LGBT

Não ao fechamento do Museu da Diversidade Sexual

Secretaria Nacional LGBT

4 de maio de 2022
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Foto: Governo de São Paulo / Divulgação

Debbie Leite, da Secretaria Nacional LGBTI

No último sábado, dia 30 de abril, o Museu da Diversidade Sexual de São Paulo estava de portas fechadas. Para esta data estava prevista a abertura da exposição “Duo Drag”, que contaria com fotografias e relatos pessoais de cinquenta Drag Queens paulistanas. Contudo, o MDS declarou que uma decisão judicial impossibilitou sua abertura.

Trata-se da resposta a uma ação movida pelo deputado estadual Gil Diniz (PL), também conhecido pelo apelido “Carteiro Reaça”, em oposição à verba pública destinada ao projeto de expansão do museu. A liminar da juíza Carmen Cristina Teijeiro alega como justificativa um questionamento à idoneidade do Instituto Odeon, que está na gestão do espaço. Porém, não há dúvidas que a real motivação é política: mais um exemplo de perseguição ao movimento LGBTI.

O deputado,  o que não surpreende, é apoiador declarado do presidente Jair Bolsonaro (PL), e segue sua política de cerceamento ideológico, em especial aos setores oprimidos. Esse setor da ultradireita jamais escondeu seu discurso de ódio, que contribui para o incentivo da violência LGBTIfóbica no país. Em especial, esbravejam contra iniciativas culturais-educativas voltadas ao setor, como a inclusão do debate de gênero e sexualidade nas escolas, ou, nesse caso, uma exposição artística gratuita em uma área da cidade tradicionalmente frequentada por LGBTIs, retratando Drag Queens.

É o mesmo setor conservador que, em 2017, coordenou ataques que levaram ao fechamento da exposição “Queermuseu”, e que aplaudiu quando Marcelo Crivella atacou a Bienal do Livro para tirar de circulação publicações com temática LGBTI.

O que se combina aqui é a LGBTIfobia, o desmonte da cultura, que atinge não só instituições voltadas especificamente aos setores oprimidos, mas levou por exemplo à falta de investimento e manutenção que colocou em chamas o Museu Nacional no Rio de Janeiro, e o autoritarismo, ao buscarem silenciar a força seus inimigos.

Chamamos todos os trabalhadores a se posicionar contra esse ataque – devemos defender a liberdade de expressão, a cultura e o movimento LGBTI! Exigimos a reversão imediata da decisão judicial e a reabertura do museu, com o repasse de verbas necessário para sua manutenção e expansão!

A quem interessa a perseguição às LGBTIs?

Em um vídeo em sua rede social[1], além de zombar de uma matéria expondo o fechamento do museu, o deputado bolsonarista busca gerar indignação com a verba que seria destinada à exposição. Ele diz que seu objetivo com esse tipo de ação é “defender do dinheiro do pagador de imposto”, que o governo do estado de SP “ao invés de investir em escola pública, segurança pública, hospital, tá investindo em mostra Drag.”

É uma clara tentativa de dividir a nossa classe, colocando trabalhadores cishétero[2] contra trabalhadores LGBTIs, culpando os setores oprimidos por gastos supérfluos do governo e pela falta de investimento em saúde e educação. Essa é uma das estratégias clássicas da classe dominante – no momento de maior crise econômica e social, busca bodes expiatórios para culpar pelos seus próprios ataques, ao mesmo tempo que tenta enfraquecer nossa luta ao nos dividir.

A hipocrisia desse discurso é gritante. Não diz nada sobre os bilhões que vão para os bolsos dos banqueiros todos os anos, por exemplo, com a dívida pública. Nada sobre os projetos privatistas, que transfere dinheiro público para empresas privadas de educação e saúde, ao invés de investir na pública.

Não são exposições de Drag Queens que ameaçam o trabalhador paulistano, é a aliança entre os governos e os empresários!
Investimentos na cultura e a liberdade de expressão para os setores oprimidos são interesses de todos os trabalhadores – precisamos nos unir para derrotar Bolsonaro e seus aliados! Os responsáveis pela violência LGBTIfóbica são os mesmos responsáveis pelo desemprego e pelos milhões de mortos pela pandemia!

Foto: Governo de São Paulo / Divulgação

O governo do PSDB também não nos serve

Apesar do governo de São Paulo ter destinado verba para o museu e alegado que tentará reverter a decisão judicial, temos que lembrar que também jamais foram aliados dos trabalhadores e jovens LGBTIs do estado. São eles quem fecharam os olhos para a violência LGBTIfóbica, inclusive pelas mãos de sua própria força policial, para as centenas de trans e travestis no desemprego ou em situação de rua.

O PSDB sabe bem quais são seus aliados: a burguesia, os empresários que lucram com a opressão e a exploração. Temos que saber, também, quais são os nossos.

Tomar a cultura e a luta contra a LGBTIfobia em nossas mãos

Se por um lado vemos uma política de discurso de ódio e ataques autoritários às LGBTIs e suas expressões artísticas e culturais, como por parte dos seguidores de Bolsonaro, por outro estamos cercados de hipocrisia: o governo de SP tentando se passar por defensor dos oprimidos, o PT prometendo que é o único que pode derrotar Bolsonaro – escondendo que o fundamentalismo que enfrentamos hoje cresceu sob seu governo, por exemplo quando nomeou o deputador federal Marco Feliciano (PL) para a Comissão de Direitos Humanos.

Os direitos como a cultura e a liberdade de expressão estarão sempre ameaçados, para todos os trabalhadores, e em especial seus setores oprimidos, enquanto vivermos sob um sistema que lucra com a exploração e a opressão. Podemos até ver avanços momentâneos, mas nos momentos de crise, tiram das escolas e museus para garantir para os banqueiros, atacam nossa possibilidade de ser quem somos para garantir sua estabilidade no poder. E, além de tudo, tentam nos jogar uns contra os outros, para enfraquecer nossa luta.

Para conquistar a liberdade plena de expressar nossa orientação sexual e identidade de gênero, sem sermos vítimas de violência e discriminação, inclusive através da arte, os setores oprimidos da classe trabalhadora só podem confiar em suas próprias forças. É por isso que defendemos a construção de um governo com democracia operária, ou seja, com a participação de todos os trabalhadores nas decisões essenciais para uma vida digna e igualitária rumo a um mundo sem opressão e exploração, uma sociedade socialista!

[1] https://twitter.com/carteiroreaca/status/1520181196197670912
[2] Termo significando aqueles que se identificam com o gênero de acordo com seu sexo biológico, e que sentem atração sexual exclusivamente pelo gênero oposto