Nacional

Quem tem medo do fim da escala 6×1?

Todos às ruas neste 15 de novembro, pelo fim da escala 6x1, e a redução da jornada de trabalho sem redução dos salários

Renata França

12 de novembro de 2024
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No início dessa semana, a bancada do Partido Liberal (PL) “protestou” em sessão do Congresso Nacional contra a tramitação da PEC (Proposta de Emenda Constitucional) pelo fim da escala 6 x 1, lançada por iniciativa do movimento VAT – Vida Além do Trabalho e encampada pela deputada Erika Hilton (PSOL).

Contudo, o show de hipocrisia desses deputados que trabalham em escala 3 por 4 foi um tiro no pé! De imediato, os trabalhadores tomaram conta das redes sociais em apoio à extinção dessa escala desumana e tornaram o tema centro do debate nacional. Até o boçal Nikolas Ferreira foi massacrado pelos seus próprios seguidores nas redes por se opor ao projeto.

É hora de pôr fim à escravidão moderna

A luta pelo fim da escala 6×1 se massificou porque escancara a real situação da classe trabalhadora no Brasil. A maioria dos trabalhadores no país está ou já trabalhou nessa escala. Ela simboliza a precarização da juventude trabalhadora, que ora está desempregada ou na informalidade, ora é obrigada a encarar jornadas exaustivas e abusivas, como a escala 6×1, ou a escala 12×36, banco de horas, ou dois empregos em escalas intercaladas.

Ainda pior, é quando a folga semanal é permanentemente desrespeitada pela patronal, assim como as horas diárias de trabalho que com frequência extrapolam jornadas de 10, 12 horas ao dia, ou mais, se considerarmos o tempo de deslocamento nas grandes cidades.

Sem experiência e sem tempo para se qualificar, o jovem que entra no mercado de trabalho, já dilacerado pela reforma trabalhista, depara-se com uma verdadeira escravidão moderna, onde as alternativas são o emprego precário, com baixíssimos salários e jornadas abusivas.

Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado

Esse ciclo mantêm a juventude presa à precarização e sem qualquer perspectiva de futuro no mercado de trabalho e nem sentido na própria vida, marcada pela superexploração, assédio moral e humilhações no trabalho e sem tempo livre para vivenciar o lazer com amigos e familiares. Não à toa, vivemos uma epidemia silenciosa de doenças mentais, como ansiedade, pânico, burnout, que tem até levado trabalhadores ao suicídio.

Uma burguesia escravocrata num país decadente

À medida que a luta foi ganhando mais espaço, uma série de boatos invadiram as redes buscando confundir o debate. A economia vai quebrar? Empresas vão demitir ou fechar as portas? A inflação vai subir exorbitantemente?

Na verdade, a redução da jornada de trabalho, sem a redução de salários e direitos, pode inserir no mercado de trabalho milhões que estão no desemprego e na informalidade. Nesse cenário, passariam a dispor de mais tempo e recursos para consumir e movimentar a economia.

O que acontece é que os grandes capitalistas são o tipo de gente que só quer o “venha à nós e ao vosso reino nada”. Os capitalistas buscam a todo custo assimilar as novas tecnologias e formas de gestão, como a indústria 4.0, as terceirizações, quarteirizações, para explorar ainda mais os trabalhadores, e quebrar seus concorrentes. E querem sempre aumentar o seu lucro e acumular cada vez mais capital às custas de cada vez mais exploração.

Quanto mais tecnologia, deveriam diminuir as horas de trabalho, mas não, eles aumentam a jornada e diminuem os salários. É assim que alguns ficam bilionários às custas da exploração alheia, enquanto a maioria não consegue ter vida além do trabalho, quando tem trabalho. E, no fim dascontas, eles deixam todo mundo tão exausto e tão pobre, que acaba nem tendo pessoas para comprar o que é produzido. Então, são eles que causam as crises e quebram a economia, não a diminuição da jornada de trabalho e o aumento dos salários.

Todas as mudanças nas leis aprovadas pelo Congresso Nacional esse ano, como o arcabouço fiscal ou a desoneração da folha de pagamentos às grandes empresas, foram pagos com nossos impostos, ou seja, com a riqueza produzida pela classe trabalhadora. E a desoneração da folha não aumentou os empregos. O que tira o sono dessa burguesia agora é que quem pagará a conta dos novos empregos e aumento da massa salarial serão eles!

Se depender dos capitalistas, a classe trabalhadora trabalhará até morrer!

A mentalidade escravocrata desses senhores foi claramente expressa pelo picareta Marco Feliciano, que se opôs a convocar uma Audiência Pública em junho para debater democraticamente a proposta da PEC contra a escala 6×1 no Congresso. Na ocasião, ele alegou que o trabalho dignifica o homem, e disse que nas grandes economias do mundo a população trabalha até a exaustão!

Nada mais falso! O Brasil tem uma das maiores jornadas de trabalho do mundo. Em média, os trabalhadores europeus fazem 37,7 horas semanais. E claro, estamos falando da jornada de trabalho legal. As horas de trabalho reais do brasileiro aumentaram brutalmente nos últimos anos, com banco de horas, o trabalho intermitente e por aplicativos. A queda nos salários obriga muitos trabalhadores que estão empregados pela CLT a terem um bico ou outro emprego pra complementar sua renda.

Quando Lula declarou que os trabalhadores não querem mais a CLT, o fez para justificar a aprovação do PL dos motoristas de aplicativos, legalizando uma nova modalidade de trabalho ainda pior, que permite o regime de até 12 horas de trabalho aos motoristas de aplicativo!

Lula e o PT lavam as mãos! Patrão e empregado que se resolvam

O silêncio ensurdecedor do PT parece ter sido rompido somente depois que o líder do movimento VAT, e agora vereador do Rio de Janeiro, Rick Azevedo, cobrou em entrevista a UOL que a bancada do PT se posicionasse, uma vez que naquele momento a maioria dos deputados da Frente Ampla não havia assinado o pedido de tramitação da PEC.

O governo, refém dos acordos políticos com o centrão e dos compromissos com o empresariado, só veio a se posicionar na noite do dia 11 de novembro através da vergonhosa publicação em rede social de Luís Marinho, Ministro do Trabalho, que diz concordar com a jornada de 40 horas desde que seja negociada entre patrão e trabalhador, lavando as mãos em relação à proposta concreta de proibição da escala 6×1 e redução da jornada.

O posicionamento de Marinho não é nenhuma novidade, pois foi o próprio PT, em governos anteriores que aprovou o Acordo Coletivo Especial, abrindo margem para que o negociado prevaleça ao legislado. O que Luís Marinho, que conhece bem as negociações sindicais, não diz é que na prática, num acordo entre desiguais, a negociação com o patrão só pode resultar em algo abaixo do mínimo garantido pela CLT. Em dois anos de governo, Lula não revogou nenhum ponto da Reforma Trabalhista, conforme prometido em campanha.

Mas, se por um lado, o governo aplica com rigidez medidas para garantir o tal equilíbrio das contas públicas dentro das amarras do apelidado “calabouço fiscal”, em relação à redução da jornada de trabalho e o fim da escala 6×1, o presidente lava as mãos.

Vem pra luta pelo fim da escala 6 por 1!

Nós do PSTU nos somaremos ao chamado pela mobilização nacional no dia 15 de novembro. Não acreditamos neste Congresso que aprova medidas como o Arcabouço Fiscal, Reforma Tributária e desoneração da folha de pagamento das empresas, enquanto arrocha o seguro-desemprego e direitos do trabalhador.

A CUT, Força Sindical e as maiores centrais sindicais do país até agora não moveram seus esforços para construir essa luta. Já a CSP – Conlutas sempre esteve à disposição do movimento, pois sabe que essa luta só será vitoriosa se os movimentos sociais e sindicatos se unirem pela pauta que é de toda a classe, especialmente o setor mais precarizado.

Assine o abaixo-assinado em apoio à PEC e participe das mobilizações em cada cidade!

Assine aqui

É preciso ir às ruas, pois só a mobilização pode pressionar a tramitação da PEC que pede o fim dessa escala desumana. Mas é preciso ir além, exigir nas ruas um programa dos trabalhadores contra a superexploração, que proíba imediatamente a escala 6×1, garanta a redução da jornada e um conjunto de medidas para que os capitalistas paguem a conta.

Os lucros dos bilionários capitalistas não podem estar acima do bem-estar e vida dos trabalhadores

  • Pela proibição da escala 6×1 já! Mínimo de duas folgas na semana!
  • Redução da jornada de trabalho para 30 horas semanais, sem redução de salários e direitos, para que todos trabalhem!
  •  Que os capitalistas paguem a conta! Congelamento do preço dos alimentos e produtos de consumo básico!
  •  Revogação da reforma trabalhista, lei das terceirizações e PL dos aplicativos!
  •  Por emprego digno, salário justo e mais direitos, ampliar a CLT! Nenhum vínculo empregatício sem CLT e ir além! Direitos iguais para trabalho igual! Aumento geral dos salários rumo ao salário-mínimo que garanta alimentação, moradia e lazer para o trabalhador e sua família.
  •  Por uma sociedade socialista, onde a riqueza produzida pelos trabalhadores seja controlada democraticamente e colocada a serviço do desenvolvimento humano e da natureza!