Bolsonaro: Vacinação forjada pode ser só o início de esteira de escândalos
Esta quarta-feira, 3, amanheceu com as imagens da Polícia Federal cumprindo uma série de mandados de busca e apreensão na casa de Bolsonaro. Em se falando de um ex-presidente que contrariou tranquilamente dezenas de artigos do Código Penal, incluindo uma tentativa de golpe e o recente contrabando de joias milionárias, não deixa de ser irônico que a operação da PF ocorresse por conta da falsificação do cartão de vacinação.
Além da busca na casa de Bolsonaro e assessores, três ex-funcionários e seguranças foram presos, incluindo seu ex-ajudante de ordens, o Tenente-coronel Mauro Cid. No decorrer do dia foram aparecendo os detalhes da operação: Mauro Cid teria forjado registros de vacinação a fim de emitir carteiras falsas para Bolsonaro, sua filha, e dos próprios familiares. Isso a poucos dias de viajarem para os EUA.
Os erros encontrados nessa tentativa grosseira de falsificação mostram mais que a inépcia de Bolsonaro e seu entorno, mas a certeza absoluta da impunidade de suas delinquências. O registro da “vacinação” de Bolsonaro e da filha, por exemplo, foi inserido no sistema do Ministério da Saúde no dia 21 de dezembro do ano passado, e apagado no dia 27. As carteiras foram emitidas momentos antes do embarque a Flórida. Sem contar que o local da suposta vacinação foi Duque de Caxias (RJ), mais de 1.100 quilômetros de Brasília, onde o ex-presidente estava no momento. Toda a articulação para essa falsificação teria ainda sido realizada através do whatsapp, tudo devidamente registrado.
Os crimes que Bolsonaro e seus cúmplices podem incorrer vão de peculato eletrônico, infração de medida sanitária, falsidade ideológica até corrupção de menores.
Caldo pode entornar para Bolsonaro
Atordoado e chorando copiosamente em entrevista à emissora de ultradireita Jovem Pan, Bolsonaro parecia não estar preparado para enfrentar essa denúncia, em meio a tantas que já lidava. O mais interessante, porém, não é nem a falsificação das carteiras de vacinação em si, o que já seria motivo para jogá-lo na Papuda, mas o que pode ser descoberto a partir daí.
Mauro Cid, por exemplo, além de preso, teve apreendido 35 mil dólares e R$ 16 mil, em dinheiro vivo, escondidos em sua casa. De onde veio essa grana, e por que ele tentou esconder isso da polícia? Em conversas encontradas no celular de Cid, um ex-major do Exército, também preso na operação, diz com a maior naturalidade que sabe quem matou Marielle. Ou seja, a cada golpe de facão aparece uma minhoca, e os podres da familícia e seu entorno vão se revelando. O que mais pode aparecer no celular do genocida contrabandista? A depender da “desenvoltura” com que lida com seus crimes, podemos esperar muitas revelações nos próximos dias.
Nenhuma anistia a golpista e enfrentar a ultradireita
Ainda aturdido pela operação da PF, o bolsonarismo tentava construir uma narrativa para defender seu chefe. Uma que começou a se desenhar é que a ofensiva era um plano de Lula e Alexandre de Moraes em vingança à derrota sofrida com o PL das Fake News na Câmara dos Deputados no dia anterior. Em defesa de Lula, é preciso que se diga que o caso começou a ser investigado ainda nos estertores do governo Bolsonaro, a partir de uma denúncia à Controladoria-Geral da União, que passou o caso para a PF.
Qual vem sendo a política de Lula frente aos setores golpistas bolsonaristas? Embora no discurso o governo ataque a ultradireita, na prática, se omite a lutar até as últimas consequências contra eles. Isso ficou patente quando vazaram as imagens do general Gonçalves Dias, indicado por Lula ao comando no GSI (Gabinete de Segurança Institucional), andando tranquilamente entre os bolsonaristas que depredavam o Palácio do Planalto. Dias teve que pedir demissão, mas José Múcio, homem ligado ao bolsonarismo no interior das Forças Armadas, continua à frente do Ministério da Defesa.
Mais do que isso, enquanto ocorria a operação contra Bolsonaro, Lula anunciava um outro general para o GSI, escolhido para agradar e estreitar relações com a alta cúpula das Forças Armadas. Ou seja, ao invés de punir os altos oficiais ligados à extrema direita, e fazer uma devassa para tirar os golpistas e bolsonaristas, o presidente devolveu o GSI aos militares.
Isso ocorre porque um governo de aliança de classes, que atua junto à burguesia, os banqueiros e o agronegócio, é incapaz de enfrentar e derrotar a extrema direita. Sob o argumento de que não há correlação de forças, e que se deve buscar a conciliação para evitar o pior, reproduz-se o que está ocorrendo no Congresso Nacional, onde o PT tenta implementar um regime de austeridade em prol dos banqueiros. Aqui, essa política se traduz na busca pela conciliação, mesmo após tantos episódios que mostram a infestação de bolsonaristas na cúpula das Forças Armadas.
É mais uma comprovação de que só a ação independente da classe trabalhadora e sua mobilização é que se poderá devolver a ultradireita ao esgoto de onde nunca deveria ter saído, garantir nenhuma anistia a golpistas e investigação até o fim e punição a Bolsonaro e sua família.