Nas ruas! Derrotar as ameaças golpistas de Bolsonaro com mobilização e autodefesa, construindo uma saída independente dos trabalhadores
Nos dias 11 de agosto e 10 de setembro, vamos às ruas combater as ameaças golpistas de Bolsonaro. Defendemos a unidade na ação nas ruas e mobilizações com todos os setores que estejam pela defesa das liberdades democráticas e contrários à violência política da extrema-direita, assim como qualquer tentativa golpista de Bolsonaro. Mas a unidade na ação, nas manifestações em defesa das liberdades democráticas, não significa abdicar nem por um segundo da independência da classe trabalhadora, que não pode seguir a reboque de setores da burguesia e do imperialismo e, muito menos, avalizar a defesa do Estado capitalista, a “democracia dos ricos” e a superexploração dos trabalhadores.
A classe trabalhadora precisa entrar em ação, com independência de classe. Somente os trabalhadores organizados, mobilizados e com autodefesa podem derrotar até o final qualquer tipo de movimentação golpista. É nossa obrigação levar essa discussão para as assembleias de todas as categorias, defender a participação nas mobilizações de rua, explicar que a classe trabalhadora deve ser a vanguarda dessa luta e doporquê, apenas com independência política,é possível garantir até o final as liberdades democráticas. A unidade de ação que possa existir nas ruas com setores burgueses contrários a um golpe não pode nos levar a nenhuma aliança política ou confiança na patronal.
As entidades da classe trabalhadora devem estar à frente dessa luta. Serão os trabalhadores quem mais sofrerão as consequências de um golpe, com o fim da liberdade de expressão, da livre organização e do direito de greve.
Não é prudente descartar uma iniciativa golpista de Bolsonaro, ainda que não haja condições, hoje, de um golpe sair vitorioso e se consolidar. Tanto o imperialismo norte-americano na figura de Joe Biden, quanto os setores da burguesia aqui no Brasil não defendem o golpe. Além disso, a classe trabalhadora e a maioria do povo estão na oposição ao governo.
Mas Bolsonaro está desesperado com medo de ser preso ao perder o cargo.Ele pode insuflar uma agitação de suas bases, com forte presença de setores armados, para a violência política nas eleições e, em caso de derrota, tentar um golpe à lá Capitólio, copiando o que fez Trump nos EUA.
Prova disso é a sua tentativa de transformar o 7 de Setembro numa mistura de ameaça golpista e comício de campanha. Tenta transformar um desfile militar em seu apoio, e quer promover uma mobilização de seus apoiadores.
Por tudo isso, é preciso pautar nas assembleias de toda as categorias a discussão sobre o projeto autoritário de Bolsonaro e sobre a importância da construção de fortes mobilizações no dia 11 de agosto e 10 de setembro e da sua participação com independência política de classe.
Conciliação não é a saída
Os trabalhadores não podem assinar carta em defesa do Estado burguês
Houve grande repercussão a “carta pela democracia” organizada por professores da USP, que contou com a adesão da intelectualidade, do mundo jurídico e de uma parte grande do empresariado. Também está sendo lançada uma carta da Fiesp (Federação das Indústrias de São Paulo) eda Febraban (Federação dos banqueiros) juntando pesos pesados da burguesia brasileira.
A carta é assinada e apoiada por alguns setores burgueses que eram bolsonaristas até ontem,e por setores burgueses que hoje estão contra um golpe, mas que defendem a imposição de um novo patamar de exploração aos trabalhadores, garantindo e defendendo os lucros de suas grandes empresas.
Precisamos de unidade na ação, na rua e na luta, para derrotar as ameaças golpistas de Bolsonaro. Mas os trabalhadores não devem fazer isso confiando em um programa com a burguesia. É um erro as centrais sindicais aderirem a esta carta que tem o programa do empresariado que estão fazendo de tudo para retirar direitos trabalhistas, rebaixar salários e atacar os trabalhadores.
Apesar da carta ser daqueles setores burgueses que estão contra o golpe, pelos seus interesses capitalistas e pelo tamanho da crise do sistema, nada garante que amanhã não mudem de posição.
Hoje estão contra porque um golpe pode significar instabilidade e prejuízos. Se fosse o contrário, seriam eles os primeiros a bater continência ao tresloucado capitão, como de certa maneira fizeram em 2018. Não é possível confiar que defendam as liberdades democráticas até o final. Aliás, não ficam incomodados que o bolsonarismo siga existindo e possa ser uma carta na manga para enfrentar a luta da classe trabalhadora contra a crise social.
Somos contra qualquer fechamento de regime. Uma ditadura é muito pior do que uma democracia dos ricos para a organização e a luta dos trabalhadores. Por isso somos defensores incansáveis das liberdades democráticas. Mas não podemos compactuar com a mentira de que vivemos em uma “democracia para todos”, quando, na verdade, vivemos em uma democracia para os ricos.
Afirmar que a saída contra as ameaças de Bolsonaro é o “Estado Democrático de Direito”, que inclui a manutenção da propriedade capitalista, o sistema de exploração e opressão e o arranjo social atual, é se colocar em defesa do capitalismo. A carta até cita as desigualdades sociais que existem no Brasil. Mas acreditar que basta apoiar o regime político atual para que isso se resolva, não nos leva a lugar nenhum. Afinal, porque será que mais de 30 anos depois do fim da ditadura militar precisamos novamente lutar contra ameaças golpistas dos militares? Por que, depois de tanta luta do povo brasileiro, ainda permanecem as chagas do autoritarismo, da desigualdade social, da miséria e pobreza?
A resposta é que o capitalismo brasileiro se manteve intacto, e seguiu servindo aos lucros da burguesia, sem resolver os principais problemas do país, enquanto para o povo é fome, miséria, repressão e violência.
O PT defende que a classe trabalhadora capitule à burguesia e ao imperialismo. Saúdam a carta sem fazer críticas e ainda minimizam os perigos das ameaças golpistas. Lula disse confiar nas Forças Armadas, se tornando um fiador das instituições, do imperialismo e dos setores burgueses. Cumpre um papel não só desmobilizador, mas também é responsável por chamar os trabalhadores a confiarem cada vez mais na burguesia. Está buscando ampliar cada vez mais sua aliança com os ricos e poderosos, não só com Alckmin, mas buscando até mesmo bolsonaristas como Luciano Bivar. Foram obrigados a chamar as mobilizações, mas, ao dizer que a grande arma contra o golpismo é a eleição de Lula, escondem que a ultradireita infelizmente veio para ficar.
Fortalecer uma alternativa revolucionária e socialista
Contra Bolsonaro, a ultradireita e aqueles que se aliam aos ricos
A ultradireita é uma ala da burguesia mundial que não vê problemas em atacar o regime democrático burguês para impor um patamar superior de exploração, barbárie e opressão em nome da manutenção do sistema e dos seus lucros. São um fenômeno mundial, produto da crise que demonstram o nível de degradação alcançado pelo capitalismo.
Derrotar esta ultradireita é fundamental e o único caminho para isso é derrotar o sistema que a criou. O programa capaz de fazer isso, que se contrapõe a eles, não é o de amplas alianças com a burguesia, mas sim o programa socialista, operário e revolucionário.
Nesta batalha contra Bolsonaro é de vida ou morte para os trabalhadores fortalecer uma alternativa sua, de classe, com independência e que tenha um programa que ataque os interesses dos capitalistas. Sem isso nem derrotar a ultradireita de verdade é possível.
É errado apoiar Lula no primeiro turno justamente porque isso é sucumbir às alianças com a burguesia que impede e atrasa o avanço na consciência e na organização dos trabalhadores. O projeto de Lula e o PT terminará por fortalecer justamente a ultradireita. Vejamos o exemplo da Itália onde vem ganhando força novos agrupamentos da ultradireita depois de sucessivos governos de coalizão entre a ultradireita, a direita tradicional e um partido de esquerda.
Dominação
As diversas faces da burguesia imperialista
O governo Biden se posicionou contra as ameaças golpistas. Isso contribuiu para deslocar uma parte importante do empresariado brasileiro, que obedece a seus verdadeiros chefes, para uma posição abertamente contra o golpe.
Como a história prova, tanto os EUA quanto a burguesia brasileira não têm lá muito compromisso com democracia nenhuma. Afinal, ambos foram responsáveis pelo golpe de 1964.
Que neste momento o atual governo norte-americano esteja contra um golpe, ou contra acabar abertamente com as liberdades democráticas, diz mais sobre a falta de necessidade que vê para isso hoje, do que de fato um compromisso com as liberdades e direitos democráticos do povo. Não faria sentido queimar esta cartada, que pode ser usada ali na frente pelo imperialismo.
Aliás, o imperialismo tem várias caras, divisões e lutas entre os diferentes setores. Há a ultradireita na qual Trump ainda é sua maior expressão e que, mesmo após a derrota na eleição, continua tendo um papel importante na política do país. Basta vermos as recentes pesquisas eleitorais e a impopularidade de Biden.
Apesar das diferenças entre os governos imperialistas, ou seja, da forma de dominação em dado momento, fato é que a linha que separa a burguesia imperialista da reação democrática, ou reação autoritária, é bastante fina. E os interesses imperialistas continuam sendo explorar, oprimir e submeter os povos, mesmo quando, por força das circunstâncias, denunciam uma ameaça golpista reacionária como no caso de Bolsonaro.