O transporte público na Região Metropolitana do Recife: uma tragédia anunciada
Nas últimas semanas a empresa de ônibus Vera Cruz, da Região Metropolitana do Recife (RMR), anunciou que vai entregar suas linhas de operação e solicitou ao governo do Estado o compartilhamento e unificação de outras. A empresa alega estar em crise e em prejuízo pois 66% dos seus passageiros são integrados. Alega também que a empresa São Judas Tadeu passou a operar em suas linhas no município de Jaboatão dos Guararapes acarretando, assim, num déficit operacional.
Além disso, na última reunião do conselho de transportes metropolitano, ficou definida a unificação das tarifas no valor de R$4,10, extinguindo as tarifas do Anel B de R$5,60. Um argumento que não procede pois, para isso, a governadora Raquel Lyra (PSDB) aumentou os subsídios do governo do Estado às empresas, passando de R$250 milhões para R$310 milhões. Um valor equivalente a R$5 milhões por mês.
Apesar do aumento do repasse, as empresas anunciaram que vão diminuir a frota de ônibus em circulação. No final das contas, quem saiu perdendo foram os trabalhadores e estudantes que utilizam o sistema de transporte público na RMR que é de má qualidade e bastante humilhante para os usuários, que enfrentam horas de espera e filas gigantescas nos terminais para conseguir pegar um ônibus e ainda assim superlotados. Toda essa humilhação possui como principais responsáveis as empresas privadas de ônibus e o modelo privado voltado unicamente para a lógica do lucro das empresas e o governo do Estado claro com suas políticas de subsídios.
A serviço de quem está o transporte público?
O transporte público na Região Metropolitana do Recife é ruim e caro. A situação dos transportes públicos e do sistema de integração na RMR é uma tragédia. A idade média da frota de ônibus utilizada é alta, sem qualquer manutenção, e muitos ônibus não possuem sistemas de ventilação funcionando. Vários ônibus quebram diariamente ao longo do percurso e obrigam os trabalhadores a ter que caminhar até o trabalho ou pagar outra passagem para pegar outro ônibus. As empresas de ônibus que controlam as operações logísticas e o transporte de passageiros na RMR são todas ligadas ao poder público, mantendo o faturamento destas empresas em uma verdadeira caixa preta.
As empresas não fazem relatórios de balanços financeiro. Mas a maior delas, sabemos, é a empresa Borborema, da família Schwanbach. Inclusive, Bruno Schwanbach foi secretário de meio ambiente do ex-prefeito do Recife Geraldo Júlio (PSB) e também secretário do desenvolvimento econômico no governo Paulo Câmara (PSB). Outro exemplo que mostra a relação destes empresários como o setor público é o da família Gueiros que é dona da transportadora Globo e teve Carlos Gueiros, político conservador, com sete mandatos na câmara de vereadores. Além das participações diretas de empresários nos governos, as empresas possuem um sindicato patronal ao seu dispor para fazer chantagens ao governo e atacar os trabalhadores. Para se ter uma ideia de como o transporte da RMR é ruim, a Moovit fez uma pesquisa sobre o tempo de espera nas paradas de ônibus e dentre as capitais do Brasil, Recife foi a cidade com pior resultado:
O preço da tarifa hoje é R$4,10, um absurdo para quem utiliza um sistema tão precário e com o nível de desemprego e inflação que vive nosso país. No gráfico a seguir, vemos que todos os aumentos de tarifas ao longo dos anos foram acima da inflação, menos em 2013 e 2014 devido às fortes mobilizações pelo Passe Livre e em 2018 e 2020 devido ao período eleitoral.
Ou seja, o transporte público na RMR é ruim, caro, e está a serviço dos lucros das empresas de ônibus que subordinam o Estado aos seus interesses para roubar a classe trabalhadora e a juventude. A diminuição na frota como foi anunciada pelas empresas só serve aos interesses privados destas e geram mais superlotação nos ônibus e mais tempo de espera nas paradas, bem como prejudica os trabalhadores das periferias das cidades. Sendo assim o sistema de integração que deveria servir para facilitar a ida e vinda dos trabalhadores só prejudica o trabalhador graças às políticas das empresas em conluio com o governo do Estado, que enquanto paga milhões em subsídios às empresas, nada dá aos trabalhadores e aos estudantes que precisam do transporte público para se locomover.
Quem define os preços das passagens?
Para definir as mudanças nos preços das passagens, é preciso convocar o Conselho Superior de Transporte Metropolitano (CSTM) e votar as resoluções. Entretanto, o CSTM é extremamente desigual e antidemocrático. O conselho é composto em sua maioria por representantes do Estado: o Estado de Pernambuco e as prefeituras de Recife e Olinda, excluindo outros municípios e pelos representantes das empresas. A classe trabalhadora só possui o sindicato como representante e os usuários e estudantes possuem uma ínfima participação e mesmo assim não sabemos como se elegem estes representantes. Portanto, o conselho é antidemocrático e não reflete a realidade dos estudantes e trabalhadores que utilizam o transporte público. Com isso, o conselho nada mais é do que a ratificação da decisão das empresas e do Estado dando uma aparência de democracia.
Por um transporte público estatal, dos trabalhadores e usuários!
A lógica das empresas privadas segue somente o lucro. Por isso o sistema privado do transporte de passageiros é incapaz de solucionar os graves problemas que a classe trabalhadora e a juventude sofrem no cotidiano ao pegar um ônibus. Raquel Lyra, que foi apoiada por vários setores do empresariado em Pernambuco, e seu governo segue beneficiando as grandes empresas e atacando os usuários de transporte público. É por isso que pagar subsídios às empresas de ônibus é um absurdo, é tirar dos trabalhadores para dar às empresas que oferecem um péssimo serviço.
Para, portanto, garantir um serviço de transporte público com passe livre para os estudantes e trabalhadores pobres é necessário estatizar esse serviço público e tirá-lo das mãos das empresas, para assim lutarmos pela diminuição da jornada de trabalho e a readmissão de todos os trabalhadores motoristas e cobradores demitidos pelas empresas. Além disso, quem deve controlar e decidir sobre o sistema de transporte público não deve ser os empresários e o Estado, mas sim aqueles e aquelas que utilizam e necessitam do transporte público, para isso, somente um conselho dos trabalhadores dos transportes, usuários e estudantes para decidir e garantir um transporte público de qualidade. Por fim, é preciso acabar com a privatização dos transportes e o monopólio das empresas para termos um transporte público de qualidade, com passe livre, com mais frotas e linhas de ônibus para os trabalhadores da periferia e fim das demissões em massa. É preciso um transporte público estatal com controle dos trabalhadores, usuários e estudantes!