Editorial

Editorial: O país está indo bem para os bilionários capitalistas, mas não para os trabalhadores

Redação

3 de maio de 2024
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‘1º de Maio’ calssista, de luta e socialista realizado pela CSP-Conlutas em São Paulo | Foto: Jeferson Choma/Opinião Socialista

O esvaziamento do ato de “1º de Maio” governista, convocado pela maioria das centrais (como CUT, Força Sindical e CTB, com exceção da CSP-Conlutas, que organizou atos independentes e de luta), deveria servir de alerta ao governo Lula. Não se trata apenas de má convocação, como disse Lula, grande estrela do evento. É expressão tanto da perda de popularidade do presidente, como do aumento da desilusão com o governo. E, também, da diminuição da capacidade desses grandes aparatos sindicais em mobilizar suas bases, fruto do papel de desorganização que os governos petistas cumprem.

Lula, em seu discurso, passou uma visão de que está tudo indo bem e que basta aguardar as ações do governo que, logo, os trabalhadores colherão os benefícios. Disse que a inflação está em baixa, o emprego em alta e os salários subindo.

A realidade, porém, é que o desemprego ainda é uma dura realidade. Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), em 2023, um a cada quatro domicílios sofria com algum grau de insegurança alimentar. Ou seja, mais de 64 milhões de brasileiros não sabiam se teriam comida adequada ou suficiente.

Apesar da redução da pobreza em 2023, ainda estamos falando de 59,2 milhões de pessoas consideradas pobres, e 9,5 milhões sobrevivendo em extrema pobreza. A inflação dos alimentos é quase o dobro da inflação geral, afetando muito mais os trabalhadores do que os ricos.

Para o governo, trabalhadores e aposentados são os vilões

Lula e Haddad aprovaram, juntamente com o Centrão e a direita, o Arcabouço Fiscal para atender os banqueiros. Tudo para garantir recursos no orçamento público para remunerar banqueiros, através do mecanismo da dívida pública. Por isso, também ameaçam aprovar uma Reforma Administrativa, para atacar direitos dos servidores.

Não é à toa que o governo Lula vem impondo uma política de reajuste zero para os trabalhadores e trabalhadoras dos serviços públicos. Por isso, estamos vendo uma grande greve da Educação federal. E o governo, ao invés de discutir o atendimento das reivindicações, começa a falar em desvincular as verbas da Saúde e Educação. Ou seja, pretende transferir ainda mais recursos das áreas sociais para garantir os lucros do mercado financeiro. E, como se não bastasse, Haddad ainda começa a cogitar uma nova Reforma da Previdência.

Os planos de saúde aumentam de forma abusiva, enquanto a epidemia de dengue escancara a situação dos hospitais e da Saúde Pública. Enquanto isso, Jorge Moll, dono da Rede D’Or, aparece na lista da Forbes, como um dos mais ricos do país, com patrimônio de 4,5 bilhões de dólares (cerca de R$ 23 bilhões), ao lado de Candido Pinheiro, dono da Hapvida, com 2,6 bilhões de dólares (R$ 13 bi).

Para o governo, quem deve pagar a conta da crise fiscal e econômica são os aposentados, os trabalhadores, e não esses bilionários capitalistas.

Marketing e pequenas concessões não reverterão desgaste

O presidente anunciou a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 2.800 e repetiu a promessa de que, até o fim do seu mandato, a isenção será até R$ 5 mil. Mas ainda é bastante insuficiente.

Um bom ponto de partida seria sobretaxar os bilionários. Mas, não parando por aí. Até porque os super ricos têm vários mecanismos para burlar impostos ou repassá-los aos trabalhadores. Por isso que é preciso atacar os lucros dos capitalistas. E isso significa tirar dinheiro e poder dos bilionários. Ou seja, expropriar as grandes empresas, colocando-as sob controle dos trabalhadores e trabalhadoras.

Peguemos, por exemplo, os hospitais privados, os planos de saúde e a indústria farmacêutica. Expropriando o setor, daria para investir este dinheiro na Saúde e não no bolso dos bilionários. Junto com o fim do pagamento dos juros da dívida pública aos banqueiros, seria possível aumentar o orçamento da Saúde.

Mesmo com a perda de popularidade, Lula continuará servindo aos capitalistas, porque o problema não é de “correlação de forças”. Mas, sim, de um programa que, supostamente, tenta governar para todos, atendendo, também supostamente, os grandes empresários e os trabalhadores.

Mas isso é impossível, dado como o sistema capitalista funciona. Então, na prática, vemos que o governo serve aos bilionários capitalistas, enquanto os trabalhadores não veem sua vida melhorando. O resto é marketing.

Oposição de esquerda, socialista e revolucionária

A ultradireita está à espreita, com peso e força. Bolsonaro, Tarcísio (que inclusive foi convidado ao “1º de Maio” governista), Zema e outros como eles gozam de boa popularidade e vem se preparando para as disputas municipais, mirando 2026. A políticas deles é tentar convencer a população de que o problema é que o governo Lula é socialista ou joga contra os interesses dos capitalistas.

Enquanto isso, Lula faz carinho na fera que pode lhe devorar. Basta ver os acordos costurados com os governadores bolsonaristas e como a base de apoio do governo estará presente em várias candidaturas da ultradireita nas eleições. O governo Lula é um leão contra os trabalhadores em greve e um gatinho mansinho com os governadores bolsonaristas.

Apoiar o governo Lula não ajuda a garantir as reivindicações dos trabalhadores nem a combater a ultradireita. Ao contrário, é preciso organizar os trabalhadores e trabalhadoras para enfrentar os capitalistas e esse Arcabouço Fiscal, feito por um governo que governa para os bilionários.

Por isso, precisamos construir, junto aos trabalhadores e a juventude, uma oposição de esquerda, revolucionária e socialista. Porque, até para enfrentar a direita bolsonarista, é preciso enfrentar o governo Lula.

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