Nacional

Chuvas no Rio Janeiro: Eventos climáticos extremos em um estado à beira do colapso

Cyro Garcia, Presidente do PSTU-RJ

15 de janeiro de 2024
star4.88 (8 avaliações)
Rio de Janeiro 14 01 2024-chuvas no Rio de Janeiro provoca inundações em varios bairros como monitora a defesa civil foto DCERJ

A forte chuva que caiu no Rio de Janeiro de sábado para domingo causou 12 mortes e, mais uma vez, provocou danos à população carioca e fluminense, em especial a mais pobre.

Na noite de sábado era possível ver carros flutuando pela Avenida Brasil que, com poucos pontos de vazão para a água, virou um rio com a chuva, mostrando o nível das obras que estão sendo feitas na cidade e no estado. Em alguns pontos da mesma avenida, as quatro pistas ficaram inundadas, impedindo por horas o funcionamento do trânsito.

Em Acari, um hospital, o Gazzola, um dos maiores e mais importantes da capital,  inundou, e uma mulher entrou em trabalho de parto quando estava sendo socorrida pelos bombeiros. O metrô também teve linhas paralisadas pela chuva.

Em Itatiaia, um jacaré foi capturado em uma comunidade pela população após a tempestade. Pode parecer pitoresco, mas, na verdade, indica a que ponto uma tempestade afeta a vida dos trabalhadores.

Na baixada fluminense, as ruas ficaram inundadas por mais de 24 horas após a chuva, e até peixes foram encontrados em alguns lugares, como em Pilar. Moradores informaram que perderam tudo, de novo.

E, para fechar a imagem de caos que tomou conta de uma parte do estado, a “águas do Rio”, recém-privatizada, informou que teria problemas com o fornecimento em função das fortes chuvas.

Mudança climática e descaso

As chuvas que caíram em algumas regiões do Rio de sábado para domingo foram excepcionais. Segundo o prefeito de Duque de Caxias, na região choveu 200 mililitros, a maior concentração de chuva em 24 horas da história da cidade.

Não podemos ter dúvidas, as mudanças climáticas que testemunhamos, como a onda de calor intenso que elevou sensação térmica para mais de 50º, ou as nevascas a que o continente europeu está submetido neste momento, indicam que sim, é possível que estejamos testemunhando mais um efeito da destruição da natureza e da aproximação de um limite onde as consequências para a humanidade serão cada vez mais graves. No entanto, essa é somente uma parte da verdade que precisamos encarar. A outra: o descaso dos governantes e da classe dominante com a população.

As tempestades de verão não são incomuns no Rio de Janeiro. Na verdade, são previsíveis. Todos os anos há chuvas intensas que causam inundações, transtornos e muitas vezes morte. Os motivos são, claro, as chuvas, mas também a ausência de qualquer política de prevenção a estes fenômenos meteorológicos bastantes comuns no estado.

Nas deste sábado, atuaram para piorar a situação a canalização mal feita do Rio Acari, e a destruição dos manguezais, por aterramentos e construções irregulares, feitas no mais das vezes pelas milícias, com o beneplácito dos governantes. Além da ausência de uma política de habitação, o que leva muitos trabalhadores e a população mais pobre a construir em áreas e terrenos inapropriados.

O exemplo da Avenida Brasil, onde carros flutuavam por conta de uma obra mal feita, e provavelmente superfaturada, é apenas a demonstração gráfica indiscutível.

A falta de esgotos, de canais de escoamentos pluviais, o assoreamento dos Rios, sua canalização feita de forma errada, são alguns exemplos de como a ação da prefeitura e do governo do estado influem no resultado de uma chuva como esta.

É preciso combater as mudanças climáticas e se preparar para mais eventos extremos

Se não houver um forte combate às causas das mudanças climáticas, eventos cada vez mais dramáticos, como os que vimos nesse final de semana, serão cada vez mais corriqueiros. Assim como o combate ao desmatamento da Amazônia, do cerrado, e do que resta da Mata Atlântica. A produção de combustível fóssil, que, uma vez queimado, produz uma quantidade inabsorvível de gás carbônico. A destruição de ecossistemas inteiros por uma ação predatória do capitalismo levou o planeta para além de sua capacidade de regeneração. É preciso reverter drasticamente este processo sob pena da vida dos seres humanos na terra ficarem seriamente ameaçadas.

Por outro lado, é preciso medidas concretas e imediatas contra os eventos climáticos extremos. Seja a onda de calor que nos atingiu no final do ano passado, e que afeta a saúde e o trabalho dos setores mais pobres da população, e que exigem medidas como a suspensão do trabalho ao atingir determinadas temperaturas, a garantia de acesso à água potável para todos, ou a refrigeração dos transportes públicos e escolas (coisas que não estão garantidas no Rio de Janeiro).  Seja em chuvas como as que caíram no último fim de semana e colocam com urgência a necessidade de socorrer as vítimas, repor suas perdas, mas também um plano de obras que retirem as pessoas das áreas de riscos, fizesse um plano de escoamento pluvial, e uma revisão do encanamento fluvial.

Sem medidas que encarem esses dois aspectos do problema eles seguirão se repetindo. Mas, é bom não nos enganarmos, nesse momento nem o prefeito Eduardo Paes, nem o governador do Rio, Cláudio Castro, que são os principais responsáveis por essa tragédia, estão fazendo absolutamente nada nesse sentido. Lula, que deveria combater o desmatamento na Amazônia e usar os altos lucros da Petrobras para investir em uma energia mais limpa e sustentável, declarou recentemente que seu sonho é ver o petróleo ser explorado na Amazônia, numa defesa da exploração da margem equatorial, uma reserva de petróleo descoberta em água marinha brasileiras na região amazônica.

Se continuarmos nesta toada, é inevitável que novos e mais graves “desastres” ambientais como esse se repitam.