reforma agrária que esse país nunca teve! E essas necessidades, cada vez mais urgentes, não sairão do papel com governos traidores ou com negacionistas. Não sairão do papel nesse mundo capitalista, pois é essa forma de sociedade que produz a barbárie climática! Por isso defendemos uma revolução socialista para lutar de fato contra tudo que está aí!

Precisamos dialogar com toda a classe trabalhadora, o povo pobre, os estudantes, sobre esses problemas. Não é “culpa da humanidade”, mas sim de meia dúzia de bilionários que lucram com a barbárie. Devemos denunciar os capitalistas, a extrema direita negacionista, como são os governos bolsonaristas, mas também denunciar as lágrimas de crocodilo da esquerda reformista e governista. O governo Lula é parte do problema. Deve ser combatido e denunciado.

Devemos nos apoiar nas lutas da própria classe trabalhadora, da juventude e do povo oprimido. Participar de manifestações e exigir reforma agrária, a não retomada da obra da BR-319 e respeito aos povos originários, com demarcação de terras urgentes!

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