Meio ambiente

O Regenera RS e a Gerdau: A hipocrisia da filantropia dos bilionários gaúchos

 Dão com uma mão e pegam muito mais com a outra

Vania Gobetti, de Porto Alegre (RS)

8 de junho de 2024
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Enquanto a ultradireita faz de tudo para passar pano nos seus bilionários de estimação, particularmente no Neymar, ainda mais após o seu envolvimento na “PEC das privatização das praias” e no Véio da Havan, criando fakenews que ressaltam a atuação do empresário na tragédia humanitária no Rio Grande do Sul, a grande imprensa também não faz por menos.

Tem sido frequente a divulgação, pelos jornais e TV’s, das doações de grandes grupos econômicos e bilionários para a reconstrução do nosso estado.

Nesta semana, foi divulgada a criação do fundo filantrópico emergencial “Regenera RS”, com doação inicial de R$30 milhões do Instituto da família Gerdau para projetos em educação, habitação, soluções urbanas e negócios. O fundo será gerido por uma empresa de consultoria, a Din4moLab. Um dos acionistas da família Gerdau, André Johannpeter, afirmou que “é preciso repensar o RS após a catástrofe”, e que está participando da reconstrução junto com outros empresários do “Transforma RS”. 

O “Transforma RS” é uma rede que existe desde a época da pandemia, composta por outros bilionários como Daniel Randon, Bruno Zaffari, José Galló, Gabriela Schawn, segundo ele “líderes que têm como objetivo tornar o Rio Grande do Sul mais competitivo, inovador e sustentável, ajudando a criar soluções para desafios políticos, sociais e econômicos”.

O mesmo grupo Gerdau, uma siderúrgica multinacional, produtora de aço, que atua em nove países, foi denunciado, no ano passado, pelo Ministério Público de São Paulo, pela contaminação do solo e do lençol freático por metais, hidrocarbonetos de petróleo e fluoreto de uma área em Sorocaba (SP). Isto porque, depois de desativar uma planta industrial, a Gerdau não avisou aos órgãos públicos que havia um depósito clandestino de resíduos tóxicos, nem se responsabilizou pelo saneamento ambiental do local.

E um fato ainda mais recente. A Gerdau anunciou, em 27 de maio, a “hibernação”, o fechamento das Unidades de Barão de Cocais (MG), Sete Lagoas (MG) e Maracanaú (CE), alegando ser parte de sua reestruturação. Ou seja, anunciou que vai demitir cerca de 500 trabalhadores diretos, só em Barão de Cocais (MG). O CEO da Gerdau, Gustavo Werneck, que foi eleito este ano pela 5ª vez consecutiva o executivo de Valor, afirmou: “É o melhor momento que a gente já viveu ao longo de 100 anos“. Gustavo anunciou um lucro de R$ 2,8 bilhões, repassou para os seus acionistas, em média, de 25 a 30% do seu lucro, cerca de R$ 192 milhões em dividendos, e pretende investir R$ 7,5 bilhões no Brasil no próximo período, sendo metade na mineração e a outra metade nas metalúrgicas e siderúrgicas. 

E pasmem, mesmo com tudo isto acontecendo, o que a imprensa divulga é a “doação” da família Gerdau e uma declaração de amor à humanidade de Andre Johannpeter: “a  gente se emociona com a situação do estado e dói o coração”. O acionista diz também que está preocupado com o meio ambiente e está desenvolvendo a “mineração sustentável”.

Esta estratégia hoje já tem um nome – filantrocapitalismo. É um modelo operacional com o qual os ricos empresários do mundo industrializado conseguem entrelaçar a sua ação empresarial com a ação humanitária, ou seja, a idealização de uma “ação do bem”, digamos assim, que basicamente serve para lubrificar as engrenagens das empresas, na sua maioria indústrias multinacionais, para favorecer a sua progressiva penetração e influência nos locais de decisão política, em nível internacional.

Para que fique bem evidente o que falamos aqui, é só entrar no site https://comunitas.org.br/. A Comunistas é formada por um grupo de empresários que crêem que podem colaborar para superar os “problemas de ordem econômica e social do Brasil […] aportando conhecimento especializado e ferramentas de gestão que podem garantir maior eficiência ao setor público e, assim, colaborar decisivamente com o desenvolvimento social do País”. Entre os empresários que constam como financiadores ou membros dos núcleos de governança dos projetos desenvolvidos pela entidade, estão: Elie Horn (Cyrella), José Roberto Marinho (Grupo Globo), José Eduardo Queiroz (Mattos Filho), Jorge Gerdau (Grupo Gerdau), José Ermínio Moraes Neto (Votorantin), Rubens Ometto (Cosan), Solange Ribeiro (Neoenergia) Ricardo Villela Marino (Itaú) e Carlos Jereissati Filho (Rede Iguatemi), este último o “padrinho” da cidade de Pelotas, denominação dada pela Comunitas ao empresário responsável por acompanhar localmente o trabalho desenvolvido na parceria. 

No mesmo site, consta uma matéria de uma reunião do Comunitas com o governador Eduardo Leite no dia 28 de maio. “No encontro foram debatidos os desafios e as estratégias para a recuperação local após as enchentes, reforçando a importância da governança compartilhada e da união entre os setores público e privado”, consta o portal.  

Isto sem falar que, no caso de doações, quando se fala de grandes fundações bilionárias, é uma das mais escamoteadoras de redução de impostos. Ou seja, estes incentivos fazem com que a “filantropia” exacerbe ainda mais as desigualdades. Nesta aí estão fundações filantrópicas, como a Procter & Gamble, a Johnson & Johnson, a PepsiCo, a Microsoft e a Fundação Bill e Melinda Gates, Tuner, Zuckerberg . As empresas transnacionais se articulam para capitalizar em todas as situações. Fundação Bradesco, Petrobras, Instituto Gerdau, Samarco e Instituto Ayrton Senna são algumas das expressões nacionais.  

O quadro Solidariedade S/A, do Jornal Nacional da Rede Globo, durante a pandemia, era uma expressão desta campanha vergonhosa. Nele, megacorporações usavam uma larga fatia de tempo para divulgar ações de solidariedade contra os efeitos da pandemia. 

Mas não é só a ultradireita e a grande imprensa que cumprem este triste papel. Lula, no dia 27 de maio, se reuniu com várias associações de empresas que atuam na produção de carne no Brasil. E de lá, Lula saiu anunciando que os empresários do setor iriam doar 2 milhões de quilos para alimentar os desabrigados do Rio Grande do Sul. Lula fez questão de ressaltar a generosidade da indústria exportadora de carnes, e de que é possível superar as diferenças e trabalhar junto.

Lula e a sua equipe de ministros têm acesso aos dados do Observatório do Clima que afirma que a produção de carne é a principal responsável pelas emissões do gás metano no nosso país. E não apenas pela produção por parte dos animais, mas porque é na pecuária que acontece a maior parte do desmatamento para conversão em pastagens. Do 1,8 bilhão de toneladas de gases emitidos pelo sistema de produção de alimentos, 77,6% vem da produção de carne.

Ou seja, no momento em que enfrentamos o pior desastre ambiental, fruto justamente da relação destrutiva com a natureza, Lula, além de financiar a expansão do grande agronegócio com o Plano Safra recorde, passa o pano para os agrobilionários da carne, responsáveis pelo desastre. 

– Não queremos migalhas que escondem aumento da rapina e da exploração. Confisco de 50% da grande fortuna dos grandes bilionários

– Expropriar, sem indenização, as grandes empresas do agronegócio

– Não ao fechamento das unidades da Gerdau em Barão de Cocais (MG), Sete Lagoas (MG) e em Maracanaú (CE). Estabilidade no emprego para os operários.

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