Segue greve na Avibras e trabalhadores fortalecem mobilização e solidariedade
Trabalhadores da Avibras e suas famílias realizaram neste domingo (10) um almoço solidário em frente à fábrica, em Jacareí. O Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região, filiado à CSP-Conlutas, esteve junto com os trabalhadores na organização do encontro.
O almoço foi feito de forma coletiva, com doações, para chamar a atenção da sociedade, do poder público e da direção da fábrica para a situação dramática que 420 famílias estão vivendo desde o dia 18 de março, quando houve a demissão em massa.
De surpresa, pais e mães foram dispensados sem pagamento, convênio médico ou qualquer negociação prévia com o sindicato. Cerca de 1.000 pessoas, entre companheiros, companheiras e crianças, foram diretamente atingidas pelos cortes.
Entre elas está a família de E. S., que há quase seis anos trabalha como montadora de placas, equipamentos e cablagem na Avibras. Acompanhada dos filhos e do esposo, ela contou que foi demitida por telefone e telegrama.
“Foi um impacto, porque a gente já não tinha recebido adiantamento, já estava no sufoco, e de repente fico sabendo que estou desempregada. A minha renda é maior que a do meu marido, o convênio era meu, então isso acabou nos afetando muito”, conta E.
O companheiro dela, W. T., acompanha a esposa nas mobilizações para reaver o emprego. Ele diz que o apoio emocional é essencial nesse momento.
“A gente ficou triste, em choque. Só minha renda para cumprir todas as obrigações de casa não vai dar. Agora vou apoiar ela e os companheiros do trabalho da forma que eu puder. Já fui na assembleia no Sindicato e vou fazer meu papel”, afirma W.
Luta
Desde a demissão ilegal, o sindicato vem lutando ao lado dos trabalhadores para exigir da empresa o cancelamento das demissões, reivindicação que foi atendida pela Justiça do Trabalho no último dia 3 de abril, em caráter liminar.
Porém, a Avibras se nega até mesmo a cumprir a decisão judicial e até agora não reintegrou à fábrica os 420 metalúrgicos que haviam sido demitidos. A multa diária pelo descumprimento da ordem é de R$ 100 por trabalhador.
Diante disso, na quarta (6), o sindicato protocolou na 1ª Vara do Trabalho de Jacareí um comunicado de descumprimento de decisão judicial pela Avibras. A empresa enviou aos trabalhadores reintegrados duas mensagens referentes ao cálculo de verbas rescisórias, ambas depois da expedição da liminar que suspendeu os desligamentos. O sindicato também pediu à Justiça o aumento da multa diária.
A liminar da Justiça deu esperança a J. M., operador de produção há 7 anos na Avibras. Ele conta que ficou preocupado com a esposa e as duas filhas quando foi dispensado.
“Praticamente saímos com a mão abanando. A empresa deu 25% do vale pra gente e não liberou mais nada. Eu acho que a gente não deve abaixar a cabeça. Quem cometeu injustiça, quem tá errado é a empresa. Estou muito feliz com os resultados [da ação] e tenho esperança de que a gente vai sair vitorioso dessa luta”, diz J.
Mobilizações
Os trabalhadores da Avibras estão unidos em luta pelos empregos desde março. Juntos, eles já realizaram assembleias, passeatas, caravana a Brasília e greves. A última paralisação começou no dia 6 de abril e segue por tempo indeterminado.
M. S. é soldador há 8 anos na empresa e também foi dispensado por telegrama. Ele veio do Piauí para o estado de São Paulo em busca de melhor qualidade de vida.
“O impacto é muito grande. Devido a essa crise que estamos passando, por causa da pandemia, a gente contava muito com esse emprego. Espero que a Justiça continue do nosso lado, que a gente venha a sair vitorioso definitivamente e que a empresa cumpra seus deveres. Estamos aqui nesse acampamento, unidos, o Sindicato está dando uma grande força pra nós e esperamos que isso logo se resolva”, conta M.
Mesmo os trabalhadores que permaneceram na fábrica denunciam a Avibras por falta de pagamento de parte dos salários.
Avibras não está em crise
De acordo com estudo do Ilaese (Instituto Latino-americano de Estudos Socioeconômicos), a Avibras teve patrimônio líquido de mais de R$ 2 bilhões em 2021, o que representa 69% de seu patrimônio total. No Brasil, quase metade das empresas em recuperação judicial tem patrimônio líquido negativo.
O sindicato e também a CSP-Conlutas defendem a estatização da empresa. Durante o almoço, o presidente Weller Gonçalves chamou atenção para a incerteza das famílias.
“A angústia desses trabalhadores demitidos é a mesma angústia de seus familiares. Nesse sistema capitalista, ninguém trabalha porque gosta, a gente trabalha porque é uma necessidade. Quando a Avibras faz o que fez – demitir, não negociar com o Sindicato e sequer pagar as verbas rescisórias – a gente imagina a angústia que é viver nessa sociedade sem ter seu sustento, seu salário. A Avibras é uma empresa que, em dezembro do ano passado, pagou um abono de R$ 2,5 milhões para o presidente e o vice. O que o Sindicato tem a dizer para vocês é que nós estamos juntos nessa luta até o final”, disse Weller.