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Sarandi urgente! Moradores da periferia vão à luta e desafiam governos

Denior José Machado, de Porto Alegre (RS)

20 de junho de 2024
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Moradores do bairro Humaitá fecham BR-290

Caminhar pelas ruas do Bairro Sarandi, segundo mais populoso de Porto Alegre, lembra um cenário de guerra. Montanhas de entulho na frente das casas, misturadas com matéria orgânica e esgotos, ratos e baratas por todos os lados, inclusive cobras. Além de fonte de doenças e de um mau cheiro insuportável, todo este lixo impede o escoamento da água.

Bairro pobre da cidade, particularmente as vilas Asa Branca e Brasília, o Sarandi sempre foi uma área de risco. Muitas casas foram totalmente cobertas pela água. Há casas construídas em cima do dique que se rompeu. A prefeitura quer remover, mas enfrenta a resistência de quem não tem garantia alguma de que terá outra casa ou, então, será jogado para regiões distantes.

No Sarandi, a exemplo do Humaitá e da Vila Farrapos, entre outros bairros pobres, pipocam protestos. Num condomínio popular, moradores fecharam a rua. A Brigada Militar foi desmobilizar e uma senhora de 70 anos os enfrentou, dizendo que só sairia dali se a própria polícia limpasse a rua.

O prefeito Melo armou uma reunião controlada pelos seus apoiadores. Já a Câmara dos Vereadores, montou uma Audiência Pública no Bairro, mas afastada de onde estão os moradores mais afetados e cercada pela Guarda Municipal.

É verdade que alguns parlamentares sempre aparecem nestes eventos, alguns manipulados por apoiadores da Prefeitura. Mesmo assim, os poucos vereadores e assessores presentes tiveram que ouvir protestos do povo, que os acusavam de omissão com frases como “Onde estavam vocês – governos e vereadores – todo este tempo?”.

Ou seja, ali mesmo, as autoridades foram desafiadas e também ecoaram propostas de intensificar os protestos, bloqueando, com lixo, a entrada e saída da cidade.

Aumenta a disposição de luta e auto-organização

Em nova reunião, no dia 18, com Comissão de Direitos Humanos da Câmara, os moradores apresentaram sugestões à Prefeitura para a resolução do problema dos entulhos, como, por exemplo, contratar provisoriamente o serviço de pessoas voluntárias que possuem caminhões.

Também solicitaram postos de saúde móvel, para impedir o agravamento das doenças, e equipes que auxiliem o cadastramento das pessoas vulneráveis, para receberem benefícios de renda. Além disso, estão propondo a instalação de uma lavanderia comunitária e já conseguiram as máquinas de lavar, através de doações.

Exigiram, também, um ponto de fornecimento de água para a Prefeitura. Além disso, pediram a manutenção e alargamento do dique, que deveria proteger a região de enchentes. Mas nada disso tem sido garantido pelos governos e o Legislativo.

Há disposição para lutar e resolver os problemas que afetam a comunidade. O necessário é romper a fragmentação em várias associações e grupos que foram formados e fazer uma assembleia de todas as vilas que compõem o bairro, para ter mais força e organização para tomar as rédeas da situação e exigir que a Prefeitura e a Câmara se submetam às suas reais necessidades.

Aeroporto de Porto Alegre

Privatização do lucro e socialização dos prejuízos

Se há um personagem que ilustra como realmente agem as multinacionais que dizem “investir” no país, este é o caso da Fraport, a concessionária do aeroporto Salgado Filho/Porto Alegre. Ela é proprietária e operadora do aeroporto de Frankfurt, o maior da Alemanha, e possui outros 30 pelo mundo. Arrematou o Aeroporto Salgado Filho por R$ 382 milhões, a serem pagos em 25 anos.

De lá pra cá, já recebeu inúmeras isenções fiscais. Só de IPTU, foram R$ 80 milhões de isenção. O BNDES acabou de suspender, por um ano, o pagamento das parcelas do empréstimo que concedeu à Fraport. Foi com esses recursos que a empresa realizou 78% de todo o investimento que o aeroporto exigia.

Com os prejuízos das enchentes, a Fraport está fazendo uma enorme chantagem para que o contrato de concessão seja revisto. Diz que, se o governo federal não pagar a maior parte dos prejuízos, eles não retomarão o funcionamento e abandonarão a concessão. “Não somos uma companhia de caridade. Fizemos investimentos aqui e queremos recuperar o dinheiro”, disse Andreea Pal, a Diretora Executiva (CEO) da Fraport.

Um governo que se diz defensor da soberania deveria expulsar essa multinacional. Seria uma oportunidade para iniciar a reestatização do setor aéreo, que está nas mãos do capital privado. Mas não é isto que o governo está fazendo.

Já foram realizadas várias rodadas de negociação, para buscar uma conciliação com a empresa. Maria do Rosário, pré-candidata à Prefeitura de Porto Alegre pela frente PT/PSOL/PCdoB, após uma visita ao aeroporto, declarou: “Vou defender que o governo federal antecipe R$ 130 milhões que, a empresa afirma, serão ressarcidos pelo seu seguro particular e cujo recebimento poderá demorar dois anos”.

Pelo contrato, a Fraport é obrigada a segurar o aeroporto. Contrato esse do qual ela tinha conhecimento dos riscos. A responsabilidade pela negociação com a seguradora também é dela. Ou seja, a proposta é uma rendição total às chantagens da multinacional.