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31 cidades maranhenses inundadas e os culpados lavando a burra no Agrobalsas

PSTU-MA

15 de maio de 2024
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Imagem reprodução redes sociais

Uma semana antes da realização da maior feira do agronegócio do Maranhão, a Agrobalsas, e alguns dias depois da tragédia ambiental que devastou o Rio Grande do Sul, 31 municípios do Maranhão entravam em situação de emergência por causa das chuvas, sendo que, para o município de Santa Inês, foi decretado estado de calamidade pública.

Diante dessa situação, o governador Carlos Brandão (PSB/PCdoB /PT) tomou duas posturas dignas de repúdio. A primeira foi ir para as redes sociais vociferar que imagens das cidades alagadas que circulavam pela internet eram de 2023. Momentos depois, o porta-voz do Corpo de Bombeiros Militar do Maranhão afirmou que as informações eram verídicas. Informaram ainda, no dia 10, que 3.940 pessoas foram afetadas e uma pessoa morreu. Metade do município de Barreirinhas, a famosa cidade dos Lençóis Maranhenses, ficou debaixo d’água afetando 15 bairros e cerca de 450 famílias. O acesso à zona rural ficou comprometida. A lavradora, Dona Maria José, relatou que perdeu quase tudo: “Eu perdi uma cama, perdi um guarda-roupa, perdi um rack. A minha casa está cheia de lama”.

A Repórter Regina Sousa, da TV Mirante, afiliada da Globo, fez uma matéria diretamente da cidade de Barreirinha, mostrando toda a situação de desespero da população. A realidade desmentiu o governador.

Outra atitude digna de repúdio foi a ida de Carlos Brandão para o Agrobalsas, em vez de visitar os municípios em estados de alerta. Isso porque o agronegócio é, comprovadamente, um dos maiores responsáveis por esse tipo de tragédia, junto com o capitalismo global e os governos em suas três esferas.

Abertura do “Agrobalsas”

Numa rápida pesquisa, identificamos que pelos menos 7 das cidades em estado de emergência estão dentro do MATOPIBA, a nova fronteira agrícola que abrange os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia compreendendo 337 municípios em 31 microrregiões geográficas, somando cerca de 73 milhões de umhectares. Essa fronteira agrícola, aprovada em 2015 no governo Dilma Rousseff, entrega terras públicas e dos povos tradicionais do campo para o latifúndio, o agronegócio e grileiros, como se fosse a Coroa Portuguesa entregando as terras do Brasil colônia aos donatários. É a mais pura expressão da recolonização do Brasil.

80% dessas terras devastadas, em 2023, estão dentro da região do MATOPIBA. Das 52 cidades que mais devastam o cerrado, 50 estao nesta fronteira agrícola. Balsas, o município da farra do agro, ocupa a vergonhosa segunda posição. E neste espectro de devastação, o Maranhão foi o estado que mais desmatou o cerrado em 2023, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).

Ora, a agropecuária é responsável direta pela destruição da mata nativa que é o que ajudava a fazer a contenção das águas dos rios e das chuvas. Ao chover, as águas dos rios sobem e, sem essa contenção natural, as enchentes são inevitáveis. As queimadas são o método mais barato e mais rápido para o preparo do solo. E como, para os empresários da agropecuária, o que importa é o lucro a curto prazo, então dá-lhe queimada! Não é à toa que 75% dos gases do efeito estufa no Brasil são de responsabilidade direta da agropecuária.

E tudo isso pra quê? para produzir matéria-prima (soja, minério, eucalipto, algodão) para exportação no lugar do feijão, da mandioca, das verduras, hortaliças e outros produtos necessários para alimentar nossa gente. E essa burguesia cínica ainda tenta nos convencer de que a riqueza do nosso estado se mede pela riqueza deles. É como se um bilionário, ao entrar num restaurante, transformasse, automaticamente, todos daquele ambiente em bilionários. Só que a realidade é outra. O Maranhão que grita aos quatro cantos do mundo que é o 2° maior produtor de grãos do Nordeste é o mesmo que segura o troféu de campeão em pessoas na extrema pobreza.

O mesmo agro que não mata a fome, não gera emprego. Um estudo do Instituto Maranhense de Estudos Socioeconômicos e Cartográficos (IMESC) mostrou que, no mês de março deste ano, o Maranhão gerou 2.800 empregos formais, com o setor de Serviços à frente. A agropecuária ficou em último, não gerou nenhum emprego formal. Na verdade, destruiu 238.

Em 2020, auge da pandemia, um dos poucos setores da economia que não parou, foi a agropecuária. Baterem recordes de colheitas e na exportação de commodities. E, mesmo assim, destruíram 185.477 mil trabalhos. Além de negacionistas, mentirosos e gananciosos, são desumanos. É preciso muitas fake news, para convencer que esse setor predador é o salvador para nossas vidas, tal um umcomo Hitler foi para os judeus.

Mas, o caro leitor pode nos indagar: bom, mas essa não divulgação da situação que esses 31 municípios maranhenses se encontram, não é porque a tragédia do Rio Grande do Sul é infinitamente superior? Sim, mas essa é uma meia verdade. O poder econômico que o agronegócio exerce sobre os governos e os meios de comunicação não admitiria dar publicidade a uma situação dessa em meio a uma farra bilionária do agronegócio. Judiciário, executivo, legislativo e a grande imprensa estabeleceram um rígido pacto se silêncio até que a feira termine.

Em entrevista à TV Mirante, Paulo Kreling, presidente da Ação de Apoio à Pesquisa do Corredor de Exportação Norte (Fapcen) chegou a exaltar o “milagre do agro” feito pela burguesia gaúcha no Maranhão. Segundo ele, tal milagre foi “transformar uma terra improdutiva, que era o Cerrado maranhense (ousando chamar a caixa d’água do Brasil de improdutiva), em terra produtiva”.

O que ocorre é justamente o oposto disso. Ou seja, o setor econômico que ajudou a destruir o Rio Grande do Sul é o mesmo que, num colonialismo interno a serviço do imperialismo, está destruindo o cerrado e todos os biomas maranhenses. O santo milagreiro que vai gerar de 6,2 bilhões para os negócios na Agrobalsas é mesmo que destrói empregos formais, ajudou a devastar o Rio Grande do Sul e agora acendeu o sinal de alerta para os municípios maranhenses.

Se o MATOPIBA não for derrotado e o agronecio não for expropriado e colocado sob o controle dos trabalhadores, nossos sonhos e nossas vidas serão afogados nas águas barrentas do capitalismo.

Nossa solidariedade às vítimas da catástrofe ambiental do Rio Grande do Sul e dos municípios em estado de alerta no Maranhão!