Tarcísio e Derrite querem transformar PM em grupo de extermínio em São Paulo
Depois de duas operações especiais determinadas pelo governador Tarcísio de Freitas ao seu secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite, o saldo de mortos pela Polícia Militar (PM) de São Paulo saltou em 86%, somente nos primeiros três meses do ano.
Foram duas operações de matança desencadeadas pelas polícias Militar e Civil desde julho de 2023, sob o comando de Tarcísio e Derrite: as operações Escudo e Verão, que juntas mataram oficialmente 84 pessoas, entre elas mães, adolescentes e deficientes físicos, o que indica a escalada sem fim do avanço da violência policial em nome do combate às drogas e ao crime organizado.
“E aí o pessoal pode ir à ONU, pode ir à Liga da Justiça, no raio que o parta, que eu não tô nem aí”
Essa foia resposta do governador Tarcísio ao ser indagado pelas mortes das operações policiais na Baixada Santista, em entrevista no Palácio dos Bandeirantes.
Isso atesta exatamente o genocídio de negros e pobres desencadeados desde o inicio de seu governo sanguinário e racista, de forma intencional e violenta. E, com a certeza, da impunidade da justiça burguesa.
O exército da morte de Derrite e seu deboche
Para desencadear as ações cada vez mais violentas e assassinas por parte da PM, o número de assessores policiais militares à disposição do secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite (PL), é historicamente superior a todos seus antecessores. São 241 assessores PMs à sua plena disposição 24 horas. Há um ano, eram 183 policiais na função.
Guilherme Derrite não poderia ficar atrás das declarações absurdas de seu chefe Tarcísio. Nesse dia 2 de abril, o secretário dessa matança desdenhou o resultado do número de mortos nessa última operação: “Olha, eu nem sabia que eram 56, eu não faço essa conta”.
Entidades e a Corregedoria da PM questionam versão oficial
De acordo com a polícia, os 56 mortos pela Operação Verão eram suspeitos de cometer crimes e teriam atirado nos policiais, que reagiram. Entretanto, denúncias de familiares das vítimas e entidades de defesa dos Direitos Humanos apontam que civis foram executados pelas forças de segurança.
O ouvidor das policias, Claudio Silva, disse:
A gente tem documento que determina que pessoas cegas foram colocadas em cenas de crime como pessoas que teriam atacado a corporação policial. Pessoas que usavam muletas, precisavam do amparo de muletas para se movimentar, também foram colocadas em cena de crime como se tivessem trocado tiros com a polícia.
O ouvidor ressaltou que tem recebido uma série de denúncias e reclamações de moradores da região e diz que, inclusive, já há testemunhas sob proteção do Estado. E, completou: “O que a gente tem vivenciado na Baixada Santista é algo que jamais ocorreu naquele território”.
Mortos pela PM sobem 86% no 1º trimestre em SP. E 427% na Baixada Santista
Somente nos três primeiros meses do ano, o total de “suspeitos” mortos pela PM saltou de 106 para 197, comparado ao ano anterior, segundo o Ministério Público.
Na Baixada Santista foi ainda pior. A letalidade policial cresceu 427% no mesmo período. Palco desde dezembro da Operação Verão, com reforço da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar), tropa de elite da PM, após morte de um policial.
Mãe foi morta em plena praça pública
Entre as vítimas, nessa última semana, se destacou o assassinato da mãe de seis crianças, que cumpria suas tarefas cotidianas junto aos seus filhos na cidade de Santos. Edneia Fernandes, de 31 anos, foi morta com um tiro na cabeça.
A vítima levou um dos filhos para cortar o cabelo. Enquanto esperava em uma praça pública, foi assassinada de forma brutal pela ação policial. Edneia não resistiu aos ferimentos e morreu após ficar um dia internada na Santa Casa, em Santos.
Um dos tios de Edneia, Gilson Manoel da Silva, disse:
Isso acontece porque é favela. Acham que o pessoal lá não é ser humano, não é ninguém. Ela vai virar estatística.
Gilson aponta a ação da PM como responsável da morte se sua sobrinha: “A bala partiu deles, não foi de bandido”. Ele também denunciou que os policiais não a socorreram apesar dos gritos de socorro.
A versão do tio de Edneia se assemelha à reportagem exclusiva do portal “Alma Preta”, que, segundo uma testemunha que presenciou a ação policial, o disparo que matou Edneia foi feito pela policia. A PM nega e alega “confronto” na ação, o que justificaria os disparos na região. Versão refutada por essa testemunha ocular dos fatos.
Pressão social impõe fim da Operação Verão
Após diversas manifestações populares, das mães e familiares das vitimas, de entidades do movimento negro e de direitos humanos, aparentemente, houve recuo na continuidade da Operação Verão. Que na verdade é a continuidade da Operação Escudo.
A pergunta que fica é: qual e quando o governo genocida de Tarcísio e Derrite nomearan nova operação chacina contra negros e pobres em São Paulo?
E a questão é justa. Pois, a sanha por uma matança sem fim, sem critérios e sem limites avançou brutalmente sobre a população negra e pobre nas periferias das cidades, particularmente na Baixada Santista, onde a explosão de mortos pela ação policial, que agem como um grupo de extermínio deliberado.
A violência e ações irregulares dos policias aumentam
Associado ao avanço dessa barbárie, a violência generalizada da PM também vem a reboque nesse banho de sangue negro e pobre.
Vem ocorrendo abordagens das mais variadas, muitas vezes filmadas e registradas, com requintes de crueldade gratuitas pela ação das polícias nas regiões periféricas do estado de São Paulo. Foi o caso da morte, em fevereiro, do jovem negro Matheus Menezes, na Brasilândia. Ele teve o pescoço perfurado pela ponta do fuzil de um PM.
Nesses último anos, são centenas de casos de violação de direitos humanos e civis, inclusive sem nenhuma justificativa ou mandado judicial, com entrada nas residências e imóveis das vitimas, na maioria negra e pobre.
Violência policial em Piracicaba
Enquanto escrevíamos esse texto, mais uma denuncia dessa barbárie circulava nas redes sociais. Em Piracicaba, interior de São Paulo, uma família negra confraternizava no domingo de Páscoa quando soldados da PM chegaram batendo com cassetetes e aos murros um jovem negro que morava no local. E, não contentes, o grupo de policiais adentrou sua residência brutalmente, quebrando móveis e distribuindo cacetadas indiscriminadamente, inclusive a um homem cadeirante.
Pelo fim do genocídio, da violência do Estado e da polícia
Esses exemplos causam cada vez mais indignação, em reações populares e organizadas nas periferias, que exigem fim dessa situação, e cobram justiça e punição a esses agentes, seus comandantes, a começar pelos governos de plantão, como Tarcísio em São Paulo e Jerônimo Rodrigues (PT) PT na Bahia, onde são os principais responsáveis por essa política de segurança publica que mata o povo negro, pobre e trabalhador das periferias.
Nesses 60 anos do golpe militar de 1964, nossa tarefa é lembrar e colocar fim a essa militarização da nossa vida. Combater essas situações cada vez mais abusivas, que vem crescendo no país. Essa ditadura da violência e genocídio policial aos mais carentes e periféricos tem que ter um fim. Essa guerra social e de classes tem que ter uma resposta à altura e proporcional pela nossa classe e a juventude.
A autodefesa, a denúncia e ação sistemática contra esse sistema opressor e genocida tem ser atacado por todos e todas, impondo justiça e punição severa aos envolvidos, mas também exigindo reparação ao dano causado socialmente.
É preciso um programa de classe, raça e socialista contra a violência policial e o genocídio
Para combater a violência policial e o genocídio do povo negro, é preciso levantar um programa de raça e classe, independente da burguesia e seus governos.
É preciso exigir de maneira imediata, a implantação das câmeras de monitoramento em todos os policiais. Mas isso não é suficiente. É preciso defender a desmilitarização das polícias e o fim da PM, com o controle social das polícias pelas organizações populares e a eleição de seus comandantes, garantindo o direito de sindicalização e greve aos policiais.
Junto a isso, é preciso pôr um fim à “guerra às drogas”, que, na verdade, é uma guerra aos pobres, que só serve ao extermínio da juventude pobre e negra e ao encarceramento em massa.
É necessário, também, revogar a Lei de Drogas, aprovada em 2006 pelo governo Lula, e descriminalizar as drogas, para combater o narcotráfico. Paralelo a isso, é preciso incentivar e organizar a autodefesa dos de baixo para responder à violência dos de cima.
A frente amplíssima de Lula não resolve o genocídio de negros e pobres
É preciso entender que o governo Lula — ao conciliar com os militares golpistas, bolsonaristas e a direita — vai na contramão das reivindicações da luta dos trabalhadores contra as ameaças autoritárias e a violência do Estado.
O governo Lula vem fazendo agrados a esses setores de direita, nos ministérios, mas, inclusive, tenta restaurar a confiança nas Forças Armadas e rifa a resistência das mães e familiares atingidos por toda forma de violência policial e do Estado.
A conciliação com os bolsonaristas é tamanha que o governo Lula suspendeu até mesmo os eventos oficiais do governo que simplesmente trariam o debate sobre a memória e justiça, e repudiaria o golpe militar de 1964.
Por essa razão, seu governo não concentra esforços no combate a esses abusos nos estados, e em São Paulo em particular, tudo em nome de uma suposta governabilidade, diga-se de passagem, sob o sangue derramado de jovens negros e pobres nas periferias.
Autodefesa e resistência popular pra derrotar o genocídio
Os trabalhadores têm muito a perder com os ataques às liberdades democráticas. Por isso, devem estar à frente dessa luta. A classe trabalhadora precisa chamar a mais ampla unidade de ação, para ir às ruas, com todos os que estejam contra essa escalada da violência policial e as ameaças às liberdades democráticas, com independência política. Lutar contra os que defendem essa democracia dos ricos e esse sistema de exploração dos trabalhadores, que não vai mudar a realidade social que permitiu o surgimento do bolsonarismo e toda sua escalada de violência contra os trabalhadores e a juventude. A ultradireita veio para ficar. Enquanto existirem as condições sociais e econômicas que alimentam o bolsonarismo, permanecerá esperando o momento certo para atacar.
É preciso mobilizar para resistência a esses atos e avançar na construção da autodefesa das organizações populares e dos trabalhadores e trabalhadora, assim como na organização de uma forte unidade de ação para esse fim.
A classe trabalhadora precisa lutar de forma independente contra a escalada da violência e genocídio de negros e pobres, mas com um projeto socialista. Esse é o caminho para, efetivamente, derrotar Tarcísio, Derrite e todos os governos de plantão que usam dessa cartilha sangrenta para governar e matar nossa classe.