Lutas

20 de dezembro: Mobilizações pelo fim da escala 6X1 denunciam o Natal que a TV não mostra!

Renata França

20 de dezembro de 2024
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Militância do PSTU na luta pelo fim da escala 6×1 em São Paulo

Atrás dos balcões até às 22 horas da véspera de Natal, nas fábricas que funcionam 24 horas por dia ou no transporte público, tentando chegar a tempo para ceia com a família: este é o Natal dos trabalhadores e trabalhadoras em escala 6X1 que a TV não mostra.

Nos últimos anos, os postos de trabalho que mais cresceram no país foram em empregos precários, que pagam entre um e dois salários mínimos, na sua maioria em escala 6 por 1. Ao mesmo tempo, a indústria brasileira foi degradada pelas privatizações e por políticas de incentivo ao agro e à exportação de commodities.

Com a Reforma Trabalhista de Temer, a Lei das Terceirizações, da Dilma, e os ataques de Bolsonaro, que se aproveitou da pandemia para passar a boiada, o país se tornou mais submisso aos países ricos, enquanto a classe trabalhadora está mais empobrecida e precarizada.

Lutar e tomar as ruas para barrar as jornadas abusivas

Segundo levantamento do Instituto Latino-Americano de Estudos Socioeconômicos (Ilaese), dois terços da população economicamente ativa está fora do mercado formal de trabalho. Ou seja, trabalhando parcialmente, ora em empregos temporários com escalas abusivas, ora desempregados ou na “informalidade”.

Não é à toa que a luta pelo fim da escala 6 por 1 ganhou tamanho apoio dos “de baixo”. É contra esse Brasil da superexploração e da desigualdade, em contradição com os lucros exorbitantes de um punhado de empresários bilionários, que os trabalhadores e trabalhadoras têm se revoltado.

Por isso, no dia 20, dando continuidade aos atos do último dia 15 de novembro, a exemplo da greve dos operários da PepsiCo (São Paulo), dos protestos contra as escalas abusivas nas redes de supermercados Zaffari (Rio Grande do Sul) e Grupo Mateus (Maranhão), realizaremos mobilizações nas ruas, nas aglomerações comerciais, nas portas de fábricas, no telemarketing e nas garagens de ônibus.

Zaffari não é um caso isolado

Reforma Trabalhista legalizou a superexploração

O caso da rede de supermercados Zaffari, denunciada por aplicar a escala 10 x 1, não é uma exceção (leia na contracapa). A Reforma Trabalhista permite que o acordado prevaleça acima da lei, possibilitando que sejam “negociadas” escalas piores do que a prevista na já rebaixada CLT.

Para impor seu projeto, as empresas se aproveitam de sindicatos pelegos, como o Sindicato dos Empregados no Comércio de Porto Alegre (Sindec-POA), filiado à Força Sindical, que assinou um acordo coletivo permitindo essa escala desumana no Zaffari.

Essa é a mesma proposta feita pelo Ministro do Trabalho Luís Marinho, que, assim como Lula, tira o corpo fora e defende que as empresas e trabalhadores sejam livres para negociar as jornadas. Grande enganação!

O Zaffari, por exemplo, não só vetou qualquer negociação, como também quis impor, pela coerção, através de uma liminar na Justiça, a proibição de protestos nas suas unidades, como o PSTU e outras organizações têm realizado.

Nenhuma confiança no Congresso! Independência de qualquer governo!

Nos bastidores do Congresso, já há a articulação de uma série de emendas à Proposta de Emenda Constitucional (PEC) sobre o tema, como a que propõe uma jornada “flexível”, defendida por Pablo Marçal (PRTB), ex-candidato à prefeitura de São Paulo.

Nesse modelo, cada um trabalharia a quantia de horas que quisesse. Ou melhor, que o patrão quiser, recebendo por hora, o que permitiria às empresas pagar menos que o salário mínimo.

Mas não é só a ultradireita, descaradamente antitrabalhador, que está criando armadilhas. O governo de Frente Ampla de Lula criou uma nova modalidade de trabalho autônomo, com o Projeto de Lei (PL) dos aplicativos, que legaliza uma jornada de até 12 horas.

Além disso, o governo federal também acabou de anunciar um pacote que passa o pente fino nos direitos dos mais pobres, restringindo o acesso ao Benefício de Prestação Continuada (BPC), ao auxílio doença, à Bolsa Família, dentre outros; enquanto faz vistas grossas para empresas que aplicam jornadas abusivas e ilegais.

Por isso, devemos combinar a luta pelo fim da escala 6 x 1 com a redução da jornada, sem redução de salários e sem corte de direitos. Também devemos exigir um plano dos trabalhadores, com a universalização dos direitos trabalhistas, da aposentadoria e da assistência social, uma política real de aumento do salário mínimo e a proteção aos pequenos comerciantes. Coisas que só serão possíveis caso Lula revogue a Reforma Trabalhista e o Arcabouço Fiscal.

Bota na conta do patrão

Que os capitalistas paguem a conta da redução da jornada de trabalho

Manifestação contra a jornada 6×1 no Rio de Janeiro

Os avanços tecnológicos, a robótica e os processos industriais possibilitaram um salto na produtividade em todo o mundo, criando condições para que trabalhemos muito menos. No entanto, a jornada de trabalho só aumenta e o ritmo de trabalho se intensifica.

Por que uns trabalham em escala abusivas, sem tempo para estudo, lazer, cultura, e outros amargam o desemprego?

Nada disso tem a ver com a preocupação dos capitalistas com a economia. Afinal, com a redução de 30% da jornada de trabalho no país, por exemplo, seria necessário contratar grande parte dos dois terços que estão fora do mercado formal de trabalho. Assim, o país arrecadaria muito mais com impostos, aumentaria o consumo e teríamos um salto no Produto Interno Bruto (PIB).

Contudo, essa é a essência irracional do capitalismo, um sistema em que a tecnologia avança e aumenta a produtividade, sem que isso gere qualquer melhoria de vida para a humanidade. Pelo contrário. Tudo isto ocorre à custa da elevação do grau de exploração, da quebra dos pequenos comerciantes e da degradação do ser humano e da natureza.

Por isso, uma necessidade tão imediata, a “vida além do trabalho”, só pode ser conquistada pela classe trabalhadora organizada e mobilizada nas ruas, sem se submeter ao calendário do Congresso Nacional e sem passar o pano para Frente Ampla no governo.