Pilares da resistência, mulheres palestinas são alvo prioritário no genocídio
“Ela continuou a me chutar e me bater. […] Eles estavam abusando de mim de todas as maneiras, física, emocionalmente e sexualmente.”
“As soldadas me ameaçaram com uma arma e me forçaram a me despir completamente. Depois, elas fizeram eu me abaixar e cutucaram todo o meu corpo com um dispositivo, incluindo minha área genital, meu reto e meus seios.”
Os dois relatos de mulheres palestinas, publicados respectivamente no Middle East Eye em fevereiro deste ano e no The New Arab em 7 de outubro último, são uma pequena mostra da brutal violência a que estão submetidas nos mais de 400 dias de genocídio em Gaza e historicamente na contínua Nakba – a catástrofe palestina cuja pedra fundamental é a formação do Estado de Israel em 15 de maio de 1948 sobre os corpos palestinos e os escombros de suas aldeias.
Neste 25 de novembro, Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra a Mulher, urge jogar luz sobre a violência colonial sionista, cujo alvo preferencial são mulheres e crianças. Este conjunto soma 70% dos martirizados no genocídio em Gaza – as mulheres compõem 26% desse percentual, ou pelo menos mais de 12 mil, número subestimado, já que há milhares sob os escombros.
Elas são alvo preferencial na busca sionista de “solução final” na contínua Nakba – ou seja, de extermínio do povo palestino. Como entorno da sociedade e agentes da produção e reprodução da vida, são as que mais sofrem diante da limpeza étnica, colonização, apartheid, genocídio.
Além de alvo das balas e bombas que seguem a cair sobre as cabeças palestinas em Gaza, a Organização Mundial da Saúde (OMS) revelou que 180 mães têm dado à luz todos os dias em meio ao genocídio. Com todos os hospitais na estreita faixa destruídos total ou parcialmente, quando há complicações e/ou necessitam de cesariana, são feitas sem anestesia. O número de abortos espontâneos saltou para assombrosos 300%.
Ademais, com as crianças na mira do Estado genocida de Israel – para eliminar o amanhã –, não raro têm seus filhos num dia e no seguinte embalam seus corpos sem vida ou recolhem o que restou de seus corpos despedaçados.
Mulheres e meninas têm ainda enfrentado a brutalidade nos cárceres israelenses, que alcança a todos os palestinos. O estupro é instrumental na contínua Nakba. Estima-se que cerca de 17 mil mulheres e meninas já passaram pelas odiosas prisões sionistas, em que a tortura é institucionalizada e, nesta busca de “solução final”, torna-se ainda mais horrenda.
As mulheres são despidas, humilhadas, agredidas física, psicológica e sexualmente, veem suas crianças e familiares serem torturados e assassinados na sua frente, morrer de fome, sede, doenças, infecções.
As mulheres palestinas sublimam o luto, a dor, porque não têm outra alternativa. Não há estresse pós-traumático – o trauma é um contínuo.
Assim como toda a sociedade, para elas, resistência não é uma escolha, é existência, sob constante ameaça de apagamento do mapa. Assim, com firmeza, persistência e resiliência (sumud) reinventam formas para aliviar o sofrimento, mesmo em condições inimagináveis. São os pilares da resistência.
São mulheres jovens como Roya, que tocam instrumentos e entretêm as crianças para distraí-las do terrível som das bombas genocidas sionistas que não param de ser lançadas; outras que prestam assistência psicológica para aliviar os traumas, enquanto lidam com suas próprias dor e perda, ao lado de organizações de mulheres que voltaram toda sua atuação em Gaza para um desafio gigantesco: tentar assegurar o mínimo de assistência quando falta tudo, de alimentos e água a medicamentos e absorventes.
As palestinas estão ainda entre os heroicos jornalistas que seguem a denunciar o próprio genocídio ao mundo. Inspiram-se no histórico protagonismo feminino na resistência, sob todos os meios, rumo à Palestina livre do rio ao mar, para que todas sejam livres. Pela eliminação da violência contra a mulher, em qualquer parte do mundo.
Publicado no Portal da LIT-QI