Internacional

Mais de 600 cientistas russos lançam carta aberta contra invasão militar de Putin

Diego Cruz

25 de fevereiro de 2022
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Mikhail Gelfand.

O carniceiro do Putin é cada vez mais questionado em seu próprio país. Além de grandes manifestações realizadas em São Petersburgo e Moscou – todas elas brutalmente reprimidas – e protestos na Geórgia contra a invasão russa, mais de 600 cientistas russos lançaram uma Carta Aberta condenando os ataques. No documento eles dizem: “A responsabilidade de desencadear uma nova guerra na Europa recai inteiramente sobre a Rússia. Não há qualquer justificação racional para esta guerra. As tentativas de usar a situação em Donbass como pretexto para lançar uma operação militar não inspiram qualquer confiança. É evidente que a Ucrânia não representa uma ameaça para a segurança do nosso país. A guerra contra ela é injusta e francamente insensata”.

A iniciativa partiu de Mikhail Gelfand, bioinformático especialista em evolução molecular e genómica comparativa no Instituto de Ciência e Tecnologia de Skolkovo.

Leia aqui a carta aberta dos cientistas russos:

Nós, cientistas e jornalistas científicos russos, declaramos um forte protesto contra as hostilidades lançadas pelas forças armadas do nosso país no território da Ucrânia. Este passo fatal conduz a enormes perdas humanas e mina as fundações do sistema estabelecido de segurança internacional.

A responsabilidade de desencadear uma nova guerra na Europa recai inteiramente sobre a Rússia. Não há qualquer justificação racional para esta guerra. As tentativas de usar a situação em Donbass como pretexto para lançar uma operação militar não inspiram qualquer confiança. É evidente que a Ucrânia não representa uma ameaça para a segurança do nosso país. A guerra contra ela é injusta e francamente insensata.

A Ucrânia tem sido e continua a ser um país que nos é próximo. Muitos de nós temos familiares, amigos e colegas cientistas a viver na Ucrânia. Os nossos pais, avós e bisavós lutaram juntos contra o nazismo. Lançar uma guerra em nome das ambições geopolíticas da liderança da Federação Russa, movida por fantasias historiosóficas duvidosas, é uma traição cínica à sua memória.

Respeitamos a condição de Estado ucraniano, que assenta em instituições democráticas realmente funcionais. Tratamos com compreensão a escolha europeia dos nossos vizinhos. Estamos convencidos de que todos os problemas nas relações entre os nossos países podem ser resolvidos de forma pacífica.

Tendo desencadeado a guerra, a Rússia condenou-se ao isolamento internacional, à posição de um país pária. Isto significa que nós, cientistas, já não seremos capazes de fazer o nosso trabalho normalmente: afinal, conduzir investigação científica é impensável sem uma cooperação total com colegas de outros países. O isolamento da Rússia em relação ao mundo significa mais degradação cultural e tecnológica do nosso país, na ausência total de perspetivas positivas.

A guerra com a Ucrânia é um passo para lado nenhum. É doloroso para nós perceber que o nosso país, que deu um contributo decisivo para a vitória sobre o nazismo, tornou-se agora o instigador de uma nova guerra no continente europeu. Exigimos uma paragem imediata de todas as operações militares dirigidas contra a Ucrânia. Exigimos o respeito pela soberania e integridade territorial do Estado ucraniano. Exigimos a paz para os nossos países.