Lutas

Eleição assegura fio de continuidade de uma história de lutas, democracia operária e independência de classe

Roberto Aguiar, de Salvador (BA)

6 de março de 2024
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Dá direita para a esquerda: Toninho (1990 e 1997), Mancha (2000 e 2003), Índio (2006), Vivaldo (2009), Macapá (2012 e 2015), Weller (2018, 2021 e 2024)

Nos dias 22 e 23 de fevereiro, aconteceu a eleição que elegeu a nova diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região, no Vale do Paraíba, em São Paulo. A “Chapa 1: Experiência, Renovação e Luta” recebeu 94% dos votos válidos, confirmando a aprovação dos sócios ao perfil combativo da entidade.

Filiado à CSP-Conlutas, é um dos mais importantes sindicatos operários do país. Exemplo de luta, democracia operária e independência de classe, protagonizou greves históricas e foi parte ativa das lutas políticas mais importantes nas últimas décadas.

A presença da militância do PSTU na direção do sindicato tem sido fundamental para esta atuação, que tem princípios como a defesa dos direitos dos trabalhadores, com uma ação combatente, sem rabo preso com governos e patrões; a organização por local de trabalho, com a mais ampla democracia, e a luta política contra as ideologias da classe dominante, a opressão e a exploração capitalista.

Por isso, vale contar um pouco da história dos trotskistas junto à classe operária de São José dos Campos e Região.

Lá vem história

No final da década de 1970 e início de 1980, ocorria no Brasil um processo de lutas operárias, com greves, que se enfrentavam com a ditadura militar e derrubavam as velhas direções burocráticas que estavam à frente dos sindicatos. Foi neste contexto que o PT e a CUT nasceram. A Convergência Socialista (CS), corrente que ajudou a fundar o PT e, depois, deu origem ao PSTU, lançou o movimento de oposição operária em São José dos Campos, em 1980, tendo o militante Ernesto Gradella à frente.

Em 1984, em uma chapa unitária com a Articulação Sindical, do PT, derrubam os pelegos do sindicato. A militância da CS era minoria na diretoria. Em 1990, essa aliança foi rompida, pois a Articulação organizou uma chapa excluindo os militantes da CS, inclusive com orientação de Lula.

A vitória do trabalho de base e da luta contra a exploração

Eles avaliavam que iam ganhar, nos excluíram. Organizamos uma chapa própria. Nós também achávamos que iríamos perder. Eles jogaram todo o peso do PT, com o apoio do Lula, mas nós vencemos. O trabalho de base e nossa localização nas principais fábricas foram fundamentais para isso”, lembra Toninho Ferreira, militante do PSTU.

Fizemos uma forte campanha contra a redução de 20% dos salários. Organizamos as Comissões de Fábrica para avançar no trabalho de base. Mas, também, colocamos o sindicato nas lutas gerais, nas lutas mais políticas, não apenas nas pautas econômicas. Fomos a referência na luta pelo ‘Fora Collor’ na região. Compramos um caminhão de som, realizávamos atos públicos. Essa referência de luta, o sindicato segue tendo até hoje”, explica Toninho sobre a primeira gestão.

Construção da CSP-Conlutas

Durante toda a década de 1990, o sindicato se enfrentou com as medidas neoliberais de FHC (PSDB), que reduziam os salários e retiravam direitos. A CUT, cada vez mais cooptada, passou a defender a colaboração de classe, abandonando a luta e o classismo. O sindicato lutou contra isso.

“Os operários de São José rejeitavam, nas assembleias, esses ataques. Na GM foi rechaçado o famoso acordo das Câmaras Setoriais, nas quais os dirigentes sindicais negociariam com as montadoras a reestruturação das empresas”, diz Luiz Carlos Prates, o Mancha.

Em 2002, tivemos a primeira eleição de Lula como presidente do Brasil. A maioria dos sindicatos e movimentos sociais foi cooptada ao governo. O Sindicato dos Metalúrgicos de São José resistiu bravamente, mantendo-se independente do governo.

A CUT passou a ser chapa branca. Setores do funcionalismo público iniciaram um movimento de ruptura com a CUT, após a aprovação da Reforma da Previdência. O Sindicato também rompeu com a CUT e deu início à construção de uma outra entidade independente, classista e de luta. Essa batalha que deu origem à CSP-Conlutas”, conta Mancha, que era presidente do sindicato à época.

Independência e luta

Foi com independência e luta que o sindicato atravessou os governos do PT, assim como enfrentou os governos Temer (MDB) e Bolsonaro (PL). “Lutamos contra as reformas Trabalhista e da Previdenciária, o Teto de Gastos, e em defesa dos direitos dos trabalhadores. Fomos parte da grande Marcha à Brasília, que poderia ter derrubado Temer, se não fosse o recuo e traição das grandes centrais”, afirma Weller Gonçalves, militante do PSTU e atual presidente do Sindicato.

Durante o reacionário governo Bolsonaro, o sindicato enfrentou o processo de desindustrialização do país. “Foram lutas defensivas, pela manutenção dos empregos e o não fechamento das fábricas, a exemplo da Caoa Chery, MWL e LG. Na Avibrás, a luta segue até hoje, com mais de um ano e meio de greve em defesa da manutenção dos empregos, pelo pagamento dos salários e estatização da fábrica. Cobranças que fazíamos a Bolsonaro, que agora exigimos de Lula”, declara Weller.

No final do ano passado, o sindicato protagonizou uma forte greve operária. “Foram 17 dias de greve na GM contra a demissão de 836 operários. Conseguimos impor uma derrota à empresa que foi obrigada a cancelar as demissões. Em 2024, os desafios seguirão, pois dentro do capitalismo não tem vida boa para os trabalhadores e trabalhadoras”, declara Weller.

“A nossa tarefa é manter esse fio de continuidade, esse histórico de luta, independência de classe e democracia operária. Uma história que teve início em 1990, com o Toninho. Seguiu com Mancha, Índio, Vivaldo e Macapá. Hoje sou o presidente do sindicato, mas carrego, junto com dezenas de militantes, um projeto que é coletivo, que disputa, no dia-a-dia, a consciência da classe operária para lutar contra o capitalismo e a somar-se na luta pelo socialismo”, finaliza Weller.