Para ter educação, salários dignos e emprego decente para os trabalhadores, precisamos enfrentar os bilionários capitalistas
Este ano, milhares de estudantes da rede pública que chegaram ao seu primeiro dia de aula se depararam com um completo caos. Disciplinas sem professores, professores sem aulas e outros tendo que se desdobrar para dar conta de várias turmas. No país, a maioria dos professores e professoras da rede pública já é contratada de forma precária, sem direitos ou garantia de emprego, e, este ano, ainda não conseguiram nem pegar aulas.
Na imprensa, porém, lemos notícias sobre como “a Educação avançou no primeiro ano do governo Lula”. A diferença entre o que a classe trabalhadora e a maioria da população vivem no dia a dia e o que aparece no Jornal Nacional, porém, não para por aí. No começo de março, o governo comemorou o que teria sido um enorme crescimento da economia em 2023.
Você sentiu que suas condições de vida tiveram uma grande mudança? Bom, alguns poucos certamente sim: a turma do agronegócio teve um crescimento de 15%, no começo de 2023, puxado pela soja. E por que dizem que a economia melhorou? O agro, principalmente, puxou o Produto Interno Bruto (PIB), a conta cujo resultado se refere a tudo o que é produzido no país durante um ano.
Crescimento econômico para quem? O “pibão de Lula”
Pelos números divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), o país teria crescido 2,9%, o que, para o governo, é uma demonstração de que estamos no caminho certo. Mas é um crescimento restrito a algumas áreas, como o agro e a sua produção de soja, que vai para exportação ou vira ração de boi.
Mas isso é bom, não é? Não. O campo não é como a novela “Renascer”. São grandes monoculturas, cuja propriedade está nas mãos de grandes bancos e fundos financeiros e cuja produção atende a um punhado de oligopólios. Empregam cada vez menos e enriquecem cada vez mais. Promovem a destruição do meio ambiente e o genocídio indígena e quilombola, muitas vezes com a ajuda da polícia, como na Bahia.
Para o projeto do governo dar certo, o povo tem que perder
Sem contar que esse “crescimento” é pequeno, mesmo na régua dos capitalistas, e que a taxa de investimentos, uma espécie de bússola para a dinâmica da economia no futuro, retrocedeu.
Mas sem contar, principalmente, que a renda média do trabalhador continua estagnada, há pelo menos 10 anos. E que, em pleno 2024, 50 milhões de brasileiros não contam sequer com saneamento básico. Que as contas de luz continuem subindo, e aumentarão ainda mais este ano, fazendo com que o povo pague os lucros das empresas que enchem os bolsos com a privatização desse serviço essencial.
Isso significa que o governo, a imprensa e os institutos de pesquisa estão mentindo? Não necessariamente. A questão é que, no projeto capitalista que o governo Lula se propõe a seguir, crescimento significa mais acumulação, mais desigualdade e mais dependência do país.
Não importam as crianças sem aulas, importam os lucros dos grandes grupos privados que dominam a Educação. Não importam a renda e os salários, mas que o agro esteja bombando. Para o projeto do governo dar certo, o povo tem que perder.
Expressão disso é a regulamentação dos trabalhadores de aplicativo, uma armadilha que abre um precedente para a precarização generalizada. Ou o Arcabouço Fiscal, que vai tirar bilhões dos serviços públicos para os banqueiros, ainda este ano.
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Os atos convocados pelo PT não enfrentam a ultradireita
O governo, o PT e os setores da esquerda que fazem parte do governo estão convocando manifestações que, a princípio, seriam pela prisão de Bolsonaro, mas viraram atos “pela democracia”. São atos que, na realidade, não vão enfrentar a ultradireita, mas defender essa democracia dos ricos em que vivemos, que promove o genocídio indígena, as chacinas policiais, como em São Paulo, no Rio e na Bahia. Atos que, falando a verdade, são para defender o governo e seu projeto.
Tivesse realmente a intenção de enfrentar o golpismo, o governo Lula não teria José Múcio à frente do Ministério da Defesa e já teria feito uma limpa no alto comando das Forças Armadas. Lula não estaria dizendo, agora, para esquecermos os tempos da ditadura militar; mas, ao contrário, defenderia punição aos torturadores, abertura dos arquivos e reparação às vítimas. E nenhuma anistia aos golpistas.
Mais ainda, quisesse enfrentar de verdade a ultradireita, o governo Lula não estaria impondo uma política econômica neoliberal, inclusive em conjunto com governos de extrema direita, como o de Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), financiando a privatização de serviços públicos e implementando um regime de austeridade fiscal a serviço dos banqueiros.
Políticas que, ao fim e ao cabo, vão significar a piora da vida das pessoas e servirão como fermento para o crescimento dessa extrema direita. A única forma de derrotar a extrema direita é enfrentando os bilionários e capitalistas.
Os trabalhadores precisam de uma alternativa com independência do governo e da burguesia
O governo e a esquerda governista querem colocar a classe num dilema: ou vocês defendem nosso governo e seu projeto capitalista, de privatizações, austeridade, Parcerias Público-Privadas (PPPs), arrocho no funcionalismo, ou a ultradireita e os golpistas voltarão. É um falso dilema, porque um retroalimenta o outro. E enquanto isto, a vida da classe trabalhadora continua como está: precarizada, endividada, com seus filhos sem professores e sem perspectiva de melhora.
Para, de fato, mudar isso é preciso convencer a classe trabalhadora que ela tem o poder de, com suas próprias forças, lutar por direitos, contra este projeto capitalista que está nos levando à barbárie e enterrar de vez a ultradireita. O 8 de março, Dia Internacional da Mulher Trabalhadora, é um momento especial para avançarmos neste sentido. Também precisamos lutar contra o genocídio palestino, que vitimou mais de 30 mil pessoas, a maioria mulheres e crianças, exigindo do governo Lula a ruptura imediata com o Estado de Israel.
Para lutar pelas reivindicações dos trabalhadores e trabalhadoras, enfrentar os capitalistas e derrotar a ultradireita, é preciso uma alternativa dos próprios trabalhadores, com independência de classe. Ou seja, que não fique a reboque da burguesia.
É necessário construir uma oposição de esquerda e socialista ao governo, realmente antissistema, que ofereça uma verdadeira alternativa de vida à classe e ao povo pobre, às mulheres, aos negros e negras, às LGBTI+. Uma alternativa que represente de fato uma mudança nessa vida infernal à qual o capitalismo nos relega.