Tarcísio e a democracia pinga-sangue
Estamos perto do final do primeiro ano do mandato de Tarcísio de Freitas em São Paulo. Segundo mostram os dados disponíveis, há um crescimento consistente no número de mortes pela ação policial. O exemplo mais emblemático até agora foi a chacina no Guarujá em julho.
A votação às pressas da venda da SABESP mostrou uma outra faceta desse quadro: o uso da força estatal para obter ganhos diretos para acionistas sedentos de lucro.
Com um forte aparato repressivo, cuja truculência resultou em dezenas de feridos e cinco presos, o governador mostrou que aquelas marteladas no leilão em março do Rodoanel eram um aviso das cassetadas que viriam na cabeça de quem discordar do governo. Tarcísio é democrático na repressão. Sejam moradores da quebrada apenas andando pela rua, sejam trabalhadores protestando, o martelo vai atingir todo mundo.
Guilherme Derrite, secretário da Segurança Pública, escreveu no X (antigo Twitter): “A atuação da PM no tumulto causado por vândalos que tentaram destruir parte do plenário da Alesp foi essencial para a garantia da ordem. Nossas forças de segurança continuam atentas para que o processo democrático, que deve respeitar os limites do diálogo, seja cumprido”.
“Processo democrático”? Depois de liberarem R$ 73 milhões para base votar? Sabendo que 53% dos paulistanos são contra a venda da SABESP? A polícia atuou em nome dos interesses privados dos acionistas, não do povo trabalhador.
Sabe o pior? Boa parte dos agentes que estavam ontem lá certamente moram em áreas periféricas e sofrerão com suas famílias os efeitos da privatização, tanto quanto uma professora, um metroviário, uma trabalhadora doméstica. Mas respeito e consciência de classe é pra quem tem.
Sabemos que a ideologia repressiva, lamentavelmente, tem muitos adeptos na classe trabalhadora. Esse mecanismo ideológico que torna senso comum o “bandido bom, é bandido morto”, funciona em conjunto com a política do terror permanente nas quebradas. Ambos convergem para o controle social do nosso povo, protegendo os de cima.
Temos um caminho longo a percorrer para quebrar essa falsa consciência. Mas podemos encurtá-lo se unirmos as forças dos movimentos contra a violência policial e o encarceramento com os sindicatos combativos.
A gestão de Tarcísio ainda está no começo. Vem mais sangue por aí. Mas não precisa ser o nosso.