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O Porsche, a regra e a exceção

Apontar a diferença de tratamento entre jovens de classes e raças diferentes é dizer o óbvio. O que ainda temos que martelar é que isso é a regra do Sistema.

Israel Luz

5 de abril de 2024
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Câmera gravou momento da batida do Porsche Carrera azul — Foto: Reprodução/Redes sociais

Matheus Menezes, negro, 21 anos. Trabalhava com carteira assinada numa empresa de ônibus. Ganhou uma moto do avô aposentado para fazer entregas e complementar a renda. No dia 25 de fevereiro, foi morto por um tenente da PMESP com um corte no pescoço enquanto dirigia sua moto na região da Brasilândia. Quando sua mãe, ainda com a roupa do trabalho, chegou ao local onde agonizava, a polícia tentou impedir de forma truculenta o acesso ao jovem.

Fernando Sastre Filho, branco, 24 anos. Herdeiro, é sócio na empresa de engenharia da família. Na madrugada do dia 31 de março bateu com um Porsche, avaliado em mais de R$ 1 milhão de reais, na traseira do carro do trabalhador de aplicativo Ornaldo da Silva Viana, que morreu pouco depois. A pedido da mãe, ele foi liberado pelos PMs que atenderam a ocorrência – os agentes acharam que ele era a vítima. Apesar de terem saído para ir ao hospital tratar de um suposto corte na boca, mãe e filho aproveitaram a oportunidade para fugir. Quando se apresentou à polícia 38 horas depois, Fernando não tinha nenhum machucado visível no rosto.

Apontar a diferença de tratamento entre jovens de classes e raças diferentes é dizer o óbvio. O que ainda temos que martelar é que isso é a regra do Sistema. Nem é um caso isolado, nem é mero erro de procedimento dos policiais envolvidos.

O relatório mais recente sobre a Operação Escudo-Verão indica que de 12 execuções selecionadas no documento, 11 assassinados eram homens negros. Em outro relatório publicado ainda no meio do ano passado, os dados mostravam o perfil dos presos: jovens, negros e sem antecedentes. Coincidência não é.

A comparação dos casos mostra também como o racismo nestes casos se estende às famílias. Na doutrina de guerra ao inimigo interno que fundamenta a ação policial, mães, esposas, irmãs, pais, são alvos a ser intimidados, abusados e abatidos.

Vimos isso igualmente no caso registrado em Piracicaba. Três vídeos mostram policiais invadindo uma casa em perseguição a um homem negro por suposto desacato e agredindo familiares, inclusive um idoso cadeirante.

Trata-se sempre de uma violência contra o coletivo, por mais que os casos sejam individuais. O Estado burguês necessita alimentar o medo nos setores do proletariado que identifica como potencialmente perigosos à ordem social. O risco, os de cima sabem há tempos, é a gente perder a paciência de vez e fazer a justiça que eles nos negam conscientemente.

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