16 de fevereiro: Ir às ruas pelo fim da escala 6×1 e pela redução da jornada de trabalho
Dia nacional de luta foi aprovado em plenária nacional realizada no dia 25 de janeiro com a participação de mais de mil ativistas
A luta pelo fim da escala 6×1 e pela redução da jornada de trabalho deu um passo importante com a realização da 1ª Plenária Nacional, que ocorreu no sábado, 25 de janeiro. O evento, convocado pelo PSTU, pela CSP-Conlutas, pelo Coletivo Juventude Rebeldia e outras organizações políticas, teve a participação de mais de mil pessoas (500 pessoas no virtual, 180 presenciais e 370 no YouTube) e aprovou o dia 16 de fevereiro como o 3º Dia Nacional de Luta, com atos, panfletagens e ações em shoppings, supermercados e empresas de telemarketing como prioridade.
A plenária contou com intervenções de representantes das organizações políticas e de trabalhadores de diversas categorias e estados. O metalúrgico Luiz Carlos Prates, o Mancha, deu boas-vindas em nome da CSP-Conlutas, única central sindical a assumir a bandeira de luta pelo fim da escala 6×1, já que as demais centrais atuam como braço do governo Lula e da patronal, a exemplo do Sindicato dos Comerciários de Porto Alegre, filiado à Força Sindical, que assinou o acordo de jornada 10×1 na rede de supermercados Zaffari e entrou com ação na justiça contra o PSTU para impedir a realização de protestos nos supermercados.
“Reafirmamos o compromisso da CSP-Conlutas nesta mobilização que pretende ser ampla e democrática agregando operários, estudantes e movimentos sociais. A luta pelo fim da jornada 6×1 consegue concentrar toda a luta contra a precarização do trabalho e também contra a reforma trabalhista feita por Temer, que se mantém pela falta de revogação pelo governo Lula”, disse Mancha.
Unidade com independência de classe
As intervenções na plenária apontaram a necessidade de construir um calendário de lutas e buscar a unidade com outras organizações, entidades e movimentos, pois é necessário a compreensão de que a luta pelo fim da escala 6×1 deve ser uma luta de toda a classe trabalhadora. A precarização do trabalho, o desemprego, a flexibilização dos direitos trabalhistas impostos pela burguesia têm um só objetivo: rebaixar a condição de vida do conjunto da nossa classe.
Foram apontados exemplos de luta como as dos trabalhadores da PepsiCo, em São Paulo, que realizaram uma forte greve contra a escala de trabalho desumana de 6×1 e 6×2.
A operária Renata França, falando em nome do PSTU, ressaltou que os patrões impõem jornadas extensivas, ambientes de trabalho insalubres, ritmo de trabalho acelerado e salário de miséria: “São essas condições que a burguesia de todo o mundo quer impor aos trabalhadores. Aqui no Brasil o chefe dessa burguesia é o Lula. Por isso, não é possível confiar neste governo, que tenta conciliar os interesses da classe trabalhadora com os interesses da grande burguesia que lucram à nossa custa. Já são mais de dois anos de governo e nem um ponto sequer da reforma trabalhista foi revogado”.
Renata pontuou que a política do governo Lula é a defesa de que o acordado esteja acima do legislado. Isso permite que as centrais sindicais e sindicatos pelegos fechem acordos que obrigam os trabalhadores a terem uma jornada de trabalho de 10×1, como é o caso dos comerciários de Porto Alegre.
“O governo Lula não é um governo dos trabalhadores. Nossa luta tem que ser independente de todo e qualquer governo. Não podemos depositar as esperanças no governo Lula e nesse parlamento cheio de deputados reacionários. Nesse sentido, fazemos um debate fraterno com os camaradas do VAT [Vida Além do Trabalho], que têm legitimidade nessa luta. Mas o local de nossa batalha é aqui embaixo, nas ruas, nas fábricas, nos locais de trabalho, estudo e moradia. E não só subordinando a nossa luta ao parlamento. A aprovação tem que vir do calor das lutas, das ruas”, defendeu Renata.
“Temos que lutar pela pauta histórica da redução da jornada para que possamos trabalhar menos e gerar mais emprego. Para isso, temos que enfrentar os grandes capitalistas. Os donos das grandes redes de supermercados, das lojas, das fábricas e dos transportes. Toda essa luta tem que estar subordinada a uma luta maior. Não dá para continuar vivendo para trabalhar e trabalhando para viver. É necessário ter uma vida plena e livre. Isso só pode acontecer em uma sociedade socialista, sem exploradores e explorados”, finalizou.
View this post on Instagram
<MAT>
O papel da juventude na luta pelo fim da escala 6×1
A juventude tem cumprido um papel importante na luta pelo fim da escala 6×1, pois é o setor que hoje mais trabalha nessa jornada desumana em supermercados, lojas, telemarketing, farmácias. Levantamento realizado pela Lagom Data para a revista Carta Capital revelou que 82% dos trabalhadores do comércio e serviços em escala 6×1 ganham abaixo de dois salários mínimos por mês. O índice chega a 90% entre mulheres negras. Outra análise, realizada pelo Núcleo de Estudos Raciais do Insper a pedido do site Alma Preta, aponta que os trabalhadores negros são a maioria na escala 6×1.
A juventude não consegue conciliar a jornada de trabalho com os estudos e a convivência com a família. Tem ficado sem tempo para o descanso, tendo seu tempo consumido pelo trabalho. A necessidade de trabalhar é o principal motivo (41,7%) apontado pelos jovens brasileiros de 14 a 29 anos que abandonaram os estudos em 2023. A informação é da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Toda essa realidade apareceu nos depoimentos durante a 1ª Plenária Nacional. Um jovem, emocionado, disse que perdeu familiares e não pôde ir ao enterro, porque teve que trabalhar para garantir o sustento da família.
Um depoimento emocionante foi também da Valentina Robertson, imigrante, trabalhadora da escala 6×1, militante do Coletivo Rebeldia e do PSTU: “Eu sou do Chile, moro aqui há dois anos, sou imigrante, desde que cheguei aqui em São Paulo trabalho na escala 6×1. Pois é isso que é reservado para nós. Ninguém chega aqui ao Brasil como imigrante nas condições ideais, e sim no trabalho precarizado”.
Além da jornada desumana da escala 6×1, Valentina pontou sobre o trabalho doméstico: “O trabalho doméstico não pago é reservado às mulheres no capitalismo. Isso piora quando somado à escala 6×1. Lembro de chegar em casa onze horas da noite, depois de ficar uma hora e meia dentro do transporte público, chegar em casa e ter que cuidar do almoço do dia seguinte, tomar conta das tarefas do lar”.
“Agora conquistei uma vaga na USP, mas o curso que quero fazer só tem vaga no turno vespertino e noturno; eu trabalho até às nove horas da noite na escala 6×1. O que eu vou fazer? Isso mostra que a escala 6×1 é uma escravidão moderna. Esse é o futuro que o capitalismo oferta à juventude”, denunciou Valentina.
View this post on Instagram
Avante
Plenária Nacional aprova Carta Aberta
Como encaminhamento final, a 1ª Plenária Nacional pelo Fim da Escala 6×1 e pela Redução da Jornada de Trabalho aprovou uma carta aberta chamando a construir um calendário nacional de mobilização. O documento convoca todas as entidades sindicais e estudantis e os movimentos sociais a se incorporarem e construírem um grande plano de lutas.
A carta chama a construção do dia 16 de fevereiro como o 3º Dia Nacional pelo Fim da Escala 6×1 e pela Redução da Jornada, com atos, panfletagens, e mobilizações em todo o país, e chama o VAT a construir junto.
O documento também incorpora a luta pelo fim da escala 6×1 e pela redução da jornada de trabalho à mobilização do 8 de Março e do 1º de Maio, datas históricas de luta da classe trabalhadora.
Também foi aprovada a realização de plenárias regionais que construam encontros estaduais no fim do mês de março, convocadas a partir de organizações, entidades, oposições e independentes de cada região, bem como dos comitês locais.
Encaminhamentos
-Dia 16 de fevereiro: 3º Dia Nacional pelo Fim da Escala 6×1 e pela Redução da Jornada, com atos, panfletagens, e mobilizações em todo o país
-Chamado ao VAT (movimento Vida Além do Trabalho) a construir junto o dia nacional de luta
-Incorporação da luta pelo fim da escala 6×1 e pela redução da jornada de trabalho à mobilização para o 8 de Março e o 1º de Maio
-Realização de plenárias regionais que construam encontros estaduais no fim do mês de março